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Educação, cultura e a utopia de um Brasil melhor

No último texto abordamos os desgostos de agosto e agora que o malfadado mês se findou, precisamos fazer o necessário registro sobre o evento de dez dias que salvou o período. Trata-se da 20ª edição da Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto que, neste ano, foi toda online e conseguiu reunir 30 mil leitores de 27 países.

Por pedido de nossa presidente, Helena Agostinho, aceitamos a honra de representar a União dos Escritores Independentes de Ribeirão Preto na atividade realizada pela Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto, que possui uma competente diretoria formada por Dulce Neves, Adriana Silva, Edgar de Castro, Viviane Mendonça e uma equipe fantástica capaz de preparar uma programação rica, diversificada e atualíssima.

Foram 110 horas de muita informação, entretenimento, educação e cultura com um tema bem provocativo as “Velhas e Novas Utopias” que possibilitou reflexões aprofundadas sobre o momento presente, com análises do passado e projeções para o futuro.

Originária do grego “ou+topos” que significa “lugar que não existe”, a palavra utopia nos remete a um lugar ou estado ideal, de completa felicidade e harmonia sendo muitas vezes utilizada para uma descrição da sonhada sociedade perfeita, onde as leis são justas e as instituições político-econômicas estão direcionadas ao bem-estar de todos. Foi justamente isso que experimentamos naquele decêndio.

Crescemos acreditando que a utopia é uma ilusão ou um sonho inatin­gível, especialmente de um Brasil melhor. No passado recente chegamos a acreditar que estávamos próximos, mas agora recuamos tanto e voltamos conviver com desgoverno, corrupção, alta nos preços da energia, combus­tível, alimentos e a temívelcarestia. O consolo foi que ao ouvir o diverso e qualificado rol de personalidades que passaram pela Feira, percebemos que podemos avançar muito e transformar novas utopias em realidade.

Certa vez Conceição Evaristo disse “E pedimos que as balas perdidas percam o nosso rumo e não façam do corpo nosso, os nossos filhos, o alvo”. Um desejo muito necessário em tempos em que a juventude negra e periférica continua sendo massacrada, muitos passam fome e se incen­tiva trocar o feijão pelo fuzil. Neste contexto os escritores são deveras importantes, pois como cravou Mel Duarte “não escrevo pra matar a fome de multidões, mas espero que minhas palavras preencham um vazio que te ajude a se manter de pé”.

Atualíssima, a FIL aconteceu justamente na semana em que o STF iniciou o julgamento do chamado “marco temporal” nas demarcações de terras indígenas e certa feita um dos participantes, Daniel Mun­duruku disse que “O Brasil foi ‘inventado’ a partir das dores de suas mulheres e é importante não esquecermos esta história para podermos olhar de frente para nosso passado e aprendermos com ele. O Brasil pre­cisa se reconciliar com sua história; aceitar que foi ‘construído’ sobre um cemitério”. Prudente alerta para os que pregam a ruptura constitucional e institucional, além da violência e do divisionismo.

Nesse resgate histórico aproveito para lembrar o projeto “Desco­nhecidos e famosos afros brasileiros” de José Carlos Barbosa e, também reverenciar os colegas escritores e representantes das entidades locais, entre os quais, Cézar Augusto Batista, Rita Mourão, Odete Silva Dias, Fabio Itasi­ki, Waldomiro Waldevino Peixoto, Tanyse Galon, Nilcéia Dedemo, Luis Claudio S. Pereira, José Carlos Barbosa, Nelson Jacintho, Maris Ester A. Souza, Gilda Montans e Lilian Rodrigues de Oliveira Rosa.

Para encerrar recordo o homenageado Milton Santos cujas lições con­tinuam atualíssimas “Jamais houve na história um período em que o medo fosse tão generalizado e alcançasse todas as áreas da nossa vida: medo do de­semprego, medo da fome, medo da violência, medo do outro” e também “A força da alienação vem dessa fragilidade dos indivíduos, quando apenas conseguem identificar o que os separa e não o que os une”.

A educação e a cultura nos unem, assim, sigamos em frente com nossas antigas e novas utopias e a coragem para, apesar de tudo e de todos, continuar caminhando.

Ah, se você desejar assistir tudo o que rolou na FIL 2021, basta aces­sar o canal da Fundação em: https://www.youtube.com/user/FeiraDo
LivroRibeirao.

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