Por Felipe Rosa Mendes
Lewis Hamilton terá neste domingo, a partir das 16h10 (de Brasília), no GP do México, a primeira de quatro chances de selar o hexacampeonato na Fórmula 1. Uma combinação de resultados envolvendo o finlandês Valtteri Bottas, seu companheiro na Mercedes, pode assegurar o feito no Autódromo Hermanos Rodríguez. Se o título vier, o piloto inglês vai confirmar uma nova e poderosa dinastia na categoria, com cinco troféus em apenas seis anos, algo comparável somente a lendas como o argentino Juan Manuel Fangio e o alemão Michael Schumacher.
O inglês larga em terceiro neste domingo. Fez o quarto tempo no treino oficial, mas ganhou uma posição porque Max Verstappen, que com 1min14s578 fizera a pole position, foi punido com a perda de três posições por não ter reduzido a velocidade quando Bottas bateu. Charles Leclerc herdou a pole com Sebastian Vettel completando a primeira fila da Ferrari. Bottas larga em sexto.
Para faturar o hexa no México, com três etapas de antecedência, Hamilton precisará somar 14 pontos a mais que Bottas. Entre diversas combinações, ele será campeão se vencer a corrida e conquistar o ponto extra pela volta mais rápida desde que o companheiro de equipe não passe do quarto lugar. Ou se apenas faturar a vitória na prova e Bottas ficar em quinto. Caso o título seja confirmado, será a terceira vez seguida que o inglês se sagrará campeão em solo mexicano.
Estes feitos obtidos em anos consecutivos já tornam Hamilton um nome quase hegemônico em sua “era”. Raros foram os pilotos que impuseram tal domínio por temporadas seguidas. Os nomes mais conhecidos são Fangio e Schumacher, mas o alemão Sebastian Vettel também fez história no início da década ao empilhar quatro títulos seguidos, entre 2010 e 2013, pela Red Bull.
No quesito títulos consecutivos, Schumacher segue imbatível. Foram cinco troféus, entre 2000 e 2004, ano em que assombrou o mundo com sua Ferrari ao vencer 13 das 18 corridas da temporada. A dinastia do heptacampeão foi complementada ainda pelo bicampeonato de 1994 e 1995, pela Benetton. Dos seguidos recordes batidos à época, um deles segue em pé: o número de 91 vitórias.
Mas esta estatística está com prazo de validade, digamos, “perto de vencer”. Hamilton já soma 82 e tem contrato com a Mercedes até 2020. O inglês, contudo, já supera o alemão no aproveitamento geral, exibindo domínio maior em sua “era”. Na comparação vitórias por número de corridas, o piloto da Mercedes exibe a marca de 33,3% (82 triunfos em 246 provas), contra 29,6% (91/307) de Schumacher.
Se for campeão neste domingo, Hamilton superará o alemão ainda com maior vantagem no aproveitamento nas temporadas. Será de 46,1% (seis títulos em 13 campeonatos), contra 36,9% (sete em 19).
Mesmo com o troféu do ano, o inglês vai continuar atrás de Fangio. O pentacampeão exibe 47% de aproveitamento no mesmo quesito. E também é superior no rendimento de vitórias por corrida: 62,5%. Não por acaso. O argentino foi um fenômeno na década de 50. Foram quatro conquistas seguidas. Venceu 24 das 51 provas que disputou, praticamente a metade. Em 1954, o domínio era tal que venceu seis das nove etapas.
Como se isso não bastasse, Fangio ainda não foi superado em outras estatísticas importantes, como o aproveitamento de pole position (56,9%) e de pódios (68,7%). O inglês exibe 35,4% e 60,2%, respectivamente. O argentino também é reconhecido por ser o único a ser campeão por quatro equipes diferentes. Hamilton e Schumacher venceram em dois times e Vettel defendeu apenas um como dono do troféu.
Para o bicampeão Emerson Fittipaldi, os números mostram que Hamilton precisará mostrar ainda mais serviço para superar o argentino. “Todos têm um momento, este é o de Hamilton. E hoje é uma época diferente, como foi a de Schumacher”, diz o brasileiro à agência EFE.
O francês Alain Prost, dono de quatro títulos na F-1, evita comparações. “É sempre difícil comparar gerações porque acho que é muito complicado ser um multicampeão em um período, principalmente quando o nível de performance dos times era de altos e baixos. Hoje é diferente, mas não tira o mérito dele. Lewis é certamente um dos melhores. É difícil ser campeão todo ano ou quase todo ano”, afirma o ex-rival de Ayrton Senna.
Se ainda não pode alcançar Fangio, o piloto inglês pode ostentar o domínio atual incontestável. Nos últimos anos, só não levou o caneco em 2016, quando foi vice diante da conquista do alemão Nico Rosberg, seu então parceiro na Mercedes. Nem mesmo o tetracampeão Sebastian Vettel vem conseguindo impor resistência ao britânico. O piloto da Ferrari tem aproveitamento de 30,8% no quesito títulos por temporada. E de 22,5% em vitórias por corrida.
A dinastia criada pelo inglês já é reconhecida pelas principais lideranças da F-1. “Muito do sucesso da Mercedes nos últimos anos se deve a Lewis Hamilton. É um piloto incrível, que está reescrevendo a história deste esporte a sua própria maneira”, afirma Ross Brawn, atual diretor técnico da F-1, com passagens pela Ferrari e pela própria Mercedes.
Acostumado a comandar pilotos como Schumacher, Brawn não esconde a surpresa com a evolução do inglês desde o primeiro título, obtido com a McLaren, em 2008. “Você simplesmente não sabe de onde vem o desempenho dele. Todo mundo acha que sabe qual é a referência e, de repente, ele faz algo que muda a referência. Tive a sorte de ver isso às vezes com Michael Schumacher. Vi também com Ayrton Senna.”
Apesar do domínio recente, o inglês não é unanimidade. Para o escocês Jackie Stewart, tricampeão da F-1, Hamilton conta com a vantagem dos altos investimentos da Mercedes. “Hamilton demonstrou que é o melhor, mas também é o que possui mais recursos porque sua equipe é a que mais investe, até mais que a Ferrari.”