O presidente destituído do Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto (SSM/RP), Wagner Rodrigues, admitiu ter recebido R$ 1,2 milhão de propina da advogada Maria Zuely Alves Librandi entre junho de 2013 de dezembro de 2015. Em dois depoimentos anteriores ao Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), o sindicalista havia dito que o valor era de R$ 160 mil. Os dois são réus na ação penal da Operação Sevandija que investiga fraude e pagamento de suborno envolvendo os honorários advocatícios dos 28,35% (Plano Collor).
Wagner Rodrigues fechou acordo de delação premiada com o Gaeco e aguarda ao julgamento em liberdade – ele o advogado André Soares Hentz são os únicos réus desta ação penal que estão em liberdade. O depoimento do ex-sindicalista ao juiz Lúcio Alberto Enéas da Silva Ferreira, da 4ª Vara Criminal de Ribeirão Preto, estava marcado para esta segunda-feira, 13 de novembro, mas foi adiado para dia 20 exatamente porque a defesa dos demais acusados tiveram acesso à investigação do Ministério Público Estadual (MPE) que apura a lavagem de dinheiro na propina que teria sido distribuída e desconfiaram do patrimônio declarado pelo delator.
Segundo as defesas – entre elas a da ex-prefeita Dárcy Vera e de Maria Zuely –, Wagner Rodrigues mentiu na colaboração premiada, ocultando do Gaeco patrimônio que adquiriu nos últimos anos. Apesar disso, os promotores tentaram, junto ao magistrado, manter o depoimento de Rodrigues, alegando que ele poderia esclarecer divergências e responder às perguntas das defesas dos demais réus, mas o juiz negou o pedido. O ex-presidente do SSM/RP confessou que foram feitos 32 depósitos em sua conta corrente entre 2013 e 2015. Leandro Librandi, filho da ex-advogada do sindicato, diz que o dinheiro foi repassado à entidade que Rodrigues presidia e que ele não deveria ter depositado o dinheiro em conta particular.
O advogado do ex-presidente do SSM/RP, Daniel Rondi, afirma que a nova declaração de Rodrigues foi feita dentro do prazo estipulado pelo Gaeco. Nesta terça-feira (14), quem deve depor é Sandro Rovani, também ex-advogado do sindicato e amigo de Maria Zuely, acusado de ser o responsável pela distribuição da propina.
Rovani também é acusado de intermediar o contato de Maria Zuely com o ex-secretário de Administração, Marco Antonio dos Santos, e Dárcy Vera, que liberariam o dinheiro mediante pagamento de propina. No dia 20 será a vez de Maria Zuely e, em 27 de novembro, o advogado André Soares Hentz, que auxiliou a advogada para o recebimento dos honorários advocatícios, estará no banco dos réus. Ele nega a prática de atos ilícitos, diz que recebeu pagamento legal por ser defensor de Maria Zuely e não tem nada a ver com o esquema.
De acordo com o Ministério Público, corre uma investigação – Procedimento Investigatório Criminal (PIC) – para apuração da quantidade de dinheiro que foi desviado neste esquema, e para onde esse dinheiro foi. O juiz Lúcio Alberto Enéas da Silva Ferreira agendou para 5 de dezembro o depoimento da ex-prefeita Dárcy Vera. Ela é acusada por Wagner Rodrigues de ter recebido propina de R$ 7 milhões de Maria Zuely.
Em 30 de novembro, será ouvido Marco Antonio dos Santos, que está preso em Tremembé, no Vale do Paraíba, ao lado de Rovani, Dárcy Vera e Maria Zuely – apenas Rodrigues e Hentz respondem em liberdade. O juiz Lúcio Alberto Enéas da Silva Ferreira já ouviu as testemunhas de acusação, inclusive agentes da Polícia Federal que participaram das investigações. A ex-prefeita está detida desde 19 de maio, acusada de chefiar um esquema que desviou R$ 230 milhões dos cofres públicos – nesta ação, o valor desviado seria de R$ 45 milhões, por meio de fraude no acordo dos 28,35% dos servidores.
Afora Rodrigues, todos os demais acusados negam qualquer participação nos crimes investigados pelo MPE e Polícia Federal – corrupção ativa e passiva e associação criminosa. O processo dos honorários advocatícios é um dos três pilares da Sevandija, que também apura fraudes em licitações do Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto (Daerp) e pagamento de propina, apadrinhamento e processos licitatórios suspeitos da Companhia de Desenvolvimento Econômico (Coderp).