Todos os dias a Secretaria Municipal de Assistência Social de Ribeirão Preto realiza o recâmbio de cinco pessoas. Regra geral são indivíduos em situação de vulnerabilidade social, os chamados andarilhos, que não tem como se locomover até o local para onde pretendem ir e dependem da ajuda do poder público. Por mês, uma média de 160 pessoas são recambiadas.
O objetivo do serviço – oferecido há muitos anos pelo município -, é disponibilizar passagem de ônibus intermunicipal para quem chega à cidade e não tem como voltar ao local de origem ou deseja se transferir para outro município. Para isso, a Prefeitura de Ribeirão Preto disponibiliza passagens em empresas de ônibus intermunicipais que realizam este transporte em linhas convencionais.
A maioria dos beneficiados pelo recâmbio são pessoas atendidas pela Casa de Passagem – a antiga Central de Triagem e Encaminhamento ao Migrante, Itinerante e Morador de Rua de Ribeirão Preto (Cetrem) –, localizada no Jardim Salgado Filho I, na Zona Norte da cidade. O equipamento oferece aos migrantes um local para que possam se alimentar, fazer a higiene pessoal e dormir durante um determinado tempo. Vale ressaltar que as pessoas que não querem deixar a cidade não são obrigadas.
O total de recambiados por Ribeirão Preto já foi maior. Entre 1º de janeiro e 30 de setembro de 2019, Ribeirão Preto “devolveu” 1.862 pessoas em situação de vulnerabilidade social. Na época, os dados foram solicitados pelo Tribuna e mostraram uma média de 206 pessoas recambiadas por mês, quase sete por dia (6,8). Naquele período foi realizado o recâmbio para 40 cidades paulistas e mineiras. No novo levantamento, solicitado pelo Tribuna, não foram divulgadas as cidades com maior número de recâmbios.
Em 2019 a distância máxima disponibilizada era para municípios distantes, em media, até 150 km de Ribeirão Preto. Mas, isso mudou um pouco e, segundo a Secretaria de Assistência Social, atualmente o atendimento busca priorizar a real necessidade da pessoa. “Se for necessário, é articulado com outros municípios para garantir o recâmbio de percurso. Ou seja, ele vai até o município em que temos passagem e em contato com o serviço daquele município dá-se a continuidade do trajeto até o destino final”, afirmou em nota a Secretaria.
Doação de cestas básicas multiplicou na pandemia
Desde o começo da pandemia do coronavírus a Secretaria de Assistência Social de Ribeirão Preto aumentou a doação de cestas básicas para pessoas em situação de vulnerabilidade. O total mensal que era de 250 cestas em março do ano passado subiu para uma média de seis mil cestas por mês, entre abril do ano passado e outubro deste ano. O que totaliza 114 mil cestas básicas emergenciais doadas.
Entre as ações implementadas pela Secretaria, em função da pandemia, está a criação em março deste ano da Central de Atendimento e Cadastro Emergencial (Cacem) para a solicitação de cesta básica emergencial. A Central já recebeu 40.806 ligações e concedeu 28.730 cestas básicas emergenciais.
Em fevereiro deste ano também foi criado o projeto NutriAção, exclusivo para famílias em situação de vulnerabilidade social que vivem nas 105 comunidades (favelas) da cidade. O objetivo é distribuir kits alimentares, fazer o cadastro e referenciamento das famílias para que tenham acesso aos programas federais, estaduais e municipais. Até o mês de outubro foram distribuídos mais de 9 mil kits alimentares. Dados da Central Única das Favelas (CUFA) revelam que, cerca de, 45 mil pessoas vivem em favelas na cidade.
Espaço para animais de moradores de rua
A nova unidade do Restaurante Bom Prato que será construída no Centro de Ribeirão Preto terá espaço pet e estrutura para atendimento de pessoas em situação de rua. O restaurante será construído na rua Lafaiete, altura do número 60 e deverá ser referência no programa estadual, com um novo conceito estrutural, que visa o acolhimento às pessoas em situação de vulnerabilidade social.
A unidade contemplará um espaço pet com o propósito de acolher os cães de estimação dos frequentadores do restaurante, especialmente aqueles que estão em situação de rua. A iniciativa visa incluir o maior número de pessoas, inclusive as que por muitas vezes deixam de utilizar o restaurante popular, por não ter onde deixar seus cães. Trata-se de um espaço seguro, que abrigará os animais enquanto seus donos fazem suas refeições.
Um anexo para o acolhimento prioritário às pessoas em situação de vulnerabilidade social e que fazem uso do restaurante também faz parte do projeto. Serão prestados serviços de higiene, como banho, oferecimento de roupas limpas, corte de cabelo e barbearia, permitindo maior dignidade às pessoas que mais precisam. No equipamento serão prestadas informações e triagem para os diversos programas da Secretaria da Assistência Social. Quando for inaugurada, a atual unidade do Bom Prato Central, que funciona na Rua Saldanha Marinho, será desativada.
Ribeirão tem 1.127 pessoas morando nas ruas
Levantamento do Serviço Especializado em Abordagem Social (SEAS), de Ribeirão Preto revela que existem 1.127 pessoas em situação de rua em Ribeirão Preto. O Serviço é ligado à Secretaria de Assistência Social.
De acordo com os dados, a maioria dos moradores de rua são homens, com idade entre 30 e 45 anos, que não completaram o ensino fundamental e que fazem uso de álcool e outras drogas, tendo predominância o consumo de álcool, crack, e com transtornos psiquiátricos associados.
As mulheres são minoria, mas elas estão distribuídas em todas as faixas etárias. Assim como os homens, elas são dependentes de crack, vítimas de violência de gênero e tem alta incidência de transtorno psiquiátrico.
Segundo o município a característica transitória e migratória dos moradores de rua de um bairro para outro e para outros municípios dificulta a realização de um censo populacional. Outra dificuldade listada é o caráter voluntário, ou seja, a disposição deles, em informar dados pessoais.
Entretanto, a Secretaria destaca que equipes técnicas da pasta realizam de forma continuada e programada a busca ativa, com o objetivo, dentre outros, de identificar nos territórios a incidência de pessoas em situação de rua.
“Cabe informar que, os serviços que prestam atendimento a essa população, realizam não apenas o registro censitário, mas também coleta de dados que contribuem para o processo de reinserção social e familiar da pessoa em situação de rua”, afirma.