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Dados de tentativas e suicídios em Ribeirão Preto são alarmantes

ALFREDO RISK

Falar em suicídio é sem­pre um tabu, mas não debater o assunto pode agravar ainda mais a situação crítica da saúde mental em tempos de pande­mia. Dados oficiais da prefei­tura de Ribeirão Preto con­firmam que, depois de queda no número de tentativas e mortes por suicídio em 2020, primeiro ano da pandemia da covid-19, em 2021 o cenário foi oposto e alarmante.

Segundo o psicólogo Mar­cus Vinícius Santos, coordena­dor do Atendimento de Saúde Mental no município, no ano passado o crescimento ficou entre 30 e 35% somando-se autolesões, tentativas, óbitos e procura pelo serviço de psi­quiatria que muitas vezes só acontece em casos de emer­gência, quando o paciente já abusou de remédios, tóxicos, álcool ou sofreu acidentes.

A principal faixa etária das vítimas é entre 25 e 44 anos, a maioria homens. “A hipótese que levantamos é que são os pais de família afetados eco­nomicamente pela pandemia, casos de maior vulnerabilida­de social. Historicamente os homens são mais resistentes a procurar ajuda profissional, é o que chamamos de masculi­nidade tóxica”, explica Marcus.

O coordenador explica que cerca de 70% das pessoas que morrem por suicídio nunca procuraram ajuda em serviços de saúde mental em qualquer fase da vida. “Esses homens podem até falar com o clínico, com o cardiologista, mas sen­tem vergonha, a família às ve­zes coloca panos quentes, não dá a devida importância, mas é preciso estar atento a todos os sinais e buscar, incentivar o tratamento”, ressalta.

Para o psicólogo, os in­vestimentos públicos em saúde mental, desde a esfera federal, são muito menores que a necessidade. Dados do setor apontam que enquanto de 10 a 15% dos afastamen­tos do trabalho são causados por problemas dessa nature­za, apenas 2% do orçamento total de saúde vai para toda a demanda de saúde mental, incluindo a pediátrica.

O secretário de Estado de Saúde de São Paulo, o médico infectologista Jean Carlo Go­rinchteyn, que esteve em Ri­beirão Preto esta semana em evento empresarial, confirmou a mesma realidade nos demais municípios. “O agravamento nos casos de saúde mental é uma preocupação do governo do estado. Precisamos aumen­tar a capacidade de atendimen­to porque é necessário acolher essas pessoas. Algumas delas, por consequência direta da co­vid-19 ou de outras questões circunstanciais, precisam de assistência em suas cidades, muitas nem possuem recursos para procurar o médico. Esta­remos firmando novos convê­nios, oferecendo mais oportu­nidades de tratamento”, afirma.

Pandemia da saúde mental no mundo

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021 revelam que o número de suicídios no Brasil em 2020 foi de 12.895, com variação de apenas 0,4% em relação a 2019, quando foram regis­trados 12.745 casos. Os estados que apresentaram maior número, repetindo o ano anterior, foram São Paulo, Minas Gerais e Porto Alegre, nessa ordem.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgados durante a campanha “Setembro Amarelo” de prevenção ao suicídio no Brasil, em setembro de 2021, revelaram que entre 700 e 800 mil pessoas morrem por suicídio no mundo a cada ano:

– 15 a 29 anos é a faixa etária na qual o suicídio foi a quarta causa de morte mais frequente, depois de acidentes de trânsito, tubercu­lose e violência;

– 12,6 a cada 100 mil homens morrem por suicídio, mulheres são 5,4 por cada 100 mil; em países de maior renda há mais mortali­dade masculina (16,5 por 100 mil) e nos países de baixa renda a mortalidade feminina cresce (7,1 por 100 mil);

– 79% dos suicídios no mundo ocorrem em países de baixa ou média renda;

– as taxas de suicídio caíram 36% entre os anos 2000 e 2019, mas nas Américas aumentaram 17% no mesmo período.

II Conferência Municipal de Saúde Mental
Nos dias 12 e 13 de março será realizada a II Conferência Municipal de Saúde Mental no Anfiteatro do Centro Universitário Barão de Mauá. O evento é gratuito para toda a população, com direito a alimen­tação. O objetivo é que os interessados possam opinar sobre as políticas públicas de saúde mental do município. O tema será: “A política de Saúde Mental como Direito: pela defesa do cuidado em liberdade, rumo a avanços e garantia dos serviços da atenção psicossocial no SUS”. O início é sempre às 8h. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone: 3977-9529.

Suicídios entre adolescentes

Nos últimos 10 anos, segundo o Ministério da Saúde (MS), houve incremento de 81% na taxa de mortalidade de adolescentes por suicídio, incluindo número expressivo abaixo de 14 anos. O perfil das notificações de lesões autoprovocadas foi de pessoas brancas, do sexo feminino, com baixo grau de instrução e com idade entre 15 e 29 anos, sendo a residência o principal local de ocorrência e o envenenamento, o meio mais empregado.

De acordo com o estudo do MS, há uma conjunção de fatores relacionados ao comportamento suicida na juventude. Alguns aspectos que se destacam são os sentimentos de tristeza, desespe­rança e a depressão, ansiedade, baixa autoestima, experiências adversas pregressas, como abu­sos físicos e sexuais pelos pais ou outras pessoas próximas, falta de amigos e suporte de parentes, exposição à violência e discriminação no ambiente escolar e o uso de drogas.

Os dados sobre o assunto não são precisos ou ficam restri­tos. A reportagem do Tribuna Ribeirão solicitou informações à Secretaria de Segurança Pú­blica, por e-mail, mas recebeu resposta informando que esses dados não se relacionariam com a secretaria, recomendando refazer o pedido ao Serviço de Informação ao Cidadão (E-sic). O protocolo com explicações detalhadas da demanda foi feito, mas o setor, também ligado ao Governo do Estado de São Paulo, informou que “a sua solicita­ção de acesso a documentos, dados e informações, de protocolo 62701222158, data 14/02/2022, foi REDIRECIONA­DA AO SIC competente Secre­taria Estadual da Segurança Pública – SSP, que poderá me­lhor analisá-la e processá-la”. O prazo para resposta, no entanto, é de pelo menos 20 dias úteis.

Durante a produção da reporta­gem também ficou constatado que ao pesquisar o tema em sites de busca, plataformas de vídeo ou outros canais o usuário é incentivado a procurar ajuda pelo telefone 188 – do Centro de Valorização da Vida (CVV). O serviço é confidencial, gratuito, disponível 24 horas. Precisa de ajuda? Fale com alguém hoje.

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