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E Se

A parceria entre o maestro, cantor, compositor, pianis­ta e arranjador Francis Hime com Chico Buarque rendeu vários clássicos da música popular brasileira como Atrás da Porta, Meu Caro Amigo, Trocando em Miúdos e Vai Passar. Hoje recordo da música “E Se”, que traçava um paralelo entre coisas que seriam impossíveis de acontecer em 1980 e a conquista de um amor também impossível.

Daquela letra muitas coisas já se concretizaram: em 2021 o oceano incendiou no Golfo do México, devido ao vazamento em oleodutos submarinos; o Botafogo conquis­tou vários títulos, inclusive o Campeonato Brasileiro de 1995 e a Copa Conmebol de 1993; o ASA de Arapiraca foi várias vezes campeão em Alagoas, sem contar seu maior triunfo em 2002, quando eliminou o Palmeiras pela Copa do Brasil em pleno Parque Antarctica, além disso, agora ficou bem mais fácil encontrar delegados gentis.

Em 2022, outra coisa impossível aconteceu: o carnaval caiu em abril! Com a mudança da data dos desfiles das escolas de samba, São Paulo acompanhou o bicampeonato da Mancha Verde com “Planeta Água” que trouxe duas vertentes, uma da introdução da água nas várias religiões e outra da crise hídrica causada em grande parte pela temerária ação humana. No Rio de Janeiro, a Grande Rio foi campeã pela primeira vez com “Fala, Majeté! Sete chaves de Exu” onde procurou combater o preconceito de credo a uma das maiores entidades das religiões de matrizes africanas.

Sobre essa modalidade de preconceito, no último dia 18 a prefeitura carioca lançou uma bela iniciativa, a Cartilha Rio de Combate à Intolerância Religiosa onde detalha as práticas que configuram intolerância religiosa, as leis de combate ao crime e as formas de denunciá-lo. Problema recorrente e de âmbito nacional, somente na capital paulis­ta, em 2021 foram registradas 5.900 ocorrências, inclusive de invasão, destruição de imagens e instrumentos musicais e ameaças de morte. Foi-se o tempo onde na mala de um pastor você encontraria uma bíblia e não uma arma.

O que anteriormente parecia impossível continua acontecendo, mas o ser humano moderno recebe tudo com naturalidade e, aos poucos, perde a capacidade de se indignar. Assim muitos seguem aceitando a ação devas­tadora de garimpeiros que, além de destruir as reservas indígenas, foram capazes de estuprar até a morte uma menina Yanomâmi de 12 anos na comunidade Aracaçá, na área de Waikás, em Roraima; ficam passivos frente ao novo aumento dos combustíveis com a gasolina mais cara da história chegando até R$ 8,599; assistem calados ao torce­dor do Boca Juniors preso por imitar um macaco em plena Arena do Corinthians ser solto e continuar provocando.

Existem ainda, os que esperam que o presidente tam­bém conceda a graça ao pastor condenado pelo crime de homofobia que dizia orar pela morte do ator Paulo Gusta­vo por aversão odiosa à sua orientação sexual. São tantas notícias diárias que até fica difícil escolher apenas uma para analisar.

Enquanto isso, milhões de brasileiros esperam que outras impossibilidades descritas naquela canção se tornem realida­de como o dinheiro não faltar e voltar a ter bife no jantar.

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