Renato Nalini *
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A sensação de que a democracia representativa está agonizando incomoda aqueles que acreditam na possibilidade de transformação do mundo por meio do sufrágio.
A juventude é o universo mais desalentado, pois recebe o impacto dos maus exemplos como um desmentido à doutrinação recebida em casa e na escola.
Prega–se a necessidade de ser correto, probo, honesto e só fazer o bem, mas a conduta do “andar de cima” é exatamente o contrário do discurso. Isso faz com que haja uma grande abstenção nas eleições brasileiras que, desde 1988, ocorrem a cada 2 anos.
Um interessante trabalho de Álvaro Augusto de Borba Barreto, publicado nos Cadernos Adenauer de junho de 2021 analisa os números das eleições de 2020 quanto à abstenção, votos brancos e nulos.Para o autor, o índice de abstenção nas eleições foi o mais alto do período com 23,15%de ausência. Só 22 anos antes, nas eleições de 1998, alcançara-se algo próximo, o índice de 21,49% de abstenção.
É muito alto o número dos que não se interessaram pelo pleito, considerando-se a proximidade do eleitor com os candidatos de sua cidade, o que não acontece com as eleições nacionais.
Indaga-se: o que justifica a abstenção? Se a pergunta é simples, as respostas são múltiplas e complexas. Há muita explicação sociológica, a associar a abstenção à carência de recursos econômicos. A miséria e a pobreza impedem que o eleitor compareça ao local da votação. Outra perspectiva é psicológica: o candidato não entusiasma o eleitor.
Este argumento é convincente. Os recentes episódios na vida político-partidária brasileira afastam os bem-intencionados e reforçam a convicção de que o território é reservado a quem tem interesses escusos ou não tem nada a perder.
Penso que a abstenção é mais um fenômeno atitudinal: manifestação de desencanto, senão de repúdio à política. O mais preocupante é que os ausentes, em regra, são os mais escolarizados, a faixa esclarecida que teria condições de influenciar a gestão da coisa pública e se omite.
Aqueles que alimentam ilusões quanto ao aprimoramento da democracia, precisam se articular e exigir que os partidos, nutridos com os vultosos Fundos Eleitoral e Partidário, cumpram sua obrigação de educar o eleitorado, para que a participação aumente. Será um resgate desse capital humano hoje alienado, por causa da imprevidência dos próprios profissionais da política.
* Reitor da Uniregistral, docente universitário, desembargador, presidente da Academia Paulista de Letras e autor de “Ética Geral e Profissional”: presidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo (2014-2015)