O governador João Doria (PSDB) anunciou nesta segunda-feira, 20 de julho, o início dos testes da CovonaVac, vacina contra o coronavírus, no Brasil. O Instituto Butantan recebeu as doses de imunizantes e placebos que serão utilizados na realização da terceira fase de ensaios clínicos para desenvolvimento da vacina, em parceria com a farmacêutica Sinovac Life Science.
A carga com 20 mil doses, proveniente da China, desembarcou durante a madrugada de ontem no Aeroporto Internacional de Guarulhos e foi levada à sede do Instituto Butantan para ser verificada. Em seguida, será distribuída aos doze centros de pesquisa responsáveis pelo recrutamento, aplicação e acompanhamento dos voluntários.
O Centro de Saúde Escola da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – ligada à Universidade de São Paulo (FMRP/USP) –, na rua Cuiabá, no Sumarezinho, Zona Oeste, participará dos testes. A expectativa é que os exames na região tenham início na semana que vem, quando as doses chegarão à cidade.
Trezentos voluntários que atuam na área da saúde na região serão testados – o processo de seleção de 500 pessoas começou na quinta-feira (16) e está em fase de triagem –, mas o cadastro no site do Hospital das Clínicas continua aberto.
Segundo Eduardo Barbosa Coelho, professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP, coordenador da pesquisa na cidade, “se a vacina funcionar, certamente vai ser uma arma fundamental para o combate à doença, vai impedir que a doença se propague tão rápido”, disse em live na semana passada.
Os voluntários são profissionais de saúde – médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem etc. – em boas condições clínicas, que não testaram positivo para o novo coronavírus, e se comprometeram a ir com frequência ao HC. Eles atuam em enfermarias e em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) com pacientes infectados pela doença.
O candidato não pode ter participado de outros estudos. As mulheres não podem estar grávidas ou planejarem uma gravidez nos próximos três meses. Outra restrição é não ter doenças instáveis ou que precisem de medicações que alterem a resposta imune.
Os testes da vacina, uma das mais avançadas do mundo, começam nesta terça-feira (21) no Hospital das Clínicas da capital paulista. A terceira fase de testes no HC será direcionada a 890 voluntários. Os pesquisadores vão analisar os voluntários em consultas agendadas a cada duas semanas. A estimativa é concluir as primeiras análises em até 90 dias.
Os demais onze centros de pesquisa espalhados por São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Distrito Federal receberão as doses de modo escalonado. O estudo tem como meta a inclusão de cerca de nove mil voluntários nesses centros.
Entre os recrutados, metade receberá duas doses do imunizante num intervalo de 14 dias e a outra metade receberá duas doses de placebo, uma substância com as mesmas características, mas sem os vírus, ou seja, sem efeito. Essas pessoas serão monitoradas pelos centros de pesquisa por meio de exames entre aqueles que tiverem sintomas compatíveis à covid-19.
Assim, poderá ser verificado posteriormente se quem tomou a vacina ficou de fato protegido em comparação a quem tomou o placebo. Os testes serão acompanhados por uma comissão de pesquisadores internacionais, que terão acesso à plataforma científica para observar o andamento e garantir transparência em todo o processo.
Se houver sucesso, a vacina será produzida pelo Instituto Butantan a partir de janeiro de 2021, com mais de 120 milhões de doses. “Evidentemente que a vacina será destinada a todos os brasileiros, não apenas aqueles que são de São Paulo. Isso será feito através do Sistema Único de Saúde (SUS), universal e gratuito a todos os brasileiros”, diz o governador.
“O Instituto Butantan terá todo o domínio da tecnologia, é isto que prevê o acordo com o laboratório Sinovac”, emenda Doria. O acordo com o laboratório chinês prevê que, se a vacina for efetiva, o Brasil ficará com 60 milhões de doses para distribuição. A vacina será testada exclusivamente em nove mil voluntários que trabalham na área de saúde.
O custo da testagem é estimado em R$ 85 milhões e prevê a transferência de tecnologia para que a vacina chinesa possa ser produzida no Brasil. A vacina CoronaVac é produzida a partir de cepas inativadas do novo coronavírus e está na terceira fase de testes, quando pode ser administrada a um número maior de pessoas.
Criada pelo laboratório chinês Sinovac Biotech, é vista pelo diretor do Instituto Butantã, Dimas Tadeu Covas – que também comanda o Hemocentro de Ribeirão Preto – como “uma das mais promissoras” entre as testadas no mundo e já teve o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).