Por Luiz Carlos Merten
André Pellenz, seu nome é sucesso. Ele dirigiu Minha Mãe É Uma Peça, o primeiro da série, e embora Paulo Gustavo tenha virado a maior bilheteria do cinema brasileiro – um fenômeno! -, Pellenz reconhece sua marca no filme. “Sou louco por comédias italianas e coloquei muitas referências lá dentro.” Depois veio Detetives do Prédio Azul, numa outra faixa de público, mas que também foi um belo sucesso. Só os dois fizeram mais de 6 milhões de espectadores.
Pellenz tinha um novo filme para estrear, mas foi atropelado pela pandemia do novo coronavírus. “Os Espetaculares deveria ter estreado em junho, mas aí parou tudo. Com a reabertura das salas em Manaus, o filme estreou, e foi bem. Por aqui, já está no streaming. Aborda o universo do stand up. Teve um ponto de partida curioso. Ele tem filho de 12 anos, o Artur. “Um dia estava conversando com ele e perguntei o que achava de ter um pai diretor de cinema. Se era normal para ele. A resposta me surpreendeu. “Não, não é normal.” Eu era diferente de todos os pais de amigos dele. Fiquei com aquilo martelando em minha cabeça.”
E esclarece: “Tenho um projeto grande, inspirado numa história real de minha família. Meu pai tinha um irmão que foi tentar a vida no garimpo do Pará. Ele morreu por lá e o meu pai foi buscar o corpo. Atravessou o Brasil inteiro com o caixão para enterrar meu tio em Santa Rosa, no Rio Grande do Sul. O filme, 830 Litros, conta as histórias dessa viagem.” Meio parecido com o cubano Guantamera, de Tomás Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tabío, não é? Com certeza, até porque Pellenz diz que o filme não será propriamente uma comédia, mas um road movie. “Um choque brutal de cultura, de Norte a Sul do Brasil, até as raízes da colonização alemã no Rio Grande do Sul.”
Foi aí, no vácuo do 830 Litros, que Os Espetaculares começou a nascer. “O cinema conta muitas histórias de crianças e adolescentes, mas não na faixa de 12 anos, do meu filho. Também queria muito fazer um filme com o Paulo Mathias Jr., que é um ator maravilhoso e um cara muito bom. Todos os diretores o conhecem e o admiram. É um cara fácil de trabalhar. No início, não sabíamos, a Sílvia (produtora) e eu, que filme queríamos fazer, se uma ficção ou documentário. Havia a vontade de fazer um filme sobre quem faz humor. Nosso comediante, ao contrário do Paulinho, é difícil de trabalhar. Tem esse filho de 12 anos. O filme começou a andar. Agregamos o Rafael Portugal, que está num momento muito bom da carreira dele, como um cara que não gosta de comédia. O concurso de stand up terminou vindo naturalmente ”
Os concorrentes são cômicos de stand-up de verdade. “É a forma mais pura de humor que existe. O sujeito, ou a mulher, não importa o gênero, está lá sem cenário, até sem personagem, só ele, ou ela, diante do público. É uma coisa minimalista, e às vezes o que funciona no palco não pode ser transferido para a tela, porque não funciona. Um cômico sem graça é uma coisa constrangedora, horrível.” Como diretor, Pellenz tem um discurso bastante crítico. “Tem gente que acha que o público não gosta de filme brasileiro, e até coloca esse produto num nicho, como se fosse um gênero. A história de que o espectador só quer ver filme brasileiro de comédia não é verdadeira. Existem as comédias que arrebentam na bilheteria, mas também tem o Bacurau, que bateu nos 800 mil espectadores, e é um número superior ao de muita comédia. Você pega Tropa de Elite, 2 Filhos de Francisco, Bruna Surfistinha, Central do Brasil. Não são comédias, mas o público vai e se identifica. Eu sou pela diversidade.”
Pellenz espelha essa diversidade com um filme dentro do filme dirigido por ninguém menos que Neville D’Almeida: “É a minha homenagem. Na verdade comecei com o Neville, fui assistente dele”, conta. Seu longa foi feito para passar no cinema e, por isso, Pellenz ficou contente com o desempenho em Manaus. “Mas esse país é muito grande, as realidades são muito diversas. É claro que gostaria de ver o filme nos cinemas do Rio, onde moro. Mas aqui, ao contrário de Manaus, quando entrou (o filme), as condições ainda não estão seguras, por isso estamos no streaming ”
Seu nome, além de sucesso, também é trabalho. Pellenz não para. Em pleno isolamento da pandemia, conseguiu fazer um filme remotamente – Fluxo, dirigido à distância, pelo Zoom, os atores em suas casas. “É um momento de se reinventar. Ainda não sabemos como será o retorno, o novo normal após o coronavírus. O que não dá é para parar.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.