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E Madalena não é Madalena

Uma prosa que eu gosto é falar sobre música. Aí sim, eu deito e rolo. Faz algum tempo, no programa “Sr. Brasil”, da TV Cultura, comandado pelo meu amigo Rolando Boldrin, a jornalista e cantora Rosane Queiroz falou sobre seu livro “Musas e músicas”, em que narra algumas histórias de canções com nome de mulher, algumas bem interessantes. Para concluir a pesquisa, levou um tempão entrevistando os compositores e suas fontes de inspiração.

Comprei o livro e me deliciei com algumas revelações que vieram enriquecer meu repertório de causos e histórias. Quero aproveitar o tema pra contar sobre uma tática desenvolvida pelo saudoso Elias Jabur. Advogado e vereador em Jardinópolis, também era um compositor de muito talento e tinha como parceiro o também advogado José Carlos Nasser. Ambos participavam de festivais de música pelo Brasil afora, sempre beliscando prêmios, e suas composições foram gravadas até pela cantora Fafá de Belém.

Antes de se casar, Elias Jabur era muito assediado pelas meninas, pois era boa pinta, tocava violão, cantava e fazia versos românticos. Compunha canções para suas namoradas – eram muitas – e para cada nova conquista lá ia o Elias compor uma nova música, chegando ao ponto de lhe faltar material para novos versos. Foi quando decidiu fazer uma música só para seus futuros romances. Para isso, teve uma sacada genial, de mudar o nome da garota de lugar.

Ao colocar o nome do novo amor no começo do verso, ficava com os demais versos livres para rimas permanentes, só trocava os nomes das moças. Ele contava e ria muito, pois era só pintar um novo amor que a canção estava pronta, e a musa na maior felicidade (rsrsrsrs).

Voltando a Rosane Queiroz, conto hoje uma história que, quando li, adorei. Descobri pra quem foi escrita a letra da música “Madalena”. Mais ainda, a musa da canção de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza não se chama Madalena.

Esta obra musical dos dois foi enriquecida com a voz e a magistral interpretação de Elis Regina. Conta a jornalista que o compositor Ronaldo Monteiro de Souza estava na maior fossa por ter terminado um namoro de três anos. A moça, uma carioca de Copacabana, chamada Vera Regina. A jornalista teve o maior trabalho rastreando o paradeiro dela e a investigação de uma semana deu com os burros n’água, pois ela, bem casada segundo seu primo, preferiu deixar as coisas como estavam.

Madalena foi o primeiro nome que veio na cabeça de Ronaldo quando, chateado, sentou-se à mesa no Bar Cabral 1500, em Copacabana. O mar estava revolto de tal forma que jogava suas águas na Avenida Atlântica, quebrando as ondas bem perto da calçada. Olhando aquela cena, surgiu a ideia de que “o mar era uma gota, comparado ao pranto meu”.

Passou a mão num guardanapo, pediu uma caneta pro garçom e tascou a letra na hora. Estava tão focado escrevendo seus versos que nem percebeu o garçom de pé esperando que ele pedisse a bebida, e o garçom jamais poderia imaginar que, naquele momento, com sua caneta, estava sendo escrita uma das mais tocadas músicas brasileiras de todos os tempos, “Madalena”, já que Ronaldo não teve coragem de escrever Vera Regina.

E em entrevista para a jornalista, Ronaldo disse que, anos depois de fazer tal letra, Vera Regina ficou sabendo ser ela a musa de “Madalena”. O compositor afirmou que não sabia como a verdade chegou até ela, talvez por amigos comuns. Hoje, ele bem casado com Soraya, diz que sua inspiração agora é outra.
Sexta, conto mais.

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