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Dirigido por Herzog, documentário investiga a influência cultural dos meteoros

Por Mariane Morisawa, especial para o Estadão

Mais de 66 milhões de anos atrás, um meteoro com diâmetro estimado de 12 quilômetros atingiu a Península de Yucatán, no México. Ele formou a Cratera de Chicxulub, com 200 quilômetros de diâmetro e 30 quilômetros de profundidade, causando o esfriamento da Terra e provocando a extinção da maioria dos dinossauros e 75% das plantas e animais do globo. Mas aquela imensa bola de fogo que penetrou a atmosfera terrestre não causou somente catástrofe e destruição.

É por causa dela que os mamíferos prevaleceram, evoluindo até chegar a nós, seres humanos, que transformamos, para o bem e para o mal, a face do planeta. E por conta daquele meteoro, os maias desenvolveram sua avançada civilização perto dos cenotes, poços profundos formados na borda da cratera. O significado cultural do impacto dos meteoros está no centro do documentário Fireball: Visitors from Darker Worlds, dirigido por Werner Herzog e pelo vulcanologista Clive Oppenheimer e disponível no Apple TV+.

A parceria de Herzog e Oppenheimer é de longa data. O cientista foi personagem do documentário Encontros no Fim do Mundo (2007), dirigido pelo cineasta alemão. Em 2016, a colaboração ficou mais estreita em Visita ao Inferno, que investigava o poder dos vulcões em culturas ao redor do mundo. Agora, Oppenheimer ganhou o crédito de codiretor e conduz a maior parte das conversas ao longo do filme. Herzog, para alegria de todos, ainda é o narrador.

Foi Oppenheimer, inclusive, quem levou a ideia para Werner Herzog. Numa visita ao Instituto Coreano de Pesquisa Polar, conheceu o laboratório de meteoritos. Eles estavam num cubículo preenchido com nitrogênio, dispostos lindamente. “Eram objeto de tanta veneração ali que na hora pensei na pedra negra, provavelmente um meteorito, guardada num dos cantos da Caaba na Grande Mesquita de Meca. É uma das relíquias mais sagradas do Islã, um outro tipo de veneração”, explicou Oppenheimer em entrevista ao Estadão. “Não era minha especialidade, mas me pareceu que havia ali um outro tema das geociências que mescla a natureza e a cultura de cometas, estrelas cadentes, pedras rebeldes que caem na Terra.”

O documentário fala do impacto histórico da queda de um meteoro na região da Alsácia e na cultura e arte aborígine na Austrália. Conversa com o músico norueguês Jon Larsen, que procura por micrometeoritos e depois os fotografa. O jesuíta Guy Colsolmagno, diretor do Observatório Astronômico do Vaticano, discute o maravilhamento da ciência e da fé. “Eu acho esse um exemplo incrível, porque mostra a alegria inigualável da descoberta, o deslumbramento com o universo que existe tanto na ciência quanto na realização de filmes, e o intenso fervor desse irmão jesuíta”, disse Herzog. “É tão exuberante e alegre que eu acho que uma criança pode assistir ao filme e decidir se tornar um jesuíta ou um cientista – ou talvez as duas coisas”, completou o diretor.

A possibilidade de um meteoro acabar com a vida humana na Terra como aconteceu com os dinossauros é real. Herzog não acredita que estejamos mais próximos do apocalipse do que nunca. “Nós somos frágeis. Baratas e lagartos têm uma chance maior de sobrevivência do que nós”, disse o diretor. “E podemos ter uma destruição causada pela natureza ou por nós mesmos, como um holocausto nuclear ou uma interrupção da internet – isso seria desastroso, provavelmente só sobreviveriam os inuits e alguns indígenas na Amazônia. E ainda temos os micróbios atrás de nós. Nossas chances de sobrevivência a longo prazo não são boas”, completou Herzog.

Mas o cineasta tem a esperança de que a pandemia tenha efeitos benéficos, apesar de tudo. “Ela nos traz o essencial, a família e os amigos verdadeiros, e reduz o consumismo. Por que precisamos do décimo par de sapatos? Por que jogamos fora tanta comida? A pandemia faz com que tenhamos de mudar atitudes básicas”, conclui.

Para Clive Oppenheimer, é uma chance de olhar para nosso passado, nossos ancestrais. “Filmamos numa comunidade aborígine com Katie Darkie, uma artista que falou da importância do lugar onde uma pedra caiu e da conexão com os antepassados por meio de histórias e sonhos. Recentemente uma mineradora explodiu alguns lugares sagrados aborígines. Nós saímos por aí dessacralizando lugares significativos. Precisamos pensar de onde viemos. Tivemos pandemias ao longo da história. Elas não são novidade. Mas esquecemos e agimos sem consequência”, acrescenta.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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