Fabiano Ribeiro
Mensagens de liberdade, contra racismo, homofobia e toda forma de preconceito. Esse é o conteúdo que a Distúrbio Mental, banda ribeirão-pretana do Movimento Punk, procura mostrar nos seus quase 30 anos de estrada. Fundada em 1993, a Distúrbio incendeia suas apresentações com entrega total de seus integrantes.
O Tribuna conversou com Tom Coalla, guitarrista da banda, que contou um pouco sobre essa trajetória. “Falamos sobre as vivências enquanto brasileiros, as dificuldades sociais inerentes a isso. Falamos também sobre questões pessoais que acontecem em nosso cotidiano”, tenta resumir Tom, ao se referir às mensagens que buscam passar.
Nessas quase três décadas dedicadas ao punk a banda lançou os CDs “Asfalto da Morte”, em 1998 e “Ignorância Humana”, em 2004. Tem ainda o “Caixa Preta”, um álbum digital gravado em 2010, mas que foi lançado somente agora, em 2020. Além de Tom, atualmente a banda conta com Kelsen Bianco nos vocais, May Cisphobia, no baixo, e Gustavo Portugal, na bateria.
Tom comentou sobre o lançamento do “Caixa Preta”, gravado no formato ao vivo. “Foi gravado no estúdio do nosso antigo baterista, Rômulo Ramazini. Após dez anos da gravação original, o Rômulo encontrou esse material em um momento que estava organizando as coisas no estúdio e me procurou para ver se eu tinha interesse em lançar o material”, explica.
“Ele é um marco na história da banda, pois ele é o nosso primeiro material lançado no formato digital. Como lançamos somente agora em 2020, após uma década da gravação original, eu e o Kelsen batizamos de “Caixa Preta”, pois é um grande achado. Utilizamos esse nome em referência à caixa preta do avião, na qual se tem muito interesse em encontrar quando acontece um acidente”, completa o guitarrista.
Tom comentou sobre o Movimento Punk e o fato dele ter um público mais restrito. “O punk sempre foi um segmento impar dentro da história da música e como comportamento. Assim como outros estilos de vida, postura ou linguagem, ele some e aparece com mais força de tempos em tempos. Os últimos tempos têm sido propício a esse levante do punk. Na Distúrbio, sempre tivemos a alegria de ver os nossos shows sempre bem numerosos. É muito bacana ver pessoas de todas as idades interagindo com a gente”.
Kelsen Bianco e suas performances
Kelsen Bianco é uma dessas figuras emblemáticas (já foi personagem de matéria especial no Tribuna). Com roupas diferentes, adereços pendurados pelo corpo, como boneca, galinha de plástico, além de inúmeras tatuagens, não há como não o notar. No palco, a postura dócil do dia a dia, se transforma.
“O Kelsen é uma das pessoas mais amáveis que já convivi. Conheço ele desde a minha infância, pois o meu irmão mais velho, o Lincoln, tinha uma banda com ele chamada Amor Incondicional. Eles sempre foram muito amigos e desde criança meu irmão me levava no estúdio de tatuagem que o Kelsen trabalha. Cresci vendo vídeos VHS da banda do meu irmão e da Distúrbio. Foi através do Lincoln e do Kelsen que eu tive acesso ao punk. Há 6 anos, o Kelsen me chamou para tocar na banda e foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida, pois sempre fui fã da Distúrbio Mental”, lembra.
“Aprendo todos os dias com o Kelsen, pois ele é um artista muito criativo e singular. Estamos em tour de 27 anos de banda, na qual tivemos essa pausa devido a pandemia. Mas fazer shows e pegar a estrada com ele é demais. São momentos que guardarei por toda minha vida. Esse ano comecei a escrever a biografia dele e estou tendo a oportunidade de saber todos os detalhes da vida dessa cara incrível. Logo mais irei lançar esse precioso material desse personagem fundamental na história do punk brasileiro e da cidade de Ribeirão Preto”, adianta.
Quem acompanha a Distúrbio Mental pelas redes sociais, se diverte. São postagens alegres e descontraídas. “O objetivo nos canais de comunicação da banda é desconstruir a imagem que o punk é algo violento, agressivo. Essas características transmitimos no som. Nós somos pessoas comuns, sabe. Quem vê o Kelsen no palco, muitas vezes não imagina a rotina dele fora dali. Ele cuida dos gatinhos da loja de artigos de rock em que trabalha como body piercing, ele quem faz café na loja, ele ama a família dele e almoça todos os dias com a sua irmã. O Portuga é bancário e o May atua no ramo da alimentação. O Punk para nós é muito além do som. É liberdade, amor e também diversão. Ele é a nossa válvula de escape desse mundo complexo que vivemos”.
Além do Caixa Preta tem material novo da banda. “Antes da pandemia nós gravamos um single: ‘Eu quero ser seu cachorro’. É uma releitura de ‘I wanna be your dog’ dos The Stooges. Acabei de colocar nas principais plataformas digitais através do meu selo, a Coalla Records, e logo mais estará disponível pra galera curtir aonde quiser”, finaliza.