Rui Flávio Chúfalo Guião *
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A exigência do MEC de uniformes, cortes de cabelo, maquiagem e outras disposições disciplinares para os colégios cívico-militares apareceram na net. Os comentários, como eram esperados, se concentram em dois grandes grupos: o dos que condenam a prática, alegando que uniforme e as outras exigências inibem o desenvolvimento e a criatividade dos jovens, que têm direito a vestirem o que acharem melhor, pentearem o cabelo à vontade e usarem o calçado que melhor lhes convenha. E o outro, que reconhece que o uniforme e as normas igualam as classes sociais, num país tão desigual como o nosso e são instrumento fundamental para a disciplina. Filio-me a esta última corrente.
Toda minha formação estudantil foi em escola pública. No Grupo Escolar Guimarães Jr., antes das aulas, cada classe entrava em formação no pátio da escola, perfilando-se os alunos por tamanho. Uma vez por semana, cantávamos não só o Hino Nacional, como o da Bandeira e o da República. No Otoniel Mota, quando os professores entravam na sala, todos nós nos levantávamos e, em silêncio esperávamos o professor sentar, para então fazer o mesmo, repetindo o ritual no final da aula, só saindo depois do mestre.
Nos dois estabelecimentos, usávamos uniforme.Na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, assistíamos às aulas de terno e gravata. Futuros advogados, nos preparávamos para o traje do Judiciário, até hoje o mesmo exigido de nós naquele tempo. Chamávamos os professores de excelência e eles a nós de doutor. Todas estas exigências não causaram nenhum trauma ou desconforto e foram fundamentais para formar a nossa personalidade e nossa imagem social. O clima nas escolas era de respeito e cordialidade.
Hoje, a situação é muito diferente. As aulas são bagunçadas e um clima de incivilidade e lassidão permeia as escolas. Recente pesquisa indicou que os professores perdem em média os quinze primeiros minutos das aulas para estabelecer a disciplina, a ordem e o silencio e só então iniciam o ensino. Não há respeito por eles, que chegam a ser agredidos fisicamente.
Nos países desenvolvidos, que já resolveram grande parte dos problemas de educação, a disciplina é parte da formação dos jovens e é ministrada como extensão do ensino de casa. Usar uniforme é uma constante nestas escolas. Uma sobrinha querida, intercambiária na Austrália, no primeiro dia de escola, de uniforme sóbrio, colocou um cachecol colorido para amenizar o frio. Foi chamada à diretoria e esclarecida que uniforme significa igualdade e que ela não poderia usar qualquer outro complemento que não fosse facultado às outras alunas. Minha duas netas dinamarquesas, na escola que frequentam, uma das mais prestigiosas do país, usam uniforme nas oito horas de aulas e, fora delas, como dormem na escola durante a semana, só podem usar roupa branca, preta, azul-marinho ou cinza.E aceitam isto na maior naturalidade.
O grande problema do Brasil é que a maioria não acha importante a disciplina escolar, nem se dá conta de que ela é fundamental para o sucesso profissional futuro. Ou nós nos conscientizamos que o ensinamento da disciplina e do respeito começa em casa e se consolida na escola ou não venceremos este gap educacional que nos emperra como país em lento desenvolvimento. Os colégios cívico-militares, com suas exigências, são uma boa notícia neste deserto de ordem e de bom ensino. Mas, como são poucos, só o trabalho de cada um de nós no contato com nossos filhos, sobrinhos e netos vai vencer esta enorme distância de países que já venceram seus problemas.
* Presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis