Tribuna Ribeirão
Artigos

De frustrações e conflitos cotidianos 

Rosemary Conceição dos Santos* 

O público brasileiro acostumou-se a ver Fernanda Torres no cinema, no teatro ou na televisão. Em filmes premiados, novelas ou séries globais, ela se firmou como uma das mais versáteis atrizes brasileiras, capaz de atuar num arco dramático que vai da comédia escrachada ao denso drama psicológico.  

Nascida no Rio de Janeiro em setembro de 1965, há 35 anos Fernanda mantém uma carreira de sucesso no teatro, no cinema e na televisão, tendo recebido, entre outros, o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes de cinema de 1986. Colunista da Folha de S.Paulo, da Veja Rio e colaboradora da revista Piauí, “Fim” é seu primeiro romance. Nele, ela consolida sua transição para o universo das letras e mostra que nesse âmbito é uma artista tão completa quanto no palco ou diante das câmeras. 

O livro focaliza a história de um grupo de cinco amigos cariocas. Eles rememoram as passagens marcantes de suas vidas: festas, casamentos, separações, manias, inibições, arrependimentos. Álvaro vive sozinho, passa o tempo de médico em médico e não suporta a ex-mulher. Sílvio é um junkie que não larga os excessos de droga e sexo nem na velhice. Ribeiro é um rato de praia atlético que ganhou sobrevida sexual com o Viagra. Neto é o careta da turma, marido fiel até os últimos dias. E Ciro, o Don Juan invejado por todos – mas o primeiro a morrer, abatido por um câncer. Figuras muito diferentes, por certo, mas que partilham não apenas o fato de estar no extremo da vida, como também a limitação de horizontes. Sucesso na carreira, realização pessoal e serenidade estão fora de questão – ninguém parece ser capaz de colher, no fim das contas, mais do que um inventário de frustrações. 

Ao redor deles pairam mulheres neuróticas, amargas, sedutoras, desencanadas, descartadas, conformadas. Paira também um padre em crise com a própria vocação e um séquito de tipos cariocas frutos da arguta capacidade de observação da autora. “FIM” fala sobre morte e velhice, mas passa longe de melodramas, e celebra a vida desses homens tão interessantes em suas diferenças e suas parceiras igualmente marcantes. Mostra a realidade cruel, a melancolia inevitável, o impacto a longo prazo de pequenas e grandes escolhas, as dificuldades absurdas dos relacionamentos, a solidão e os problemas da velhice que preferimos ignorar.  

Um trecho: “Casei depois do Ciro e fui um dos últimos a me separar. Em dez anos, todos fizeram o mesmo. O Neto não. O Neto encarou a Célia até o fim. Coitado, nunca soube o que é ficar no banheiro de porta aberta, dormir com a televisão ligada, fumar no quarto, comer na cama e não ter que conversar e nem que assistir novela (…) Foram as mulheres que me fizeram perder o interesse. Chatas, chorosas, carentes, adoram botar a culpa da infelicidade delas em quem está ao lado. Eu nunca dei trela. Mulher fica esperando que você diga meio ai para descarregar três páginas de folhetim na sua orelha. Como falam, meu Deus, não cansam de tagarelar. Depois, abrem o berreiro para o otário ter pena delas. Não gosto de mulher. Aliás, não gosto de ninguém”. 

Professora Universitária* 

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