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Diga-me com quem tu andas…

E eu te direi quem tu és. Estou me referindo mesmo a uma verdadeira promiscuidade entre os Bolsonaros e os milicia­nos. Se fizermos um levantamento, vamos ficar estarrecidos. Não se encontra uma única referência de Jair Bolsonaro denunciando as milícias no Rio de Janeiro, sua base eleitoral. Em 2007, Flávio Bolsonaro, filho do presidente, já fazia um discurso na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) defendendo abertamente as milícias. Disse ele na ocasião que “a milícia nada mais é do que um conjunto de policiais, militares ou não, regidos por uma certa hierarquia e discipli­na, buscando, sem dúvida, expurgar do seio da comunidade o que há de pior: os criminosos”. Nunca disse que os milicianos são igualmente criminosos.

Em 2011, Flávio fez pesadas críticas à juíza Patrícia Acioli, assassinada depois por milicianos em São Gonçalo (RJ). Assassinada justamente devido à sua coragem de denunciar e investigar o crime infiltrado nas estruturas do Estado. Em 2015, dos 70 deputados da Alerj, Flávio foi o único a votar contra a abertura de uma CPI para investigar policiais envol­vidos com o crime organizado no Rio de Janeiro. Ele ainda ofereceu várias homenagens oficiais a milicianos na Alerj, como o capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, homem forte da milícia conhecida como “Escritório do Crime”, e o major Ronald Paulo Alves Pereira, um matador de aluguel, presos há pouco tempo na operação “Os Intocáveis”.

Mais recentemente, o caso Fabrício Queiróz escanca­rou de vez aquela relação escandalosa. Fabrício era assessor no gabinete de Flávio Bolsonaro e foi flagrado pelo COAF movimentando 1,2 milhão de reais entre 2016 e 2017, um valor incompatível com sua remuneração na Alerj. Os demais assessores do gabinete transferiam quase todo o seu salário para Fabrício. Eram assessores de fachada. Mas o pior ainda viria: entre esses assessores, figuravam nada mais nada menos do que Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, respectivamente, mãe e esposa do já citado capitão Adriano, o homem-forte do “Escritório do Crime”.

Agora, com a prisão dos assassinos de Marielle Franco e Anderson Gomes, a proximidade suspeita reaparece. A investi­gação se arrastava a quase um ano devido, com certeza, a fortes interesses contrariados. A ponto de a Procuradora Geral da República ordenar uma investigação paralela da Polícia Federal para desmontar os esquemas que atrapalhavam as investiga­ções. Os milicianos presos, o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa, e o ex-PM Elcio Vieira de Queiroz, se consideravam amigos do presidente. Um deles aparecia em sua página do facebook abraçado com o próprio. O outro, além de morar no mesmo condomínio de luxo do presidente, tem uma filha que foi namorada do filho mais novo dele.
O delegado Giniton Lages, responsável pela investiga­ção da morte de Marielle Franco e Anderson Gomes, já foi afastado do caso pela Polícia Civil. Oficialmente, o motivo foi que ele cumpriu sua missão. Mas Giniton desagradou profun­damente o bolsonarismo ao citar o presidente da República e sua família na entrevista coletiva sobre a prisão dos assas­sinos. Permanece a pergunta que não quer calar: quais os motivos do assassinato de Marielle? O Ministério Público já deu uma resposta inicial: “É inconteste que Marielle Francis­co da Silva foi sumariamente executada em razão da atuação política na defesa das causas que defendia. A barbárie prati­cada na noite de 14 de março de 2018 foi um golpe ao Estado Democrático de Direito”.

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