São várias questões envolvendo os dados. A Secretaria Municipal de Saúde argumentou, pelo Plano Municipal de Saúde 2017-2021, publicado no site oficial do município, que Ribeirão Preto estaria “acima da média mundial e nacional de leitos psiquiátricos”. A média mundial é calculada com base na soma entre países com muita estrutura e aqueles sem estrutura alguma, alguns da África, o que a torna um parâmetro assistencial muito ruim e baixo. Por isso, a Organização Mundial de Saúde e a Associação Brasileira de Psiquiatria recomendam outro parâmetro :45 leitos por 100 mil habitantes como mínimo aceitável.
O fato é que dos poucos leitos psiquiátricos desta região, muitos não parecem estar “operacionais”, o que agrava a situação. Desde o início de 2018, aparecem leitos hospitalares não ocupados, apesar de filas de espera de 100 pessoas em pronto-socorros. Apenas entre 130 e 140 leitos aparecem regularmente ativos ou operacionais. Divididos pelo número de habitantes da região, temos 8,78 a 10,24 leitos ativos para cada 100 mil habitantes, índice abaixo de qualquer média: nacional, mundial ou do continente americano.
O sistema tem alguns leitos adicionais (15) na Unidade de Acolhimento Dona Nair e no CAPS III, todos de gestões anteriores à atual prefeitura. São 15 leitos a mais para uma área de 669.180 habitantes. Cinco ainda da gestão do doutor Oswaldo Cruz Franco. Isso acrescenta 2,24 leitos para cada 100 mil habitantes. Mesmo que os consideremos, ainda resultaria em um índice muito baixo de leitos por habitante. Mas, quando se incluem leitos extra hospitalares (de CAPS ou Unidade de Acolhimento), o enquadramento da Organização Mundial de Saúde também muda e a “média mundial” vai para 16,4 leitos para cada 100 mil habitantes.
Em outras palavras, a Secretaria de Saúde, ao declarar que têm 15,17 leitos para cada 100 mil habitantes, já admitiu oficialmente que Ribeirão Preto está abaixo da baixa média mundial que é de 16,4 leitos psiquiátricos por habitante.
Seguramente, houve uma tentativa ideológica de alguns técnicos da área de saúde mental do município, mais radicais e apegados à “reforma psiquiátrica” de, adicionando estes outros leitos extra hospitalares, tentar diminuir a dimensão do problema. A espaventada tentativa terminou desastrosamente expondo ainda mais a Prefeitura. Resolver os problemas seria melhor do que apenas “mexer” nos números.
Quando uma família aguarda desesperadamente em um pronto-socorro por dias, o que menos importa é a linda ideologia radical de esquerda à qual pertencem alguns técnicos de saúde que se dizem contra qualquer internação em psiquiatria. Países ditos de esquerda têm mais leitos do que o Brasil. Ferreira Gullar era jornalista, foi membro ativo da esquerda, desesperou-se em ver a ausência de cuidados com os filhos com esquizofrenia. Criticou abertamente como pôde todo este radicalismo estúpido e sem sentido que, no fundo, falando em defender os doentes, na verdade os abandona. O próprio Ministério de Saúde mudou e se colocou, a partir de 17 de dezembro de 2017, passando a fazer exatamente a mesma crítica que fazíamos há anos.