Tribuna Ribeirão
Saúde

É possível viver mais e melhor

J.F.PIMENTA/ESPECIAL PARA O TRIBUNA

Expectativa de vida do bra­sileiro vem crescendo ano a ano. No final de 2018 o Instituto Bra­sileiro de Geografia e Estatística – IBGE divulgou que essa expec­tativa no homem é de 72 anos e três meses e na mulher 79 anos e quatro meses. Outro dado inte­ressante é que, em 2015, os ido­sos representavam 11,7% da po­pulação. Em 2030 serão 18,6%, segundo o IBGE, e em 2050, serão 31% da população, ou seja, aproximadamente 67 milhões. Junto com o aumento na previ­são de viver mais, vem outro de­safio: o de viver com qualidade de vida. E nesse quesito existem inúmeros exemplos que podem ser observados ou seguidos.

Gabriel Romão Teixeira Neto tem 104 anos e leva uma vida ativa. Todos os dias, com exceção aos domingos, ele vai bem cedo para a Praça XV de Novembro, no Centro, em Ri­beirão Preto, para se encontrar com outros amigos, onde fica até pouco antes da hora do al­moço. “Ficamos jogando con­versa fora. Rimos e conversamos muito. Isso faz bem”, diz. Ele es­banja saúde. Não tem sintomas de doença. Diabetes, hiperten­são ou qualquer outro problema do tipo não fazem parte da vida dele. “Tomo um remédio para dor e um para um probleminha que surgiu na perna. Nunca tive problemas sérios de saúde, só os corriqueiros”, brinca. À tarde, ele curte a casa dele e gosta de fazer palavras cruzadas.

Dançarino centenário: Uma das diversões de Gabriel Romão Teixeira Neto (104) anos é dan­çar. Aqui, com a filha Joana

Dançarino centenário
Outra diversão de Gabriel é dançar. Ele frequenta quinzenal o Clube da Velha Guarda onde baila durante toda a noite. Além de dançar, toma uma pequena dose de whisky.

“Primeiro creio que seja Deus que me dá muita saúde. Depois, sempre levei uma vida sem cometer excessos. Nunca exagerei na bebida ou na comi­da. Sempre trabalhei bastante também”, fala. “Me dediquei à minha família, à minha ex-espo­sa e aos meus filhos. Uma vida feliz, além de gostar de viajar muito” completa.

Além da vida regrada, a ge­nética pode ser outra explicação à longevidade de Gabriel. Ele tem três filhos: Dirceu, de 75 anos, Joana, 71 anos, e Luís de 68 anos. Todos também esbanjan­do saúde e vitalidade.

Joana é companheira de dança do pai. “A gente se encon­tra todos os dias. Conversamos muito. Tenho muito orgulho do meu pai. Também gosto de dan­çar e vou com ele aos bailes”, diz. “Quando reunimos, eu, meu pai e meus irmãos é uma festa boa. Fazemos um sarau, ele conta as histórias e nos divertimos. Claro que bebemos, todos nós, uma cervejinha ou uma dosinha. Mas meu pai acompanha viu, não vai dormir enquanto não acabar”, finaliza.

Eduardo e as 79 maratonas
Correr 5km ou 10km já não é tranquilo para a muita gen­te. Fazer uma meia maratona (21km) é desafiador para tantas outras pessoas, agora correr 42 km é para poucos. Mas Eduardo de Almeida Junior, de 73 anos, fará em abril, sua 80ª maratona. Sempre destilando alegria. “Não corro pra ganhar. Nunca ganhei uma prova, nem na minha ca­tegoria de idade. Corro pra me divertir e por saúde”, fala.

Eduardo conta que encon­trou nas corridas uma forma de sair do sedentarismo. “Traba­lhava no setor público. Em uma instituição financeira e vi que pessoas ao meu lado estavam enfartando e tendo sérios pro­blemas de saúde. Procurei o mé­dico e ele me alertou: ou muda ou terá os mesmos caminhos dos companheiros de trabalho. Mudei”, brinca.

Eduardo de Almeida Junior, o Educafé em busca de mais uma maratona, a sua 80ª . Ele (o primeiro à esquerda) ao lado dos amigos da ARPAM – Associação Ribeirãopretana de Atletismo Máster e no detalhe, ao completar mais uma maratona

Resolveu correr e a participar de provas de corrida de rua. É figura carimbada e querida nas corridas da região. “Até recente­mente participava de todas, to­dos os fins de semana. Hoje dei uma diminuída”, revela. Mas a maratona é a prova querida. Ele fez a primeira aos 53 anos. Já são 79 concluídas. Em abril, na capi­tal paulista, quer completar a sua 80ª. Para isso treina quatro vezes por semana.

Além de treinar, Eduardo também tem outra tarefa. Ele é defensor do meio ambiente e gosta de cuidar de um sítio que tem em Brodowski. Vai cuidar das terras e plantar três vezes por semana. Passa o dia inteiro tra­balhando sozinho. Outra tarefa é ir com frequência à cafeteria do genro, no Mercadão Central da cidade, onde ajuda. “Aqui vão ter que me pagar para eu não vir mais. É onde os amigos vêm me visitar e converso com as pesso­as. Me distrai”, ri.


Sobre ser inspiração às ou­tras pessoas, Eduardo é enfático. “Não sou exemplo para nin­guém. Mas procuro incentivar para coisas boas, seja para cor­rida, para o meio ambiente. A gente quer ver as outras pessoas bem”, finaliza.

Dona Yvone, aos 92 anos, não abre mão da cervejinha
Dona Yvone Morando Pas­sos leva uma vida normal: traba­lha em casa com uma rotina diária e se diverte lendo livros e assistin­do filmes legendados sem o uso dos óculos. Todos os dias toma uma dose de whisky ou vodka. “Aos sábados, gosto de tomar uma cervejinha”, brinca, a sim­pática senhorinha de 92 anos.

Dona Yvone ao lado da professora Miriane. A senhora de 92 anos não abre mão da academia e da cervejinha

Para manter esse pique, ela se cuida. Há cinco anos faz ativi­dades físicas semanais no Studio F3 – Corpo Inteligente, acade­mia que frequenta duas vezes por semana com exercícios fun­cionais de força, mobilidade e resistência. “Trabalhamos com esses exercícios de força, flexibi­lidade e coordenação para que ela possa ter qualidade de vida e desempenhar suas funções diárias. Ela limpa casa, estende roupas no varal, cozinha… En­tão aplicamos exercícios que possam oferecer uma funciona­lidade”, explica Miriane Godoy, profissional de Educação Física que atende Dona Yvone.

“Ah, eu faço isso mesmo. Não paro”, completa a senho­rinha, ao afirmar que realmen­te leva uma rotina diária e que seus 92 anos não são limitadores muito menos para as atividades físicas. “Eu ajudo em casa. De­pois gosto de fazer palavras cru­zadas, ler bons livros. Durmo cedo e acordo cedo”, diz.

Aroldo Costa Neto, pro­fissional de educação física e especialista na área, explica a importância de pessoas acima dos 40 anos praticarem exer­cícios físicos com orientação e programação específica. “Todos nós passaremos pelo processo fisiológico denominado sarco­penia, que é a redução do con­teúdo muscular com o avanço da idade. Basta imaginar idosos sedentários e limitados com seus braços e pernas quase sem mús­culos. Esse evento limita grada­tivamente as funções do corpo humano, pois diminui a força e consequentemente o ato de ir e vir, que interfere diretamente sobre o condicionamento físico, reduzindo a autonomia e até a vontade de sair de casa”.

Sobre dona Yvone, Arol­do comenta que ela é uma das “meninas” mais animadas da academia. “Se todos os homens e mulheres descobrissem o exer­cício físico como elemento de transformação da situação atual e reprogramação da vida, assim como a dona Yvone já inseriu em seu corpo, teríamos quedas drásticas nos números de fraturas em idosos, diabetes, hipertensão e doenças cardíacas causadas pela falta de força e condicionamento físico”, finaliza.

Programa incentiva idosos
O Programa de Interação Comunitária (PIC) que comple­tou 25 anos é uma alternativa e opção para as pessoas acima dos 60 anos saírem do sedentarismo.

O PIC foi criado em 1993 para promover a saúde do ido­so, com atividades físicas e con­fraternizações comunitárias. O programa foi implantado após um estudo de doutorado feito com idosos da Vila Tibério.

“É importante para a saúde dos usuários, pois torna a popu­lação mais ativa, saudável e inte­grante na sociedade. Muitos já me falaram que como o progra­ma trouxe mais energia e quali­dade de vida, eles deixaram de tomar tantos remédios e ir tanto ao médico” diz o coordenador, Paulo Picolo.

O programa é feito por meio de aulas ministradas por professores de educação física, de segunda a sexta, em praças, centros comunitários, igrejas e escolas. Atualmente o PIC é ativo em 57 núcleos da cidade, contemplando mais de duas mil pessoas idosas.

Anna Apparecida Ribas Pra­tes, de 80 anos é uma delas. Dona Nita, como é conhecida, conhe­ceu o PIC por acaso, em 1999. Ela caminhava e ia encontrar a filha na Cava do Bosque quando viu as atividades. Se interessou e não parou mais. Hoje participa das aulas na Vila Albertina.
Dona Nita demonstra orgulho ao representar a cidade e conquis­tar títulos nos JORI – Jogos Regio­nais dos Idosos. Ela é campeã no vôlei adaptado. “Eu incentivo às pessoas a participarem a faze­rem alguma atividade, pois isso é muito bom para a nossa saúde. Eu me sinto forte e saudável. Isso é muito importante”, finaliza.

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