“A água (de boa qualidade) é como a saúde ou a liberdade: só tem valor quando acaba” (Guimarães Rosa)
No dia 22 de março, comemoramos o Dia Mundial da Água – momento para nos conscientizarmos da sua importância para todos os seres vivos. Por compor 70% do nosso peso corporal, a água é elemento vital para nossa sobrevivência. Sem ela, diversas funções orgânicas, como a regulação da temperatura do corpo, não seriam realizadas. Sem água…simplesmente não há vida.
Oportunidade para reforçarmos também a necessidade do seu uso racional, como recurso natural finito que é. Segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), se o mundo mantiver esse ritmo de crescimento populacional, faltará água para cerca de cinco bilhões de pessoas no mundo até o ano de 2050 – metade da população mundial, portanto.
Se usarmos de forma consciente, haverá água para todos. Torneiras mal fechadas, banhos demasiadamente demorados, lavagem de calçadas, excessos na limpeza dos carros, dentre tantas outras práticas são exemplos do mau uso doméstico. E nesse ponto precisamos de uma mudança profunda no padrão de consumo.
Esse desperdício, entretanto, não é causado apenas pelos maus hábitos da população. No Brasil, 41% de toda a água tratada é perdida nas tubulações públicas antigas ou danificadas, ou ainda por obras mal realizadas. O Japão, por exemplo, desperdiça 10% e a Alemanha, apenas 9% – por sinal, a média dos países europeus. Por isso, o esforço do Congresso Nacional em aprovar, em 2020, o Novo Marco Legal do Saneamento, que trouxe padrões de qualidade e de eficiência a serem cumpridos pelas concessionárias.
Mas há também a questão da poluição. Segundo levantamento do SOS Mata Atlântica realizado em sete estados brasileiros, a água é ruim ou péssima em 40 por cento dos 96 rios, córregos e lagos avaliados. Nessa frente estamos trabalhando para controlar o desmatamento, com a aprovação, em 2021, da Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais – PSA, da qual fui relator – uma legislação que reconhece e remunera as ações em prol da manutenção na cobertura vegetal, especialmente no entorno de nascentes.
Durante minha gestão como secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (2015-2018), implementei o Projeto Nascentes, que, por exemplo, em Botucatu, protege 245 hectares no entorno dos cursos d’água, fundamentais para a recarga dos aquíferos. Com o PSA, poderemos recuperar mais e mais áreas de vegetação nativa, melhorando, desta forma, a qualidade da água e aumentando a vazão dos rios em bacias hidrográficas de importância estratégica para o país.
Registramos, em 2021, uma das maiores crises hídricas dos últimos 90 anos, que provocou desabastecimento em todo o País, e todos responsabilizaram São Pedro. É certo que o regime hidrológico dos últimos anos não foi muito favorável, mas especialistas defendem que a atual escassez hídrica está muito mais associada à falta de gestão do que à ausência de chuvas.
Vamos esperar para as torneiras secarem para dar o devido valor a esse recurso imprescindível?
Há uma frase, sem autor, que traduz bem o descaso com que tratamos os recursos hídricos no Brasil: “apenas quando o homem matar o último peixe, poluir o último rio e derrubar a última árvore irá compreender que não poderá comer o dinheiro que ganhou”.
A água é nosso recurso mais precioso. Precisamos agir, e rápido, em defesa dessa riqueza.