Tribuna Ribeirão
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Depressão e as portas de saída

Refleti e concluí que seria bom compartilhar aqui. Então, aqui vai. Tenho visto pessoas na vida, próximas e outras que não conheço, que andam tristes, sofrendo com depressão. Pessoas, inclusive, imbuídas de tantas ideias boas, idealistas, que tanto bem podem fazer no mundo. Tivemos suicídios recentes em Ribeirão. Só na USP de Ribeirão noticiou-se recentemente quatro suicídios praticados esse ano. Em junho desse ano houve mais um suicídio no Shopping Santa Úrsula, de Ribeirão.

Depressão é uma doença, em minha opinião, a pior delas. Mas é absolutamente passível de tratamento e cura. E como doença, cumprindo com a função da doença, ela vem para nos mostrar algo que estamos fazendo errado ou que não estamos fazendo da melhor forma, e assim, nos fazer uma pessoa melhor. Foi nesse sentido que o pai da Medici­na, Hipócrates, disse que não existe doença, existe doente. Alguém que está doente. Não é doente, está, mas pode se curar e ser melhor.

Eu tive depressão em dois momentos da minha vida. Na primeira vez, eu tinha 9 anos. Na segunda vez, eu tinha 12. Duraram alguns anos. Algumas pessoas podem pensar “ah, mas você era uma criança, e na outra uma pré-adolescente, nem deve ter percebido”. Mas justamente por ser criança, e pré-adolescente, é que talvez possa doer mais, porque com tão pouca idade não temos tanto conhecimento e habilidade para lidar com dores emocionais.

Me lembro que quando o sol ia indo embora, e começava a escurecer, era o pior momento do dia, e eu vivia isso todo dia. Nesse momento, em nenhum lugar do mundo e com nenhuma pessoa eu me sentia bem, feliz e segura. Esse sofri­mento eu sentia todo dia. À noite era pior. Aos 14 anos, eu me curei. Nunca mais tive depressão. É claro que não sinto só alegria o tempo todo, ao contrário, vivo me equilibrando na corda bamba, com acontecimentos felizes e outros tristes.

Às vezes reclamo, só comigo mesma, não com outras pes­soas, mas na maioria das vezes, não reclamo, porque aprendi, ao tentar me equilibrar, que é melhor mesmo a corda ser bamba, porque quando ela está muito “esticadinha” a chance dela se romper é muito maior do que quando está bamba. É tentando se equilibrar que a gente encontra o equilíbrio, assim como o caminho da paz é com a própria paz que trilha­mos, e não com a guerra.

E o que fez, então, eu superar a depressão que me atin­giu e nunca mais tê-la? Na experiência que tive, superei a depressão ao buscar autoconhecimento e ao olhar mais para as outras pessoas, suas vidas e suas dificuldades. Foi quando comecei a estudar autoconhecimento e olhei mais para as outras pessoas, enxerguei suas vidas e ouvi mais, que senti menos o que, supostamente, era um problema para mim, e vi mais onde podia me lapidar e ser melhor.

Exatamente como disse Sócrates, “conhece-te a ti mesmo”, e exatamente como aquela estória do copo de sal repartido no mar. A vida estava muito salgada enquanto eu estava olhan­do só para o copo com sal que eu segurava e bebia com um pouco de água. Quando eu soltei aquele copo no mar, ele se dissolveu nas águas salgadas do mar.

Dos estudos do autoconhecimento ainda desenvolvi um otimismo e esperança que nunca havia tido. O estudo e o conhecimento, como se diz, realmente são libertadores.

Existe harmonia, equilíbrio e beleza na vida, e é, sobretudo no caos, que a gente pode enxergar isso. Minha experiência foi essa, e nunca mais tive depressão. Tenho sim, como disse, as nuances de acontecimentos bons e ruins, que continuam a me ensinar e me lapidar, e desde então vivo esses aconteci­mentos com otimismo, esperança e luta, com o sentimento e o pensamento de que, com boas lutas, otimismo e esperança, tudo vai dar certo e amanhã vai ser ainda melhor.

O que escrevi aqui eu quis dizer com muito respeito e amor. Torço para que eu tenha conseguido. Amorosos abraços.

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