Capitaneado por Fernando Silva, um apaixonado por cinema, conhecido desde garoto por Kaxassa (entendam com quiserem), o Cauim quase não dava lucro. Mas quem estava preocupado com dinheiro? A moçada de 18, 19 anos queria mesmo era mudar o país. Só isso…
E a época ajudou. O país começava a se abrir para a transição democrática, o movimento Diretas Já chacoalhava o Brasil e o Cauim passa a ser também local de discussões políticas, palestras, debates, eventos. Além disso, as coisas aconteciam com a participação de personalidades do calibre de Ulisses Guimarães, Lula e Maluf (isso mesmo: cabiam todas as ideologias e todos os partidos. O importante era discutir).
Jornalistas como Fernando Moraes, artistas como Beth Mendes, intelectuais como Jorge Cunha Lima também participaram ativamente das atividades do Cineclube.
A ditadura acabou, o país e a cidade respiravam novos tempos.
Mas aí apareceu o Collor. E entre outras gracinhas, acabou com o Concine, que regulava os cineclubes, e com a Embrafilme, que produzia e distribuía os filmes no país. O moço estrangulou o cinema nacional. Restou aos integrantes do Cauim viver da produtora que tinham montado e com a qual sobreviviam produzindo campanhas políticas e comerciais, e de cursos ligados ao cinema.
Mas o pessoal não desistia. Com o tempo tornaram-se uma ONG, montaram uma Agência Cultural, patrocinando vários cursos, o Templo da Cidadania, a revista Terceiro Berro, o grupo social/teatral Ribeirão em Cena.
Através de leis de incentivo, alugaram o último cinema de rua de Ribeirão, o Bristol, com mil lugares, no centro da cidade. Jogo arriscado. Mas a ideia era voltar a popularizar o cinema, já que o pessoal da periferia não frequentava os cinemas de shoppings , entre outras coisas, por causa do preço.
Deu certinho. Depois de uma reforma básica através de empréstimos e apoio da iniciativa privada, inauguraram o cinema em 2004 com programação normal nos finais de semana a preços populares. Tarde da noite, sessões de cinema “ de arte” para os cinéfilos. Lotava.
O mais importante foi o Cauim ter resgatado um antigo projeto, A Escola vai ao Cinema. Através de licitações com a Secretaria Municipal (e mais tarde a Estadual) de Educação, o cineclube passou a levar durante a semana milhares de estudantes de pré-escola a ensino médio ao cinema. Chegaram a fazer seis sessões por dia, atendendo mais de 4 mil alunos diariamente. Apoiados por leis de incentivo, ganharam vários prêmios nacionais com o projeto, considerado a única iniciativa do gênero no mundo.
Além disso, ressuscitaram outros projetos, como o Ribeirão vai ao Cinema, o Cine Debate e o Cine Profissão, sempre seguidos de palestras e discussões, além de eventos musicais e encontros políticos.
O fôlego do Cauim foi posto mais uma vez à prova quando, a partir de 2010, a prefeitura cortou sua participação no projeto das escolas, e, segundo o grupo, boicotou sistematicamente suas iniciativas, por divergências políticas. Além disso, perderam também dois grandes patrocinadores- a Petrobrás e o Banco do Brasil.
A crise durou quase sete anos, mas o Cauim não ruiu. Tocou o projeto das escolas municipais com o apoio de empresas locais e nacionais através de Proac e Lei Rouanet e iniciou um projeto com o Procon- Educação para o Consumo. Aos poucos voltou com o Escola vai ao Cinema com a Secretaria Estadual de Educação, através de um contrato com FDE – Fundação para o Desenvolvimento para a Educação. Em 15 dias levou 9 mil alunos ao cinema. Tá bom ou querem mais?
Nesses 40 anos, o Cauim não realizou apenas um trabalho cultural e educacional transformador. O Cauim ganhou a simpatia e o apoio da cidade. Já é parte integrante do seu cenário. E mesmo apertadinho com as finanças, promete que vai continuar.
Acho que ninguém duvida.