A educação patrimonial constitui-se de todos os processos educativos formais e não formais que têm como foco o patrimônio cultural que deve ser apropriado socialmente como recurso para a compreensão sócio-histórica das referências culturais em todas as suas expressões com o objetivo de colaborar para seu reconhecimento, sua valorização e preservação. Se desejamos viver em uma sociedade democrática que se destaca pela promoção da cidadania e dos direitos, a educação patrimonial, com certeza, será um elemento fundamental para a promoção das identidades e o sentimento de pertença, sem perder de vista aquilo que nos une a todos: nossa humanidade!
Desta forma, considera-se que os processos educativos devem primar pela construção coletiva e democrática do conhecimento, por meio da participação efetiva das comunidades detentoras e produtoras das referências culturais, onde convivem diversas noções de patrimônio cultural. É uma pena que os nossos sistemas de ensino não levam a sério, em seus currículos, a educação patrimonial das suas alunas e alunos. Esta deveria ser o ponto de partida para se trilhar a diversidade cultural e as mais diversas escolhas no mundo das artes. Tudo isso deveria começar dentro da escola. Ninguém nasce sabendo o que é patrimônio cultural e porque devemos defendê-lo. Aprende-se!
Foi a partir dessas preocupações que eu e o meu amigo Cordeiro de Sá apresentamos um projeto de educação patrimonial, quando a Secretaria Municipal de Cultural e Turismo lançou o edital EnCantos. Sabemos que os jovens das periferias de Ribeirão Preto circulam diariamente pelo centro da cidade e nunca puderam notar ou contemplar a beleza do patrimônio histórico e cultural que ali sobrevive. Por isso que o título que demos ao projeto foi “No Centro da História: visitas culturais e educativas dirigidas para a formação de público em defesa do patrimônio histórico, cultural e turístico local”. É urgente a formação de um público comprometido com a defesa do nosso patrimônio cultural. E a escola tem muito a ver com isso!
Este projeto está oferecendo a oportunidade para estudantes do ensino médio de seis escolas públicas visitarem o centro da cidade e terem contato, talvez pela primeira vez, com a riqueza cultural e artística do nosso centro. A Praça XV, por exemplo, é repleta de história e cultura. A visita guiada se estende do Quarteirão Paulista até o Palácio Rio Branco, passando pelas fachadas do edifício Diederichsen, da biblioteca Sinhá Junqueira, do casarão Camilo de Mattos, do MARP, pela Praça Carlos Gomes e sua galeria de mosaicos, visitando a antiga Casa de Câmara e Cadeia, atual Museu da Imagem e do Som. Em cada um desses pontos, revisitamos a nossa história, desfazendo ou esclarecendo alguns mitos ou meias verdades. Tem sido para todos esses estudantes uma oportunidade inédita não apenas de ampliar o seu conhecimento, mas indagarem, problematizarem e formarem sua própria opinião em torno da nossa história local e o que ela produziu em termos de patrimônio cultural.
Em um país culturalmente tão rico e diverso como o Brasil, democratizar o acesso ao que é reconhecido como patrimônio comum e torná-lo compreensível ao público jovem é, de fato, um investimento social. É com alegria e grande satisfação que reconhecemos que o objetivo desse projeto está sendo alcançado. Se os estudantes que estão dele participando forem, de fato, despertados pelo hábito e pelo gosto de produzirem e/ou consumirem cultura, já nos daremos por satisfeitos. Sabemos que este desafio é ambicioso, mas estamos certos de que ele pode ser um consistente passo nesta caminhada. Muitos professores e professoras já despertaram para essa necessidade urgente, mas clamam por mais apoio dos sistemas de ensino.