Por Rodrigo Fonseca, especial para o Estadão
Pareceu piada quando O Paizão (1999), fenômeno de bilheteria com arrecadação global de US$ 234 milhões, passou a ser tratado como cult nas listas de muitos críticos do mundo todo, sendo citado até entre as predileções de cineastas de prestígio como Paul Thomas Anderson (de Magnólia). Mas, quando se trata dos feitos do diretor e ator Dennis Dugan, realizador deste hoje adorado sucesso com Adam Sandler, tudo o que se assemelha a uma “pegadinha” vira verdade.
Até o improvável encontro de estrelas do quilate de Diane Keaton e Jeremy Irons em uma história de humor e amor dirigida por ele materializa-se como potencial blockbuster em suas mãos – afinal, ele passou as últimas duas décadas dirigindo Sandler. Love, Weddings & Other Disasters, traduzido literalmente aqui como Amor, Casamentos & Outros Desastres e que estreia nesta quinta-feira, 20, no Brasil, é o trabalho mais ambicioso do cineasta de 74 anos, que fez parte (essencial) da infância de muita gente após ter dirigido O Pestinha (Problem Child, 1990). O modo como ele recebeu o “sim” dos estúdios da Universal para dirigir as aventuras do peralta Júnior (Michael Oliver), há 31 anos, já valeria um filme.
“Sou ator desde que me entendo por gente e, já no final dos anos 1980, o máximo que eu havia dirigido era para televisão, como episódios da série A Gata e o Rato”, conta. “Recebi uma ligação me oferecendo para ler um roteiro de cinema que, àquela época, ninguém parecia querer dirigir. Nunca corri atrás de longas-metragens por acreditar que não era capaz disso. Mas li e fui a uma reunião com executivos que me perguntaram, de bate-pronto: ‘Você pode tornar esse troço engraçado?
Prove que você pode tornar isso em algo bem maluco’. Sei lá como aconteceu, mas, quando percebi, eu havia subido na mesa de reuniões do estúdio, andando em meio ao cafezinho de uma turma de engravatados poderosos, dizendo ‘Posso fazer isso ficar maluco, sim’. Desci da mesa. Fui embora pensando: ‘Pronto, acabou, estou acabado’. Uma semana depois me ligaram e o filme era meu. Dali, não parei mais”, conta Dugan por telefone ao Estadão, feliz pelas boas resenhas que Amor, Casamentos & Outros Desastres vem recebendo em outros países.
Nessa comédia romântica, o cineasta usa tudo o que aprendeu ao longo de quatro décadas como realizador para injetar sofisticação plástica às cartilhas da comédia romântica, em um filme sobre pessoas que se trombam em meio à busca pela paixão. Logo no início da trama, Jessie (Maggie Grace), famosa por destruir relacionamentos, tem uma chance de se redimir e ainda encontrar um amor. Ao mesmo tempo, o solteirão Lawrence (Irons, em uma atuação em estado de graça), especialista na produção de festas de casamento, tem um encontro com Sara (Diane), uma deficiente visual cheia de alegria. A trama conta ainda com um guia de turismo, Capitão Richie (Andrew Bachelor), que vai se encantar por uma Cinderela pós-moderna. A cada situação envolvendo esses personagens, Dugan afina a ironia que lhe deu fama em Hollywood.
“Se você souber escolher um bom fotógrafo, tudo num filme dá certo, sobretudo se for rodar em uma cidade como Boston, que tem uma luz natural linda. Nick Remy Matthews fotografou este meu novo filme buscando tudo o que a paisagem à nossa volta tinha de mais bonito, incorporando o lirismo que a gente buscava”, diz o cineasta, dizendo que a boa química com Irons e Diane se deve à sua vasta experiência como ator, iniciada em 1971.
“Como atuo há anos, conheço bem toda a angústia pela qual atrizes e atores passam para criar personagens sob holofotes ligados. Isso faz com que eu não me pareça com um chefe e, sim, outro colega de cena. No caso desse filme, enviei o roteiro para Diane sem qualquer expectativa. No dia seguinte, ela me disse ‘Sim’. Aí, resolvi chamar Jeremy, já esperando um ‘não’. Quando disse que ele contracenaria com Diane, ouvi: ‘Se ela vai fazer, conte comigo. Estou dentro’. Nem acreditei.”
Esbanjando humildade em sua maneira de lidar com sua trajetória como cineasta, Dugan deu à comédia cifras de fazer qualquer executivo hollywoodiano rir de orelha a orelha, como é o caso de Zohan: O Agente Bom de Corte (2008), cuja receita beirou US$ 204 milhões; a franquia Gente Grande (2010 e 2013), cuja bilheteria beirou os US$ 475 milhões; e o super-reprisado na TV Esposa de Mentirinha, que somou US$ 214 milhões com a venda de ingressos. O segredo do veterano diretor para fisgar o olhar e a gargalhada dos espectadores é a alquimia perfeita que desenvolveu com Adam Sandler ao longo dos anos. Aliás, ele foi um dos primeiros cineastas a dar uma chance para o mais popular comediante na ativa nos EUA desde o fim dos anos 1990.
“Sandler ainda não tinha estourado na TV nem no cinema quando eu conheci seu trabalho e vi o quão talentoso ele é. Seu grande diferencial está na habilidade única de trabalhar em equipe, a mesma equipe há duas décadas ou mais”, comenta. “Ele escreve, produz e atua, tendo sempre as mesmas pessoas ao seu lado, trabalhando com muita lealdade, controlando cada etapa do processo da indústria audiovisual. É um autor pleno. Mas, quando o conheci nos palcos e percebi essa força, custei para convencer as pessoas de sua potência. Lembro de tê-lo levado a diversas reuniões com estúdios para que apostassem em seu potencial. Cheguei a oferecer o nome dele e o de outro então novato, um tal Jim Carrey, para um mesmo projeto, mas nenhum dos dois foi aproveitado. Eu me envolvi com outros projetos e não estive mais com Sandler, nem com Carrey. Isso foi no começo da década de 1990. Um dia, acho que em 1995, recebi uma ligação com o convite para dirigir um filme chamado Um Maluco no Golfe. Disseram que o protagonista queria muito que eu dirigisse. Perguntei quem seria o astro. A resposta: ‘Um cara chamado Adam Sandler’. Daí, a gente não se largou mais”, continua Dugan, que faz uma participação em cena em Amor, Casamentos & Outros Desastres.
“Gosto muito de aparecer na frente das câmeras. E agora acredito que é o momento de eu voltar a me dedicar ao trabalho como ator. Quero atuar mais.”
Em seus planos, Dugan sabe que tem um inimigo pela frente: “A correção política vem tornando tudo muito chato na comédia. É preciso respeitar todas as diferenças, sempre, é claro, mas há que se encontrar alguma forma de ainda ser irônico – sem perder, logicamente, o cuidado”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.