O empresário do setor da construção civil o engenheiro civil, José Batista Ferreira, tem uma atuação ativa na discussão do desenvolvimento sustentável de Ribeirão Preto. Cinco vezes diretor do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) regional de Ribeirão Preto, desde fevereiro ele é o presidente e um dos fundadores da Associação das Incorporadoras, Loteadoras e Construtoras de Ribeirão Preto (Assilcon).
Criada em fevereiro e atualmente com 30 empresas associadas, a entidade tem como objetivo representar o setor, individual e coletivamente, além de lutar por melhorias econômicas e sociais na cidade e região. Em entrevista ao Tribuna o empresário falou sobre as metas da Assilcon e sobre desenvolvimento sustentável.
Tribuna Ribeirão – Qual o objetivo da Assilcon?
José Batista Ferreira – Promover a evolução do setor e discutir com os governos de tal forma que os empresários do setor tenham voz nas questões da cidade. Também temos como meta a formação e capacitação das empresas visando a evolução técnica, gestão das empesas e o bem da cidade. Queremos dar agilidade nas nossas ações locais e reunir melhores condições ao segmento, incentivando o debate por uma cidade melhor, prestando serviço aos associados e atuando junto aos poderes públicos nas esferas municipal, estadual e federal. Temos um importante manifesto que mostra nossa visão sobre o futuro da cidade.
Quais são os temas prioritários que a entidade pretende discutir?
O crescimento sustentável da cidade, em todos os aspectos, e a forma como o mesmo vem acontecendo, ressaltando itens como a questão física e principalmente infraestrutura básica da cidade. Outro tema é o Plano Diretor, suas intenções e como a construção civil está acompanhando questões relacionadas como a outorga onerosa e as contrapartidas, com as implicações e decorrências de tudo isso no atual momento do setor.
O que esse manifesto diz?
Questiona se a cidade está crescendo ou espichando. Essa questão pode ser analisada sob vários aspectos, como por exemplo, o da arrecadação ou se efetivamente esse crescimento tem sido feito de forma sustentável. Nas últimas três décadas, Ribeirão Preto tornou-se desequilibrada nesse aspecto e um dos motivos foi o advento dos grandes assentamentos. São mais de noventa e isso acabou gerando um descontrole na oferta dos serviços públicos. Só para exemplificar: Franca não tem nenhuma favela e lá a pirâmide social é mais achatada. A pergunta é: – por que lá elas não existem e em Ribeirão Preto têm tantas? Ao longo do tempo o Executivo e o Legislativo não discutiram e nem planejaram a cidade de forma sustentável.
O manifesto questiona isso?
O manifesto questiona que a cidade precisa crescer com infraestrutura básica planejada. Com um sistema de rede de esgoto que contemple cem por cento da população, desde a coleta, o transporte até o tratamento dos resíduos produzidos, além de planejar, projetar antecipadamente onde irá crescer. Questiona que a drenagem urbana precisa ser eficiente, a questão do suprimento e reservação de água, que o sistema viário seja bem planejado e que a questão dos resíduos sólidos seja definitivamente resolvida. Não adianta pensar no crescimento da cidade sem considerar estes fundamentos constitucionais.
Como fazer isso na prática já que, por exemplo, os assentamentos urbanos aumentam?
Ribeirão Preto tem um poder de atração muito grande por suas condições físicas e geográficas. Em minha opinião, as questões de carência dos equipamentos públicos e a regularização fundiária é a solução dos assentamentos, por exemplo, muita coisa é atribuída como responsabilidade para a construção civil e os empresários têm que pagar a conta. Precisamos analisar a demanda do crescimento da cidade de forma mais global e não pontual considerando inclusive, a disponibilidade do município em garantir os serviços públicos no mesmo ritmo que a cidade cresce.
Está em discussão a questão da outorga onerosa, que vai onerar o setor de forma muito injusta se implantada como está sendo apresentada em audiências públicas. Os empresários entendem que a outorga não é adequada como instrumento de urbanização, especialmente em Ribeirão Preto, como se pretende aplicar, sendo mais um mecanismo de arrecadação, além dos diversos que já existem, inclusive a recente contrapartida criada.
Entendemos que o coeficiente 1 de aproveitamento do terreno previsto no Plano Diretor foi um erro, pois, ao aplicar outorga para edificar um prédio com adensamento maior, por exemplo de coeficiente 5, o construtor terá que pagar altos valores para viabilizar o prédio. Isso significa que se um terreno tiver três mil metros quadrados o empreendedor só poderá construir o correspondente a esta metragem. Se ele fizer um prédio de dez andares, por exemplo, terá que pagar pelo que exceder a área do terreno. Em se adotando isso, como o governo quer, o setor será prejudicado. É preciso discutir mudanças como esta, com todos os setores envolvidos e com mais tempo.
Em sua opinião as leis complementares ao Plano Diretor precisam ser mais debatidas antes de serem aprovadas e sancionadas?
O governo assumiu o compromisso de apresentar as leis no prazo máximo de dois anos. Como a cidade tem um Plano Diretor com mais de vinte e três anos, essas discussões precisam ser muito bem planejadas para que no futuro não tenhamos problemas estruturais. Existem muito fatores que precisam ser discutidos e em nossa opinião esse tempo é pequeno. Setores como o da construção civil querem colaborar de forma efetiva para o futuro da cidade.
O setor tem sentado com o governo para fazer essa discussão?
Temos participado destas discussões e das audiências públicas. No passado, várias regiões da cidade foram mudando de destinação do uso e sendo destruídas em relação ao projeto inicial por leis casuísticas que os desfiguraram. Um exemplo disso são os bairros Alto da Boa Vista e Boulevard, que no passado eram residenciais e por leis específicas foram se transformando em comerciais e expulsando seus moradores. Agora, como consertar isso, já que a infraestrutura do local não foi planejada para receber um adensamento populacional maior e tantos empreendimentos comerciais, e edificar prédios? Resolver de forma efetiva problemas do passado como esses exigem uma ampla discussão.
Como planejar Ribeirão Preto de forma efetiva?
Em 2017 já afirmávamos que a cidade estava espichando em vez de crescer. As leis sempre foram discricionárias e difíceis de serem interpretadas. Reconhecemos que o atual governo tem feito um esforço grande para mudar isso. Porém, a complexidade dessa mudança é grande para o tempo proposto. Ribeirão Preto é uma metrópole e sede de uma Região Metropolitana e precisa ser exemplo para as outras cidades. Tem que discutir os problemas e as soluções para ter um desenvolvimento sustentável e permanente de forma regional e não mais de maneira individualizada.