Agora é do alto que ela vai ler isso. No ponto mais alto que uma boa alma pode alcançar. Aquele lugar, onde as pessoas que trabalharam muito, que compartilharam muito, que criaram muito e que trouxe amizade e união para todos os que a cercam, se dirigem logo que desencarnam aqui da terra.
No alto dos seus 80 e poucos muito bem vividos anos nossa querida Dona Adélia está sorrindo, aliás, parece que estou ouvindo sua gargalhada aberta e feliz. Eu ouço também o louro acompanhando esta sinfonia de domingo, um palco familiar aos fundos do Bar Alto do Ipiranga, hoje imortalizado como Baralto.
Sinto o cheiro do arroz de forno e a lembrança de uma época onde eu podia escolher entre o franguinho, a carne de porco ou de vaca, macarrão e bolinhos de variados tipos.
O pudim era de padaria, mas o sabor era de infância, e Dona Adéla oferecia formas e formas no bar, que eu insistia em querer inteira.
Há quem conheça a Dona Adélia por ser a esposa do nosso saudoso Palmeirense Mané ou pela mãe do Anísio, do Osni das Motos e do boa praça caçulinha Mile. Mas há claro uma legião de amigos, vizinhos e clientes do Bar Alto do Ipiranga que juram nunca ter experimentado um bolinho de miolo igual.
Que mão tinha a Dona Adélia, que tempero, que diversidade para representar memórias gastronômicas tão caras para as nossas vidas, à minha vida.
Mas mão não é nada para quem tinha um sorriso do tamanho de um canudo e o coração do tamanho daquela esquina da Mato Grosso com a Espirito Santo.
Quando eu passar naquela esquina com certeza vou olhar com lágrimas nos olhos e no coração, saudades daquela mãe que dedicou sua vida a construir um símbolo de mais de 50 anos da nossa vida e esta esquina nunca será a mesma pois não ouvirei as boas novidades contadas com detalhes por quem era dona por direito deste pedaço.