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Desbocada e debochada, Kate conquista público em ‘Vai na Fé’

Por Daniel Silveira

Quando Clara Moneke, 24, aparece na televisão como Kate (pode chamar de Katia ou Katelícia também), uma coisa é certa: as pessoas vão comentar nas redes sociais. A personagem rouba a cena nas inúmeras vezes em que aparece em Vai na Fé, novela da faixa das 19h da Globo.

Estreante nas novelas, Clara despontou como uma boa surpresa. Seu jeito debochado e espontâneo conquistou o público, mesmo ela não sendo 100% certinha. “Ela é a boca do povo, que cabe tudo, que fala tudo, diz as verdades mais difíceis de serem aceitas”, comenta a atriz, que celebra o sucesso da trama de Rosane Svartman e de sua personagem.

Kate é amiga de Jenifer (Bella Campos) e filha de Carla (Bruna Ferreira), que, por sua vez, é melhor amiga da protagonista Sol (Sheron Menezzes). Inicialmente, ela se envolve com o vilão Theo (Emílio Dantas) até descobrir que ele não era o mocinho que ela pensava. Depois de um tempo, ela se aproxima do filho de Theo, Rafa (Caio Manhente).

Para Clara, a personagem é tão querida pelo fato de ser “gente como a gente”. “Kate é o real, o nu e o cru sem medo de ser. Muitas vezes eu a vejo como uma porta-voz de uma parte da sociedade que não é muito ouvida”, pontua. “Tipo aquela música do Charlie Brown Jr. com Negra Li, que fala que o jovem no Brasil não é levado a sério. Ela (Rosane) leva a Kate a sério”, brinca.

Integrante do núcleo popular da novela, Clara aponta o que para ela é um dos motivos desse sucesso: Kate é uma mulher como muitas, inclusive como aquelas que assistem à novela. São histórias que se aproximam da realidade, com personagens que têm suas confusões e que, em sua maioria, não são totalmente bons ou maus.

Quando Vai na Fé começou a ser produzida e as primeiras notícias ecoaram, falava-se sobre uma história religiosa, uma aposta da Globo para resgatar o público evangélico que migrou para a dramaturgia bíblica da Record. E quando os primeiros capítulos foram ao ar, o que se viu foi um texto maduro, bem menos caricaturado do que foi imaginado, e divertido, como é costume na faixa de horário.

Representatividade

Uma das coisas que chama a atenção na novela é a proporcionalidade entre atores negros e brancos. Anos atrás, era incomum ver tantos pretos em uma produção como essa (exceto em tramas de época, quando a história se passava durante a escravidão). Em Vai na Fé, surpreende positivamente que eles estejam espalhados nos diversos núcleos, inclusive sendo protagonistas – Sheron e Samuel de Assis (Ben) vivem um casal que se desencontrou no passado.

Para Clara, esse é mais um dos pilares do sucesso da trama. “Acho que é a questão da história preta, suburbana, pobre, real, sendo contada de uma forma que não é caricata nem brutal”, pontua. “Ela tem a importância de mostrar que o preto e o pobre não são uma coisa apenas”, continua.

Ela questiona, no entanto, o fato de que tenhamos esperado tanto tempo para ver protagonistas ou personagens secundários negros com histórias próprias. “Dói muito que Vai na Fé faça tanto sucesso por ser diferente. É bom para mim, mas é difícil porque é a prova de que estamos atrasados”, lamenta.

Mas também há espaço para esperança. “Ainda assim é a confirmação de um novo futuro, de que mesmo atrasadas as coisas estão acontecendo, estamos conseguindo ter voz, ganhar espaço, ainda que muito longe do ideal. A grande importância disso é continuar a caminhada e quebrar com estereótipos.”

Portas abertas

Ao mesmo tempo em que celebra Kate e outros personagens negros na trama, ela questiona a ideia de representatividade. Segundo Clara, ela não quer apenas representar outras meninas pretas como ela. O que a atriz espera é que elas também tenham condições de estar onde ela conseguiu chegar.

“Quero fazer parte de um todo, de um grande casting de pessoas pretas dentro de uma novela ou no cinema”, diz. “Que essas meninas possam se ver de verdade, ter oportunidade de fazer um curso de teatro, que produtores de elenco conheçam o trabalho delas, que escolas e projetos sociais estejam vivos para que elas tenham oportunidades, para que a gente não represente mais. Para que a gente exista em igualdade.”

A atriz acredita que o audiovisual e grandes empresas de mídia, como a Globo, têm responsabilidades para que essa mudança aconteça, sabendo que ela também é parte dessa transformação. “A minha é fazer cada vez melhor o meu (trabalho), alcançar mais lugares e trazer outras pessoas comigo. Sonho e almejo um momento que eu possa ter uma grande equipe preta, que eu veja cada um e possa me enxergar neles.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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