Recluso há anos e sem deixar de compor, mas foi ficando esquecido. Inúmeros estudos para violão, uma infinidade de notas que resgatam a mais bela época da música popular brasileira. Há quem pense que um artista desaparece quando para de trabalhar. Não é o caso. Geraldo Vespar continua escrevendo sua própria história com um violão a tiracolo.
O imenso zelo pelas partituras fez com que este compositor de 81 anos jamais as liberasse para gravação. Um encontro com o violonista Paulo Martelli, nos Estados Unidos, fez com que isso fosse repensado e agora o mestre será homenageado em disco e concerto em Ribeirão Preto.
A apresentação será nesta sexta-feira, 11 de outubro, véspera do feriado de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. O concerto está marcado para começar às 21 horas, no Teatro Minaz, na rua Carlos Chagas nº 273, Jardim Paulista, na Zona Leste da cidade, e tem capacidade para 266 pessoas.
A entrada é franca, mas com retirada de ingressos com uma hora de antecedência. O espetáculo é livre.
Vespar é um importante instrumentista, arranjador e compositor brasileiro, tendo estudado na Escola de Música da Universidade do Rio de Janeiro, na Barklee School of Music de Boston e na Manhattan School of Music em Nova York. No início da década de1950 ingressou na carreira artística na Rádio Anhanguera, em Goiânia, acompanhando calouros.
Tocava guitarra em boates entre 1959 e 1963 e no ano seguinte entrou para o Conjunto de Moacir Silva. Fez parte de importantes orquestras pelo mundo, como a Astor, a da TV Excelsior, a de Paul Mauriat (1925-2006) e a de Orlando Silva de Oliveira Costa, o Maestro Cipó (1922-1992). Fez turnês com a Grand Orchestre pela França, Países Baixos, Coréia, Grã-Bretanha e Japão. Sua primeira gravação em um disco de historietas infantis foi ao lado de Radamés Gnattalli (1906-1988).
Vespar, usando um recurso de propaganda da época, apresentava-se com diferentes pseudônimos e chegou a assinar discos como Delano e como Gerard. Com o primeiro, o álbum Copacabana e com o segundo, o LP I Love Paris. De volta com o seu nome de batismo gravou Take Five e Samba, Nova Geração, com este recebeu o prêmio revelação O Guarani.
Outros importantes álbuns fazem parte de sua história, além da trilha sonora do filme Mineirinho, vivo ou morto. Gravou com Beth Carvalho (1946-2019), Elizeth Cardoso (1920-1990), Clara Nunes (1942-1983) e convivia com os grandes nomes da bossa nova. Fez turnê com Elza Soares no México e nos Estados Unidos.
Toda essa história foi fechada dentro de um apartamento no Rio de Janeiro durante anos. Vespar adoeceu e foi se recuperando, mas continuou recluso e notando suas obras. Desde a década de 60 ele trabalha nas partituras que serão registradas por Paulo Martelli.
O experiente violonista acaba de gravar um álbum com 20 faixas, que são estudos que traduzem a linguagem da música popular brasileira para violão por Geraldo Vespar. O maior especialista em Johann Sebastian Bach (1685-1750) violão de 11 cordas, foi totalmente seduzido pela obra do amigo e deu espaço em seus concertos eruditos para contemplar a música popular brasileira de Vespar, entre sambas e bossas.
Paulo Martelli fazia seu mestrado na Juilliard School of Music quando conheceu Geraldo Vespar, qua realizava sua doutorada na Manhattan School of Music nos anos 90. Martelli convenceu Vespar a permitir a gravação de seus “Estudos Populares Brasileiros” e já no ano de 2000, em um CD intitulado “Roots”, dois destes estudos foram lançados.
O CD “Roots”, lançado por um selo americano, recebeu duas edições no exterior, mas nunca foi lançado no Brasil. Vinte anos depois o reencontro resultou em um trabalho fundamental para a música no mundo, o CD “20 Estudos Populares Brasileiros para Violão”, de Martelli. O lançamento será feito com um concerto no Teatro Minaz, em Ribeirão Preto, realizado via Programa de Ação Cultural (ProAC).
Com o selo GuitarCoop, o álbum traz um conjunto de obras nacionalistas, e partituras inéditas, explorando ritmos, melodias e harmonias da MPB e da bossa nova. “A perda de um dos maiores representantes da Bossa Nova ainda é muito recente e trazer um trabalho com esse cunho, da música que referenda o Brasil para o mundo, é mais importante do que nunca”, conta Martelli, lembrando o falecimento de João Gilberto (1931-2019). “A obra do Vespar são poemas e fotografias de uma das melhores e mais intensas épocas da música brasileira”, completa