Por João Victor Escovar e Charlise Morais
Muitas crianças apresentam dificuldade para ouvir, compreender o que se escuta ou até mesmo entender ordens e raciocínios complexos. A raiz desses problemas, que podem interferir no desenvolvimento dos pequenos e até de seu círculo social, pode ser o chamado Distúrbio do Processamento Auditivo (DPA).
Quando possui o distúrbio, a criança tem dificuldade de reconhecer diferenças entre os sons das palavras e não consegue processar e compreender perfeitamente o que se fala. “O processamento auditivo não está ligado apenas à capacidade de ouvir os sons, mas sim com a interpretação deles através dos estímulos. Não é só o ouvido, mas todo um sistema de compreensão”, explica a presidente do Departamento Científico de Otorrinolaringologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), Renata Di Francesco.
A doença é, muitas vezes, associada ao Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) por conta dos sintomas parecidos, como a dificuldade de aprendizado. Segundo Renata, alguém com TDAH pode apresentar maus resultados em um teste de DPA, mas um problema não é necessariamente causa do outro.
“É claro que se a pessoa não ouve e interpreta bem, ela pode ser considerada distraída, mas não é tão simples assim. Às vezes, a criança tem o distúrbio auditivo por outras causas. Para isso, é muito importante a interpretação dos testes por especialistas”, alerta.
Entre as principais causas do DPA estão distúrbios neurológicos, privações da audição durante a infância – como infecções no ouvido, que fazem o cérebro armazenar informações distorcidas, problemas no nascimento (prematuridade e baixo peso, por exemplo) ou comprometimento do nervo auditivo. Para prevenir, é importante acompanhar a evolução da audição, fazer os testes ao nascer e evitar infecções.
O indícios de que a criança pode apresentar o distúrbio começam a ser percebidos após recorrentes problemas de aprendizado, principalmente na alfabetização, leitura, e compreensão, na dificuldade de entender ordens, atraso na fala e troca de fonemas. Não existe idade precisa para avaliação, mas as crianças costumam responder melhor aos testes entre seis e sete anos.
“Quem sofre do problema também acha difícil contar histórias e piadas e evitam conversas longas, em especial ao telefone. Frequentemente, solicitam a repetição do que se fala, usam ‘hã? quê?’. São, em geral, crianças distraídas, com pobre habilidade musical, dificuldades em decorar letras musicais e ritmos”, avalia a especialista.
O diagnóstico do DPA é dado por um médico, enquanto a terapia, que pode envolver treinamento auditivo ou multidisciplinar, é conduzida por um fonoaudiólogo. A grande maioria das pessoas supera as dificuldades, vivendo normalmente, salvo casos em que existam outras doenças associadas.
De acordo com o site do Instituto Ganz Sanchez, deve fazer o teste quem apresenta os seguintes sintomas:
– Dificuldade de aprendizado e/ou para ler e escrever
– Troca de letras para falar, ler ou escrever;
– Dificuldade de memorização;
– Desatenção e/ou distração;
– Cansaço rápido quando está assistindo a aulas ou palestras;
– Agitação e/ou inquietação;
– Dificuldade para ouvir e prestar atenção em ambientes ruidosos;
– Pedir para repetir (“o quê?”, “hã?”) ou dizer “não entendi”;
– Parecer não ouvir/entender bem;
– Demora para escutar e/ou compreender o que foi dito;
– Dificuldade em conversas com muitas pessoas ao mesmo tempo;
– Dificuldade para localizar de onde o som está vindo;
– Dificuldade para realizar uma sequência de tarefas que lhe foi solicitada.