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É comovente como os nossos vereadores defendem as crianças e suas famílias

A história, quando não é absorvida e entendida pelo seu povo, está sempre voltando, com ingredientes novos e mais cruéis. Em nosso Brasil, a educação básica de qualidade e para todos nunca chegou às camadas pobres da população. Projetos educacionais como a Escola Nova, Escola Parque e os Centros Integrados de Educação Pública foram combatidos e massacrados pela Igreja Católica e pela elite retrógrada – tudo porque se vislumbrou um novo caminho para a educação brasileira. Mas, como a maioria não conhece a história de seu País, as mazelas se repetem.

Os movimentos feministas do século passado, que lutaram por igualdade entre homens e mulheres, e as revoltas das juventudes pelo mundo pedindo mais liberdade e autonomia não conseguiram sepultar o sectarismo e a intolerância, que apenas estavam adormecidos esperando o momento propício para sair das suas catacumbas e trazer as trevas de volta. E, como a educação básica brasileira nunca conseguiu se livrar da gangorra que sempre viveu, cujos interesses dos educandos estão sempre na parte de baixo e, para completar os seus sofrimentos, os movimentos fundamentalistas, defensores da “moral e os bons costumes”, escorados pela maioria dos vereadores, querem impingir as trevas sobre as nossas crianças.

A rede pública municipal enfrenta, não é de hoje, sérios problemas estruturais, de gestão e no aprendizado dos nossos educandos, mas estes tipos de problemas não interessam aos nossos nobres edis. A Constituição, a LDBEN e os Parâmetros Curriculares e outras leis afins que regem a educação básica brasileira estão sendo atacados por pseudos moralistas, que querem com legislações municipais modificar leis federais. Desconhecem a hierarquização que há entre as leis brasileiras. Mas isso não incomoda nossos nobres vereadores. Estes senhores não deveriam ignorar a legislação – deveriam saber que não podem revogar ou modificar uma lei federal; podem, sim, amplia-la.

No passado recente, os dinossauros achavam que as crianças chegavam às escolas vazias de conhecimentos, e isso não era verdade, e essa mentalidade ultrapassada que vê a educação repressora do passado como exemplo é um obstáculo para o crescimento. É só olhar para o nosso desenvolvimento tecnológico e humano, para ver o quanto estamos atrasados. Para piorar a situação, o fundamentalismo religioso quer dar o tom na educação básica brasileira.

A dicotomia existente atualmente na educação básica pública não permite que possamos percorrer novos caminhos. De um lado, o modelo educacional ultrapassado, que ainda prioriza a repetência, com modelos de salas de aulas do século 19 causando muitos sofrimentos em nossas crianças; do outro, as novas tecnologias da informática que a meninada domina com facilidade, mas são proibidas dentro das escolas. E, nesse contexto, os retrógrados acham que proibindo que as informações sobre a vida sexual cheguem ao chão da escola vai proteger seus filhos, mas esquecem de que eles podem obter as informações que quiserem fora das escolas e, muitas vezes, com prejuízos para a sua formação.

A preocupação que aparentam ter com as famílias e as crianças deveria estar sendo materializada na luta para que a Secretaria da Educação cumpra as leis para melhorar a educação. O MEC tornou obrigatórias, a partir de 2011, aulas de música em todas as redes de educação, mas, em Ribeirão Preto, isso não aconteceu até agora, pois uma educação sem arte é trôpega. Outra é a educação ambiental, que se fala muito na atualidade, mas que não chega às salas de aulas – talvez porque isso não interesse que as nossas crianças aprendam.

E a situação só está piorando. Até agora, os uniformes não foram entregues, mas existe um oportunista vendendo uniformes nas portas das escolas, com a logomarca da Prefeitura, e ninguém tomou providências – disseram que encaminharam o caso para o Departamento Jurídico, só que um aparato de viaturas da Guarda Municipal foi deslocado no Centro da cidade para apreender o equipamento de uma senhora que vendia churros na porta de uma escola – será que há algum interesse escuso? E, para completar, a Secretaria da Saúde determinou a desativação dos consultórios odontológicos, que funcionam nas escolas da rede municipal de educação. E aí, senhores vereadoes?

É muito triste ver a maioria de nosso Legislativo ignorar o que acontece nas escolas. Os programas de educação sexual são ministrados por pessoal habilitado, ligado à Secretaria da Saúde. Mas, esse programa não consegue ter espaço nas escolas da rede municipal, só encontra guarida na rede estadual. E esse programa ajudou a diminuir a gravidez na adolescência, entre 10 e 19 anos, em 50% em 18 anos. Mas, isso não interessa; o que interessa é combater esse programa como se fosse pornografia. Eu quero um pouco de luz!

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