A demanda por músicas religiosas na fase intensa do isolamento da pandemia criou um fenômeno de público em Ribeirão Preto. Com as igrejas fechadas naquele momento, o apresentador Anderson Nogueira reuniu alguns amigos músicos e, na cozinha da uma amiga, abriu uma live no Instagram. Não imaginava então que chegaria a ter uma equipe de 62 pessoas, entre voluntários e contratados, e a cantar duas vezes no Theatro Pedro II, terceiro maior teatro de ópera do país com o projeto.
“Na primeira live, nos reunimos ali para rezar e cantar, não tinha nem nome, mas deu mais de mil pessoas. Passado alguns dias, pensei em fazer de uma forma melhor e fomos para um estúdio. Entraram duas mil pessoas. Foram compartilhando uns com os outros”, conta.
Anderson cantava na Igreja durante a infância e chegou a cantar em casamentos, mas já estava em outra área quando começou o projeto Live do Amor. “Chegamos a ter 60 mil pessoas on-line. Hoje, somando os vídeos do nosso canal e os de replicadores, como a Radar Records, já estimamos mais de 1 milhão de views nas 11 lives que fizemos”, conta o artista.
Toda a produção das primeiras transmissões era feita com um celular. “Um circuito de lives que começou na explosão da pandemia, no meio do caos, sendo feito pelo celular na cozinha de uma das integrantes e, quando percebemos, estávamos numa equipe de quase 62 pessoas, mais de 30 patrocinadores, batendo recordes de audiência e visualizações pelo YouTube”, relembra o cantor, que hoje conta com 93,2 mil seguidores no Instagram (@ anderson_nogueiratv).
O objetivo das lives era levar conforto a quem estava confinado em casa e Anderson afirma que doou toda sua parte dos ganhos para instituições de caridade de sua paróquia. “Toda live a gente achava que seria a última, porque não era um projeto para fazer dinheiro, mas para ajudar as pessoas naquele momento. A gente não programou nada disso”, lembra.
Economia do Amor
O que começou como uma ação solidária e de apoio a quem estava com medo e isolado, cresceu e tornou-se uma fonte de renda para artistas e outros profissionais que estavam sem trabalho durante a pandemia.
“No fim virou sustento para mais de 60 pessoas que participavam, entre músicos, produtores, cinegrafista, som, maquiagem, cabeleireiro, camareiro, foi profissional durante um ano, com grandes patrocinadores”, relata o cantor. O sonho do cantor agora é fazer uma Live do Amor com público presencial, em Ribeirão Preto, para agradecer pessoalmente quem o acompanhou no digital ao longo do projeto.
Que som é esse?
Anderson diz que não se preocupa com a religião na hora de escolher o repertório, que inclui muitas músicas evangélicas. O que se percebe ao ouví-lo, porém, é uma mistura nova, que traz letras de louvor e um ritmo romântico que remetem ao sertanejo interiorano e criam imensa empatia no público. “Eu canto para todas as religiões, eu só chamo de música sacra”, diz.
Foram 11 lives entre abril e outubro, cada uma com cerca de três horas de duração, incluindo uma no espaço turístico e religioso Sete Capelas e outra no Pedro II.
O show Live do Amor de Anderson foi exibido ainda em dois especiais de Natal, um na TV local e outro da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto. A primeira, exibida no dia 25 de dezembro, teve 45 minutos de duração. A segunda foi contratada pela orquestra e contou com recursos da Lei Rouanet.
“Nós recebemos e pagamos os profissionais da equipe e nos apresentamos pelo canal da Orquestra, não transmiti pelo meu e todas as doações foram para a orquestra nessa ocasião”, esclarece.
Reconhecimento católico
O fenômeno de audiência da iniciativa chamou a atenção da Rede Vida, principal emissora católica e religiosa do país. Anderson, que é católico, diz que nunca ficou tão nervoso. “Era criança e meus pais já rezavam o terço todos os dias assistindo a Rede Vida. Nem com convite do programa da Ana Hickman eu fiquei tão nervoso”, brinca.
Ele foi convidado a contar a história da Live do Amor em âmbito nacional em dois programas da emissora no dia 8 de dezembro deste ano. “Encaro tudo isso com uma confirmação que a nossa missão é muito maior do que imaginamos, e o que é da vontade de Deus nenhum ser é capaz de mudar! Nossa senhora e seu filho Jesus me honram com mais esse momento!”, diz.
Sobre Anderson Nogueira
Anderson Nogueira começou a cantar na Igreja quando tinha 11 anos de idade. Formado em administração de empresas e enfermagem, foi trabalhar em resgate e deixou de cantar por falta de tempo. Entrou depois em uma empresa na área de recursos humanos, retomou a música na Igreja, mas logo parou de novo ao ingressar em um novo emprego no qual era preciso viajar muito. “Aí veio a pandemia e criei a Live. Porque foi um baque. Criei pelo sofrimento das outras pessoas, que acabou sendo o meu também, a gente não sabia também onde ia parar e veio essa vontade muito grande de falar de Deus e do amor”, explica o cantor, que hoje trabalha como apresentador.