Há alguns anos atrás, numa recepção convocada para comemorar a classe médica, um dos presentes, conversando com uma senhora presente, recebeu dela um elogio extraordinário, segundo a qual os médicos representariam o ponto mais alto da sociedade.
O médico, em contraposição, esclareceu que não concordava com aquele juízo porque, segundo ele, se não existissem professores e professoras, não existiriam médicos e nenhuma outra profissão especializada ou não.
Imediatamente, a jovem senhora desculpou-se, acrescentando que era esta também a sua impressão mais profunda. Até aquela idade, toda vez que enfrentava um problema qualquer, grave ou não, surgia do fundo da sua memória a imagem de uma sua professora do curso primário para ajuda-la. Acrescentou que nunca mais havia tido notícia de sua professora que, até então, caminhava com ela pelos caminhos pedregosos.
O médico, com sua reconhecida experiência, orientou a sua interlocutora a encontrar-se novamente com a professora que teria servido, como ainda lhe serve, a emprestar sua imagem como bússola para sua navegação pelo planeta terra.
Em poucos dias a professora foi identificada. As duas recobraram a importância de sua perene amizade e o relevo dos primeiros passos. Emocionadamente.
O relato encontrou eco na edição do livro “Incubadora Cultural – 2020, e Agora”, lançado em Ribeirão Preto pelos mestres de todos nós Camilo André Mércio Xavier, Heloisa Martins Alves e Filomena Assolini, no qual se investiga, no campo da abstração pedagógica, os caminhos concretos do saber. Basta ver que num dos capítulos estuda-se “o conceito de intérprete-historicizado e a função-leitor do discurso” e a “possibilidade de formações imaginárias sobre o mundo e sobre si”.
Os textos trouxeram-me a divisão entre a filosofia cartesiana, segundo a qual Descartes e as visões modernas. A visão cartesiana revelava que a humanidade demonstrava a existência de uma entidade no interior de todos os seres humanos, uma substância espiritual portadora de propriedades psicológica, em contraste com a orientação empirista apontada por Wittgenstein, segundo a qual o mundo espelha-se na combinação das palavras que refletem a exterioridade das proposições existenciais: senão tenho o que falar, então me calo.
O livro do professor Edward Lopes, que também lecionou em Ribeirão Preto, reúne, confessadamente, as veredas que devam ser trilhadas para a busca da verdade por intermédio das palavras criadas pela vastíssima história da humanidade, unindo não apenas o passado com o futuro, como também ambos os pontos históricos com o presente.
Notável a história da nossa cidade como palco de um momento em que a educação se coloca numa posição ligada à essência da nossa convivência.
Primeiro porque, consabidamente, as nossas escolas afundam com o confessado despreza governamental. Para em seguida, o nosso saber torna-se invadido por variadas culturas estrangeiras que, consciente ou inconscientemente, destroem a nossa história e subjugam as nossas necessidades.
A crônica educacional de Ribeirão Preto com as duas obras referidas, demonstrando que a natureza da realidade depende em todos os degraus de reflexões sobre o processo educacional, mantendo na nossa alma a certeza de que as imagens de nossos primeiros e últimos professores, continuam vivas na nossa memória, resguardando as soluções do passado, como as invejáveis projeções do futuro.
Não podemos deixar de repetir os versos de Eliot, para que “os rios do passado e do futuro convergem vigorosamente para o presente”.