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E o menino passarinho voou!

Luiz Vieira foi cantar no palco de cima, assim escreveu Guto Teixeira, meu amigo de São Joaquim da Barra. Já meu fu­turo parceiro, poeta, advogado e mestre em Direito Luiz Carlos Augusto Gama versou: “Luiz Vieira, o menino passarinho voou num parto de ternura, meu!!!” Só nessa escrita do Gama, vejo três das mais belas composições do trovador Luiz Vieira.

Nas inúmeras serenatas que fiz, “Menino passarinho”, “Paz do meu amor” e “Menino do Braçanã” eram cantorias obriga­tórias e Gama pinçou delas estas frases geniais. Em cantorias nas casas de amigos, cantava também “Guarãnia da lua nova”, em que o poeta compara a saudade com gosto de jiló verdi­nho, plantado na lua nova.

Conversei com vários amigos que na época, de alguma ma­neira, sabiam algo sobre o trovador. Descobri que o compositor deu de frequentar Ribeirão Preto, tanto que meu querido amigo radialista e ex-vereador, Sebastião Xavier e o também vereador Sydnei Zucoloto, aprovaram o título de Cidadão Ribeirão-preta­no pra ele. A entrega foi no Teatro Municipal, no dia 19 de junho de 1987. No título estava escrito: “Para Luiz Vieira, cantor, com­positor, trovador, poeta e seresteiro”. Luiz Vieira ficará eternamen­te lembrado na história da nossa cidade, por ser o autor da letra e música “Cantiga pra Ribeirão”.

Xavier contou que Luiz Vieira, ao agradecer o título com o teatro lotado, disse que esteve aqui várias vezes por estar paquerando uma jovem que conheceu num baile de for­mandos de uma faculdade. Ele fazia parte de um grupo que organizava este tipo de festa no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasil afora. Depois respirou fundo e continuou: “Lindalva foi minha grande paixão, assim fiz muitas serenatas para ela aprendendo também a apreciar os encantos da cidade”.

Falou ainda que certa noite foi levado pelos amigos lá para as bandas dos Campos Elíseos, onde funcionava as casas das coma­dres, ele falava e ria muito porque cantou pra elas até o sol raiar. Palavras de Luiz Vieira. Revisitando a gaveta de sua memória, Xavier disse que o compositor começou a rascunhar os primei­ros versos de “Cantiga pra Ribeirão” na praça XV de Novembro, perto do relógio, depois foram pra choperia Varanda.

O trovador estava inspirado aquela noite, e tomando cho­pe com amigos, viu que numa mesa próxima estudantes feste­javam alguma coisa com alegria contagiante. A cena foi o que ele precisava para continuar a escrever, ali mesmo terminou a letra da música. Se você que conhece a música, pode perceber na letra esta cena que acabo de escrever.

Como muitos boêmios que conheci, ele era um homem de muitas paixões, muitos amores, hospedava-se num hotel que ficava no primeiro quarteirão da rua General Osório, sempre acompanhado do violonista pernambucano Epaminondas, e passou a frequentar nossa noite. Não demorou muito, entur­mou-se com velhos boêmios, fãs e amantes de suas composi­ções. Não precisava mais nada, nossas noites passaram a ser enfeitadas com belíssimas canções ao luar na voz de um dos maiores compositores que nosso país conheceu.

Obrigado, poeta, pelo presente “Cantiga pra Ribeirão”. E como disse meu amigo Gama, “vá num parto de ternura, nas asas de um menino passarinho…” Eu até o vejo cantando: “É tarde, já vou indo, eu preciso ir embora, até amanhã, mamãe quando eu saí disse, meu filho não demore no Braçanã…”

Sexta conto mais.

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