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Diretor de ‘O Quatrilho’, Fábio Barreto trouxe o Oscar para perto do Brasil

Foto: Divulgação
Por Luiz Zanin Oricchio

Com O Quatrilho (1995), seu melhor filme, Fábio Barreto (1957-2019) trouxe o Oscar para bem perto do Brasil. Ficou entre os finalistas. Não ganhou, mas deixou um filme que até hoje encanta por seu frescor. Baseado no romance homônimo de José Clemente Pozenato, ambienta-se na serra gaúcha, entre famílias de imigrantes italianos, com ar bucólico e uma inusitada troca de casais. Soma certa ingenuidade a malícia e expressa um estilo cinematográfico clássico e detalhista, voltado para o grande público. Não levou o Oscar, mas conquistou a maior parte da crítica e levou bom público às salas de cinema

Tornou-se um dos filmes importantes da Retomada, que ressuscitou o cinema brasileiro após o desmanche da era Collor, e vendeu 1 118.000 de ingressos, bela cifra para os anos 1990.

Fábio Barreto morreu por volta das 19h desta quarta-feira, 20, aos 62 anos, no Hospital Samaritano, em Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro.

O projeto de O Quatrilho encontra Fábio já como diretor experiente. Filho mais novo do clã Barreto, Fábio respirava cinema desde a infância. Garoto, herdou a cachorra Baleia, “heroína” animal do clássico Vidas Secas, de Nelson Pereira, adaptado do romance de Graciliano Ramos e fotografado por seu pai, o Barretão. Fábio era filho dos produtores Luiz Carlos Barreto e Lucy, e irmão do também cineasta Bruno Barreto, diretor de Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), durante décadas o filme brasileiro mais visto da história.

Fábio foi assistente de produção do irmão mais velho em Dona Flor e desde jovem frequentou o ambiente do cinema nacional. Dirigiu curtas como A História de João e Maria, Mané Garrincha (1978) e Filmando Bye Bye Brasil (1979), como se preparando para sua estreia no longa, que viria em 1981 com Índia, a Filha do Sol, estreia no cinema da atriz Glória Pires. É um filme que tem qualidades e merece uma revisão Assim como seus trabalhos posteriores, O Rei do Rio (1984) e Luzia Homem (1987).

Em sua carreira, Fábio deu preferência para a adaptação de autores brasileiros. Índia, a Filha do Sol é tirado de um conto de Bernardo Élis, O Rei do Rio baseia-se no texto O Rei de Ramos, de Dias Gomes, e Luzia Homem inspira-se em romance de Domingos Olímpio. Valeria uma revisão de O Rei do Rio, história de dois amigos e sócios que se tornam poderosos chefões do jogo do bicho no Rio de Janeiro.

Depois desses filmes iniciais, viria o projeto de O Quatrilho, acalentado durante anos e adiado por conta do recesso do cinema nacional durante o breve governo Collor. Com a criação das leis de incentivo, o filme pôde enfim ser começado e já encontrou, em sua direção, um cineasta maduro.

Os trabalhos posteriores – Bela Donna (1998), A Paixão de Jacobina (2000) e Nossa Senhora do Caravaggio (2007) não tiveram o mesmo impacto. Bela Donna, inspirado em Riacho Doce, de José Lins do Rêgo, é um drama amoroso praieiro, mas Jacobina e Caravaggio passam-se no Rio Grande do Sul (o primeiro, sobre a revolta dos Mucker), tentando, sem sucesso, repetir o sucesso estético e de público de O Quatrilho.

Fábio faria ainda um documentário Grupo Corpo – uma Família Brasileira (2006), antes de partir para seu projeto mais polêmico, Lula, o Filho do Brasil (2009).

Baseado na biografia de Denise Paraná, Lula, o Filho do Brasil passou a ser combatido antes mesmo de ser visto. Como tudo que se refere a Luiz Inácio Lula da Silva, também a cinebiografia dividiu opiniões e criou críticos e defensores irredutíveis.

A produção foi atacada por, supostamente, trazer benefícios eleitorais ao político. Porém é apenas uma saga, narrada de forma correta, que mostra a família fugindo da miséria no Nordeste e migrando para o litoral paulista em busca de vida melhor. Conta a história do líder metalúrgico, da infância às lutas sindicais, mas a grande heroína do filme acaba sendo mesmo a mãe, Dona Lindu (Glória Pires, mais uma vez), que conseguiu criar a família depois de ter sido abandonada pelo marido. O filme foi indicado para disputar uma vaga no Oscar, mas não chegou lá.

Fábio andava ocupado com o lançamento comercial de Lula, o Filho do Brasil quando sofreu o acidente automobilístico que o deixou em coma. Sua agonia durou dez anos e terminou nesta quarta-feira.

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