Continuamos nossa reflexão sobre o dízimo, que em tempo de pandemia, sofre as consequências de um “novo normal”, que atingem as amadas pessoas e famílias de nossas comunidades de fé!
O Antigo Testamento apresenta o dízimo como prescrição divina. Inúmeras são as passagens bíblicas onde se prescreve a obrigatoriedade de se dar o dízimo ao culto. No Antigo Testamento prevalece o dízimo legal, no sentido literal de décima parte, consagrada a Deus, para a manutenção do culto, dos ministros e da assistência aos necessitados. “Abraão… lhe dá os dízimos de tudo” (Gn 14,18-20). “De tudo que me concede, lhe consagrarei fielmente a décima parte” (Gn 28,20). “Todo dízimo é coisa consagrada ao Senhor” (Lv 27,20). “Pode o homem enganar a Deus?… Trazei, pois, todo o dízimo para o templo de Deus” (Mt 3,8-10).
No Novo Testamento, o dízimo toma o sentido de oferta, consciente e livre, corresponsável e comunitária, generosa e alegre, numa relação com Deus, para a manutenção do culto divino, evangelização, missão e assistência da comunidade cristã.
O próprio Cristo ensina que quem se dedica à evangelização tem o direito de viver da pregação e nos mostra que, ao lado de deveres para com o estado, temos deveres para com a fé: “Daí a César o que é de César (impostos) e a Deus o que é de Deus (dízimo)” (Lc 20,25). Em muitos outros textos no Novo Testamento, sobretudo nos Atos dos Apóstolos e nas Cartas de São Paulo, encontramos ricos testemunhos e princípios de que os cristãos devem dar a sua contribuição material para a manutenção dos ministros, as despesas do culto e a assistência aos pobres:
“Recebestes de graça, daí de graça” (Mt 10,8-10). “Não sabeis que os ministros do culto vivem dos proventos do templo e os que servem o altar participam do altar? Assim aos que anunciam o Evangelho ordenou o Senhor viverem do Evangelho” (I Cor 9,4-14). “Cada um dê, conforme decidiu no seu coração, sem tristeza nem constrangimento, porque Deus ama a quem dá com alegria” (II Cor 9). “Se entre vós semeamos bens espirituais, será, porventura demasiada exigência colhermos de vós bens materiais?” (I Cor 9,11). “Os fiéis viviam todos unidos e tinham tudo em comum… repartindo tudo… conforme as necessidades de cada um” (At 2,44-45).
Sem desmerecer outras formas de contribuição, o dízimo é a forma mais legítima de expressar a corresponsabilidade de todos os membros da comunidade. Todos nós já estamos bastante convencidos de que a Igreja precisa dos recursos humanos e materiais para desenvolver suas atividades. E nós somos responsáveis pelos meios e recursos de que a Igreja precisa, pois nós somos membros dela. Não permitamos certo colapso em nossas Igrejas!
Por isso separamos, do muito que Deus nos deu, uma parte que Ele nos dá e a separamos para oferecer a Deus como ato de amor e gratidão! O dízimo não é “esmolinha” qualquer, não é uma contribuição forçada, não é um pagamento constrangido, porém, é uma atitude de filhos, pela qual dizemos a Deus “muito agradecido” por tudo que Ele nos deu. É a nossa pequena parte oferecida para que não falte o necessário para que os outros O conheçam e O amem.
Devido às inúmeras dificuldades de “sobrevivermos” em nosso País, a CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil sugere que, pelo menos reservemos, mensalmente, 2% de nossos salários para o dízimo. Porém, se cada cristão católico, oferecesse 1% de seu salário bruto à sua comunidade de fé, ficando com os restantes 99% para as demais despesas, não precisaríamos realizar tantas promoções, a fim de arrecadar o necessário para a sobrevivência de nossas atividades pastorais e materiais.
Finalmente, dar o dízimo justo à comunidade não é favor e nem deve ser recompensado: antes é dever e compromisso, transformados em ato de amor e gratidão!