Quando se fala sobre o sonho de engravidar, muitas mulheres, por terem baixa reserva ovariana e ainda dificuldades como a falta de recursos financeiros, acreditam que inevitavelmente seu sonho ficará pelo caminho. Diante das atuais possibilidades da medicina reprodutiva, a prática da “Ovodoação Compartilhada” é uma oportunidade de esperança e solidariedade para mulheres que enfrentam desafios para engravidar.
A prática é um procedimento em que uma mulher submetida a tratamento de fertilização in vitro (FIV) compartilha parte dos óvulos coletados com outra paciente que também está passando pelo mesmo processo. Permite que a doadora utilize uma porção dos seus próprios óvulos e doe o restante para uma receptora.
“A ovodoação compartilhada é um ato de solidariedade que oferece esperança às mulheres com dificuldades reprodutivas, unindo sonhos e possibilitando a maternidade por meio da transferência de óvulos saudáveis para mulheres com reserva ovariana reduzida ou comprometida”, explica o médico Anderson Melo, ginecologista especialista em reprodução humana, do Centro de Fertilidade de Ribeirão Preto.
De acordo com o especialista esse método é recomendado em duas circunstâncias principais. A primeira, quando a paciente apresenta baixa reserva ovariana ou já está na menopausa, inviabilizando a quantidade necessária de óvulos para o tratamento. A segunda, nos casos de idade reprodutiva avançada, onde a qualidade dos próprios óvulos diminui, reduzindo as chances de concepção. Para a doadora, essa escolha ocorre quando, por alguma razão, ela não consegue engravidar naturalmente, mas possui capacidade para doar seus óvulos
A doação é um procedimento regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) por meio da Resolução CFM nº 2.320/2022. Essa resolução abrange tanto a doação por parentes até o quarto grau, desde que não haja parentesco consanguíneo, quanto a doação anônima, enfatizando a proibição de caráter comercial.
Entretanto, as instituições e clínicas especializadas têm a responsabilidade de guiar e amparar todos os envolvidos, assegurando a condução ética e respeitosa do processo. Na doação de óvulos, a doadora não detém qualquer direito sobre os possíveis bebês gerados.
No caso da doação anônima, a identidade dos bebês, seus pais e da doadora de óvulos é preservada pela equipe de especialistas em absoluto sigilo, em conformidade com as normativas do Conselho Federal de Medicina.
Para expandir a conscientização o Conselho Federal de Medicina também permite a opção da doação compartilhada. Nesse caso, tanto a doadora quanto a receptora dividem não apenas os óvulos, mas também os custos do procedimento, tornando-o mais acessível para as doadoras.
“Esse processo é conduzido após uma minuciosa consulta médica e avaliação do histórico de saúde pessoal e familiar, além de exames e outras análises para determinar a elegibilidade da potencial doadora”, explica a ginecologista Camila Vidal.
Caso concreto
A engenheira química Nélia de Paula, decidiu encarar o sonho de uma maternidade solo, aos 38 anos, e se prepara para um novo capítulo em sua vida. Com uma carreira estável e uma mente analítica, ela decidiu participar do programa de doação compartilhada de óvulos. Sua motivação vai além de sua formação profissional: é uma escolha pessoal baseada em empatia e generosidade. Ela será doadora.
Nélia vê essa oportunidade como uma maneira de contribuir para o sonho de outras mulheres de se tornarem mães, ao mesmo tempo em que embarca em sua própria jornada para a maternidade. Sua coragem em abraçar essa experiência desafiadora demonstra sua determinação e compromisso com a vida e o bem-estar de outros, ao mesmo tempo em que busca a realização de um sonho muito pessoal.
“Para mim, a jornada em direção à maternidade é tão pessoal quanto coletiva. Ao buscar realizar meu sonho de ser mãe, encontro uma oportunidade incrível de também ajudar outras mulheres nessa busca. É um caminho que une a realização pessoal ao ato de oferecer esperança e apoio àqueles que enfrentam desafios semelhantes. É sobre compartilhar a jornada da maternidade, encontrando significado tanto na busca da minha própria felicidade quanto em proporcionar essa mesma alegria a outras mulheres”, conclui.
O que é o Programa Sonhar Juntos
O Programa do Centro de Fertilidade de Ribeirão Preto une mulheres dispostas a serem doadoras de óvulos para aquelas que, por diferentes motivos, não podem utilizar os seus próprios óvulos na Fertilização in vitro.
A iniciativa facilita a doação compartilhada, onde doadoras e receptoras dividem óvulos e custos do tratamento, tornando-o mais acessível. Para se tornar doadora no Programa, as candidatas precisam atender aos critérios estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina.
A paciente que deseja ser doadora de óvulos deve preencher um cadastro, que será avaliado pela equipe do Centro. Após o cadastro, é agendada uma consulta para avaliar se a paciente cumpre os demais pré-requisitos para a doação. São necessários exames de imagem, como ultrassom, e exames de sangue – desde avaliações de sorologias a exames de cariótipo e eletroforese de hemoglobinas.
“Após esta consulta, anamnese e exames avaliando a aptidão para doação, caso seja prevista a doação compartilhada, é necessário que haja uma paciente com características físicas compatíveis para receber os óvulos doados. Dessa forma, a paciente doadora poderá iniciar seu tratamento”, a ginecologista Camila Vidal.