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E a palhaçada continua

Nas efemérides da semana, 27 de março está marcado como o Dia do Circo, justa homenagem ao ribeirão-pretano Abelardo Pinto (1897-1973), o palhaço Piolin. Também uma oportunidade para reverenciar Benjamin de Oliveira (1870-1954), um artista completo reconhecido como o primeiro palhaço negro do Brasil, que também era ator, dramaturgo e dono de circo.

Lugar de magia e encanto, o Circo nos proporciona sensações e vivên­cias inesquecíveis em um universo de cores e luzes onde aventura e alegria se intercalam em um entretenimento familiar. Durante muitos anos ele foi a maior expressão cultural do país visitando todos os rincões levando, além da música e da dança, diversas outras manifestações artísticas.

Com o passar do tempo os circos sofreram importantes alterações, entre as quais a proibição da utilização de animais e adaptações foram necessárias para manter o interesse do público. Outra mudança inte­ressante foi que, geralmente formado por familiares, aos poucos foram surgindo escolas de circo possibilitando que os fãs aprendam e desen­volvam habilidades passando a integrar a categoria de artistas circenses.

Muito se falou e escreveu sobre o circo, mas a música de Antonio Marcos – Sonhos de um Palhaço – trouxe uma frase interessante “Ah, o mundo sempre foi um circo sem igual onde todos represen­tam bem ou mal”. Neste convite para reflexão indaguemos: quem realmente somos no circo da vida? Podemos ser o equilibrista, equi­librando as diversas contas diante de um salário reduzido; o engoli­dor de espadas, engolindo a seco todos os problemas cotidianos; o trapezista se equilibrando na corda bamba do mercado de trabalho; o ilusionista tentando tornar a cruel realidade em algo agradável; a contorcionista fugindo do assédio no transporte público lotado ou o halterofilista que carrega o mundo nas contas.

De toda a trupe o palhaço é o mais emblemático, sendo a repre­sentação máxima do circo. Quando está fazendo sua maquiagem, durante alguns instantes o artista olha fixamente para o espelho e consegue enxergar e projetar outra pessoa. Aos poucos ele prepara a pele, retirando a oleosidade, depois utiliza pancakes, corretivos, sombras, lápis, batom e o tradicional nariz. Ao final coloca as roupas coloridas e os grandes sapatos característicos. Ali nasceu outro ser, um personagem que se esquece de todos os problemas e agruras e se transforma em agente do riso, da alegria e da esperança.

Palhaço também pode ser um adjetivo pejorativo comumente usado para ofender alguém, seria um bobo, alguém que pode ser agredido, enganado, que ouve todos os tipos de chacota, mantendo sempre o sorriso. Nesse sentido, muitas vezes somos feitos de pa­lhaços, seja na escola, no ambiente de trabalho, em uma negociação comercial ou relacionamento social. É uma sensação horrível.

Enquanto os verdadeiros artistas circenses tentam sobreviver ao longo período sem espetáculos públicos outros personagens continuam fazendo suas estripulias. Contrariando ao presidente Fernando Henrique Cardoso que em fevereiro de 1995 disse “Nem o presidente nem os ministros são acrobatas de circo para fazer pi­ruetas, receber aplausos e desaparecer nos bastidores”, nesta semana o circo está armado no ministério da educação com denúncias que começaram com tráfico de influência e chegaram até pedidos de propinas em dinheiro, barras de ouro e bíblias.

Para completar o cenário, quatro partidos políticos já procura­ram “O mendigo de Brasília” tentando lançá-lo como candidato a Deputado Distrital. Nada contra a pessoa do morador em situação de rua que, aliás, possuiu uma interessante eloquência em suas entrevistas, mas sim pelo oportunismo eleitoral daqueles que já lançaram um famoso palhaço para puxar votos para sua legenda. Enquanto a palhaçada continua, está cada vez mais difícil assistir a esse deprimente circo de horrores políticos e econômicos. Definiti­vamente eles não merecem nosso sorriso ou nosso aplauso.

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