André Luiz da Silva *
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Casos de racismo assombram diariamente o Brasil, mas alguns acabam ganhando maior repercussão como o praticado pela cantora Wanessa Camargo em relação ao vencedor do Reality Show BBB-24, Davi Brito e o sofrido na escola, por Alicia, filha da atriz Samara Filippo com o ex-jogador da NBA Leandrinho.
Nas várias entrevistas, reportagens e debates, uma expressão foi recorrente: Letramento Racial. Mas, o que isso quer dizer? A antropóloga afro-americana France WinddanceTwine formulou o conceito de “racial literacy”, traduzido pela psicóloga e pesquisadora Lia Vainer Schucman como “letramento racial”. Letramento racial se refere à capacidade de compreender, analisar e discutir questões relacionadas à raça, racismo, e suas implicações sociais, políticas e culturais.
O termo “letramento racial” conecta a educação e os estudos raciais ampliando aquele conceito tradicional de letramento que compreendia apenas ahabilidade de ler e escrever, passando agora à compreensão crítica das dinâmicas raciais e o desenvolvimento de uma consciência antirracista.
O letramento racial nos ensina a reconhecer que a raça é uma construção social que molda as experiências individuais e coletivas. Ele visa capacitar as pessoas a identificar e desafiar preconceitos, estereótipos e estruturas de poder que perpetuam a desigualdade racial.
Um exemplo de letramento racial é a análise crítica dos conteúdos de programas de TV, séries, publicidade e noticiário identificando estereótipos raciais que eles propagam. Outro, é o olhar criterioso sobre a história contada pelos grupos dominantes com suas distorções e apagamento da contribuição de diferentes grupos étnico-raciais. Também reconhecer como alguns foram privilegiados e outros desfavorecido por causa da raça e como isso afetou a vida de cada um. Todos são convocados a uma participação efetiva na busca da justiça racial defendendo a implementação de políticas efetivas.
Aderir ao letramento racial não é difícil, mas exige um compromisso pessoal de aprendizagem e atitude. Para a educação e o autoconhecimento podemos pesquisar artigos, livros e até cursos online sobre raça, racismo e equidade racial. Além disso, dialogar com pessoas de raça e origens diferentes de modo franco e disposto à escuta para compreender suas dores e perspectivas. Com a reflexão crítica será possível identificar e superar crenças e suposições que foram internalizadas ao logo do tempo. A partir da consciência é possível a adesão a grupos, movimentos, organizações e iniciativas que promovam a justiça racial.
Governos, iniciativa privada, sociedade civil organizada e indivíduos podem participar do processo de mudança. Algumas medidas devem ser adotadas, como a inclusão do letramento racial nos currículos escolares, treinamentos de empresas e formação continuada de agentes de segurança, profissionais de saúde, servidores públicos em geral. Ambientes coletivos como trabalho, instituições de ensino e religiosas são campos férteis para introduçãode campanhas de conscientização sobre as questões raciais.
Criar uma sociedade mais justa e inclusiva onde todos são valorizados independentemente da sua origem étnico-racial é uma meta possível e o letramento racial é importante instrumento para promover igualdade de oportunidades e dignidade.
* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista