Não há dúvidas que a pandemia da covid-19 escancarou uma série de comportamentos e ações desastrosos, mas também trouxe à tona a capacidade de reinventar-se, de trabalhar conectados, criatividade, baseados em valores e propósito relevantes.
Acredito que são nesses pontos que temos que centrar os esforços não apenas para cura da doença, mas também para quebrar as barreiras perversas que a doença nos trouxe, como a alta escalada do desemprego, a mortalidade de empresas, em especial dos pequenos negócios, a queda do Produto Interno Bruto (PIB) e o aumento exponencial da desigualdade social.
Os números indicam a importância de dedicar-nos às soluções dirigidas aos pequenos negócios, responsáveis por 54% da ocupação com carteira assinada e 30% do PIB. Segundo estudo do Sebrae, dos 17,7 milhões de micro e pequenas empresas, quase 13 milhões foram severamente impactados; destes, mais de 3 milhões já encerraram suas atividades ou estão prestes a fechar, por conta da dificuldade em honrar suas contas, gerando passivo de R$ 106 bilhões, e mais de 500 mil demissões.
Como estancar esse sangramento? Países como Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra optaram por garantir o fôlego desses empreendimentos, por meio de acesso a crédito fácil, simples e barato. Nos Estados Unidos foram injetados cerca de US$ 1 trilhão (quase 4,43% do PIB). Mais que o volume, a parcela de risco incorrido por credores privados é limitada a 5%.
Na Alemanha foram destinados 50 bilhões de euros para pequenas empresas e profissionais autônomos que, comprovadamente, tiveram perda de receita; o governo britânico optou por plano de empréstimos 100% garantido, entre £ 2.000 e 50.000, sem juros nos primeiros 12 meses.
No Brasil, temos 183 linhas de crédito vigentes, maioria operada por bancos e agências de fomento regionais e Oscips de microcrédito. No total, em pouco mais de 120 dias, foram liberados quase R$ 40 bilhões em cerca de 400 mil operações, sendo mais de 75% em socorro às micro e pequenas empresas.
É resultado positivo, mas ainda aquém da real necessidade desses empreendimentos. Estudo do Sebrae mostrou que, do total de pequenos negócios, menos da metade (46%) buscou financiamento; destes, 82% não conseguiram porque estão com CPF ou CNPJ negativados, têm dívidas no mercado, não têm garantias, entre outros motivos.
Momento que exige medidas excepcionais. É vital que as instituições financeiras tenham visão mais abrangente e cumpram seu papel social, não se fixando apenas no lucro, riscos e possíveis perdas, mas no propósito de construir o alicerce da retomada da economia, lastreada na força do empreendedor.
Queremos impulsionar estas iniciativas e inspirar ainda mais as instituições financeiras a cumprir seu papel social. O Sebrae participa do Fundo Garantidor de Operações (FGO), aportando recursos para linhas de crédito do Banco do Povo Paulista, do Desenvolve SP e do Juro Zero Empreendedor. Recentemente, lançamos o programa Retomada, que deverá atender na primeira fase, cerca de 3 mil microempreendedores individuais, micro e pequenas empresas e pequenos produtores rurais, com o total de R$ 50 milhões.
Todo o processo de solicitação do empréstimo é feito online, sem burocracia e sem exigências de bens ou imóveis como garantias. Quem estava negativado antes do início da pandemia, não é penalizado. O empresário que tem crédito aprovado é acompanhado pelos especialistas do Sebrae-SP. Operado por duas fintechs, já foram liberados R$ 15 milhões, para 900 empreendedores e outros R$ 27 milhões estão pré-aprovados. E estamos em busca de novos parceiros para tornar o fundo de recursos ainda mais robusto.
Assim como os dados que mostram o impacto da pandemia nos pequenos negócios nos alertam para os riscos de quebradeira, os resultados que conseguimos com a “vacina” linhas de crédito mais baratas, desburocratizadas e acessíveis indicam que é possível e viável vencer a corrida pela manutenção e fortalecimento de empresas e empregos. Não é uma equação simples, mas é totalmente factível; basta optar por construir.