Na manhã desta quinta-feira, 17 de outubro, o grupo do Partido Social Liberal (PSL) ligado a Jair Bolsonaro sofreu uma dura derrota com a consolidação do deputado Delegado Waldir (PSL-GO) como líder da bancada na Câmara. A estratégia de protocolar duas listas com um pedido de destituição de Waldir e a nomeação de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para o cargo falhou.
Bolsonaro havia atuado pessoalmente para tentar derrubar Waldir e emplacar o filho como líder da bancada. Em áudio vazado, ele pediu a parlamentares da sigla que assinassem a lista para destituir o deputado e apoiassem o nome do seu filho para o posto. O pedido foi gravado por um deputado não identificado.
Do outro lado, Delegado Waldir (PSL-GO) afirmou, em reunião interna da ala ligada ao presidente do partido, Luciano Bivar (PE), que vai “implodir” o presidente Jair Bolsonaro. “Eu vou implodir o presidente. Aí eu mostro a gravação dele. Não tem conversa. Eu implodo ele. Eu sou o cara mais fiel. Acabou, cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo. Eu andei no sol em 246 cidades para defender o nome desse vagabundo”, afirma Waldir.
Logo em seguida, alguém não identificado o alerta: “Cuidado com isso, Waldir.” À noite, ele recuou e disse não ter “nada” para usar contra o presidente Jair Bolsonaro. Afirmou também querer “pacificar” a bancada do partido. Na reunião, ocorrida no fim da tarde no gabinete da liderança do PSL na Câmara, deputados relataram que estavam sendo pressionados por Bolsonaro a assinar uma lista para destituir Waldir e apoiar o nome de Eduardo como líder da bancada.
Dois parlamentares relataram ter recebido os pedidos em reunião com o próprio presidente no Palácio do Planalto. “Os meninos chegaram lá e o presidente disse: ‘Assina se não é meu inimigo’”, diz uma das presentes. “Eu não consegui não assinar”, responde o deputado Luiz Lima (PSL-RJ). O deputado Loester Trutis (PSL-MS) também diz ter sido pressionado.
O deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) admitiu ter gravado a reunião da bancada do PSL em que o líder do partido chama Jair Bolsonaro de “vagabundo” e fala que vai “implodir o presidente”. De acordo com o parlamentar, o objetivo foi “blindar” o presidente 0na guerra declarada contra Bivar. “Era uma estratégia pensada. Eu, Carlos Jordy (PSL-RJ), Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Carla Zambelli (PSL-SP), Bia Kicis (PSL-DF). Todo o grupo do Jair para gente poder blindar o presidente”, afirmou Silveira.
De acordo com o parlamentar, a estratégia foi pensada em reunião de Bolsonaro com 20 deputados da qual participou na quarta-feira (16), por volta das 16 horas, no Palácio do Planalto. Lá, eles iniciaram o plano de se infiltrar no grupo de parlamentares ligados a Bivar. O áudio mostra ainda o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Felipe Franceschini (PSL-PR), admitindo o movimento do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para fundir o PSL e o DEM. O presidente da CCJ diz que não quer que aconteça, mas, para isso, a bancada deveria mostrar maior unidade em defesa do PSL e do presidente do partido, Luciano Bivar.
O PSL tem, hoje, 53 deputados e o DEM, 27. Juntos, teriam 80 deputados e se tornariam a bancada mais forte da Câmara. De acordo com Franceschini, o movimento de fusão está sendo alimentado por Maia. “Eles querem juntar os dois fundos (partidários). Fazer um partido com 100 deputados para a reeleição dele”, afirmou Franceschini.
Os filhos do presidente Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro, foram destituídos dos comandos dos diretórios do Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente. Segundo o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP), ambos foram desligados nesta semana. Desde segunda-feira (14), Eduardo não tinha mais acesso ao sistema do partido e que haviam lhe tirado uma senha que possibilitava a ele operar o sistema da legenda. O presidente do partido, Luciano Bivar, no entanto, disse que ainda não assinou as destituições. “Está tudo em processo lá no partido, mas não assinei nada”, afirmou.
As destituições são mais um capítulo da crise interna do partido que opõe parlamentares que apoiam Bivar aos aliados do presidente da República. O presidente Bolsonaro retirou nesta quinta-feira a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) da liderança do governo no Congresso. O substituto no cargo será o senador Eduardo Gomes (MDB-TO). Ele é vice-líder do governo no Senado atualmente.