Tribuna Ribeirão
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Daniel Silveira – Bolsonaro tem 10 dias para explicar indulto

MARCELLO CASAL JR./AG.BR.

A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu prazo de dez dias para o presidente Jair Bolsonaro (PL) explicar o perdão concedi­do ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ). O decreto presidencial com o indulto ao parlamentar foi publicado na quinta-feira, 21 de abril, menos de 24 horas após o STF conde­nar o parlamentar a oito anos e nove meses de prisão por ata­ques à Corte Máxima, à Cons­tituição e à democracia.

Em despacho na noite de segunda-feira (25) a ministra afirma que o assunto tem “rele­vância e especial significado para a ordem social e a segurança ju­rídica”. Além da manifestação do presidente, Rosa Weber abriu prazo para a Advocacia-Geral da União (AGU) e a Procura­doria-Geral da República (PGR) enviarem seus pareceres sobre o decreto de indulto.

A decisão da ministra ocor­reu no âmbito de ações apresen­tadas por partidos de oposição que contestam o perdão a Silvei­ra. Ao menos quatro processos foram protocolados no Supremo desde que Bolsonaro anunciou o indulto. Os partidos contestam dois pontos principais: a conces­são do perdão antes do trânsito em julgado da condenação de Silveira e a proximidade do pre­sidente com o parlamentar, o que violaria o princípio de impessoa­lidade na administração pública.

Além da reação de parti­dos, entidades da sociedade civil também se mobilizam contra o decreto. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) encaminhou um “informe ur­gente sobre violação de Direitos Humanos” à Organização das Nações Unidas (ONU). O texto afirma que o perdão concedido por Bolsonaro ao parlamentar “afronta a democracia, a sepa­ração de Poderes, a indepen­dência do Judiciário e a admi­nistração da Justiça”.

O documento, elaborado pelo advogado Carlos Nicode­mos, foi enviado ao relator es­pecial da ONU sobre Indepen­dência de Juízes e Advogados, Diego García-Sayán. Uma reu­nião com o relator e outras en­tidades da sociedade civil tam­bém foi solicitada, afirmou o presidente da associação, Paulo Jeronimo. A ABI espera que o órgão internacional se “posicio­ne sobre as violações ocorridas com uma nota pública”.

A Justiça Federal do Rio de Janeiro deu 72 horas para a União explicar o perdão concedido pelo presidente Jair Bolsonaro a Da­niel Silveira. O juiz federal subs­tituto Carlos Ferreira de Aguiar respondeu a uma ação popular assinada pelos advogados An­dré Luiz Figueira Cardoso e Rodolfo Roberto Prando.

Inelegível
O ministro do Supremo Tri­bunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou que a Corte pode analisar se o indulto presidencial ao deputado Da­niel Silveira está de acordo com a Constituição e que o ato não deve livrar o parlamentar da inelegibilidade.

“Apesar de o indulto ser ato discricionário e privativo do chefe do poder Executivo, a quem compete definir os requi­sitos e a extensão desse verda­deiro ato de clemência consti­tucional, a partir de critérios de conveniência e oportunidade, não constitui ato imune ao ab­soluto respeito à Constituição Federal”, escreveu Moraes.

A tese consta em despacho na ação penal em que Silveira foi condenado. O ministro re­forçou que “o Poder Judiciário tem o dever de analisar se as normas contidas no decreto de indulto, no exercício do caráter discricionário do presidente da República estão vinculadas ao império constitucional”.

Moraes destacou que a cons­titucionalidade do decreto de in­dulto presidencial será analisada em ações de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) relatadas pela ministra Rosa We­ber, que nesta terça-feira abriu prazo de dez dias para Bolsonaro se manifestar acerca do ato.

Para o ministro, contudo, está claro que Silveira, mesmo com o perdão de pena pelo pre­sidente da República, deve se tornar inelegível em função da Lei da Ficha Limpa. O deputa­do foi à Câmara nesta terça-fei­ra sem utilizar a tornozeleira eletrônica, de uso mandatório desde que deixou a prisão.

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