Tantas são as curvas e os declives pelos quais derrapa a narrativa dos fatos, quer sejam verdadeiros, quer sejam falsos, que a linguagem revelada pelas letras ou pelos números, estampa com dificuldade os sinais definidos no deserto durante a caminhada iniciada pela humanidade.
O extraordinário professor Edvard Lopes, no seu livro “Fundamentos da Linguagem Contemporânea” seguiu os passos para identificar a relação do significado desses sinais que se classificam em “sintáticos”, “semânticos” e “pragmáticos”.
A relação de um sinal com outro sinal denomina-se relação sintática, como por exemplo, “doze meses”. A relação existente entre um sinal com o seu objeto chama-se relação semântica: “Sinal de trânsito”. A relação dos sinais com o seu remetente e o destinatário chama-se pragmática: “Maria é dentista”.
Na vastidão do Império Romano, frente à necessidade de se dividir 100 por trinta, o matemático era empurrado para o fundo de um verdadeiro abismo ao lidar com a conversão das letras convertidas em números.
Quando os árabes invadiram a Europa, introduziram o sistema decimal regido especialmente pelo zero. Mas quanto o zero reflete? Reflete todos os números, que não são letras. Portanto o número cem não se escreve pela palavra “cem”, mas pelo 1 seguido por dois zeros: 100. E assim por diante. Os europeus substituíram a sua linguagem alfabética pelo sistema decimal usado até hoje por nós. Todos os números podem ser gerados pela combinação de um (1) a nove (9), seguido por zero (0). Por maior que possa ser, ensinavam os árabes.
Os árabes revelaram ainda que haviam conhecido o sistema decimal na Índia.
Acrescentaram que o número zero foi tirado da palavra “zéfiro”, que em todo o mundo significa o sopro de um vento levíssimo.
Mas não só os árabes alteraram a linguagem estampada em letras e em números. Os romanos já haviam feito experiência neste sentido. O seu calendário tinha no passado apenas dez meses, razão pela qual o último chamava-se “dezembro”. O nono chamava-se “novembro”. E o oitavo era “outubro”. “Setembro” era o sétimo. Percebe-se que dezembro vem de dez; novembro vem de nove; que outubro vem de oito; e que setembro vem de sete.
Ao que se sabe e se diz, os romanos criaram mais dois meses para homenagear dois dos seus heróis: Júlio César e Augusto, criando os meses de “julho” e de “agosto”. Assim dezembro foi arrastado para o décimo segundo. Novembro virou o décimo primeiro. Outubro virou o décimo. Setembro converteu-se no nono. A linguagem das letras e dos números, muitas vezes, não acompanha a ordem alfabética ou numérica.
Os gregos usavam no passado o nome dos sete planetas mais próximos da terra para indicar o nome dos dias. Criaram a semana com sete dias. Os romanos acolheram a tradição, mas divinizaram o nome dos planetas.
Em 563 d. C. o bispo português São Martinho lutou contra a influência das visões pagãs, ordenando a substituição dos nomes da semana grega-romana. Somente Portugal adotou a ordem de São Martinho. Quase todos os países de linhagem romana permaneceram usando os nomes retirados de sua história. Os dias da semana brasileira e portuguesa foram assim batizados por São Martinho como “segunda-feira, terça-feira” etc. ao contrário dos demais países romanescos. Assim são revelados os nomes dos dias e dos números. O que significa a palavra “feira” ao lado de um número?