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Da perplexidade à reflexão necessária

Nesta semana comemorou-se o Dia Mundial para a Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento, uma data criada para cultivar a compreensão da importância da diversidade cultural e in­centivar o respeito pelo outro. Respeito que está ausente das famílias, das escolas, das discussões cotidianas sobre os mais variados temas e especialmente quanto às opções políticas. Respeito que somente será possível a partir do conhecimento das diferenças entre os povos e grupos sociais e de um sincero exercício de empatia.

Uma ferramenta importante neste processo é o fomento às atividades culturais das mais variadas origens. No campo da cultura encontramos oportunidades de conciliar o tão desejado crescimento econômico com o necessário desenvolvimento social.

Durante muito tempo propagou-se que o Brasil era o país com maior diversidade racial e cultural. Talvez seja, mas a forma com que elas são valorizadas ou revertidas para todo o coletivo merece uma reflexão mais criteriosa. Exemplos nítidos são a falta de incentivo aos artistas e produtores culturais, a dificuldade de acesso do grande público e a recente desestruturação do Ministério da Cultura com sucessivas e desastrosas trocas na direção. Pior, ainda, é a indisfarçá­vel tentativa de transformar o setor em palco para promoção política ou imposição ideológica.

A insana manifestação do presidente da Fundação Palmares, no dia 13 de maio é exemplo indelével disso. Tão preocupado em atacar Zumbi dos Palmares e o movimento negro, insiste em não enxer­gar a dura realidade dos descendentes dos escravizados africanos. Realidade escancarada na morte de João Pedro Matos Pinto, de 14 anos, assassinado emdesastrosa operação policial realizada no Rio de Janeiro. João não é apenas um número na estatística do Mapa da Violência, o filho de Neilton e Rafaela era um ser humano que, além dos pais e da irmã, deixa toda uma comunidade enlutada e aflita.

O garoto sonhava fazer faculdade, ser advogado, ter uma vida melhor e trabalhar pelo direito do próximo. Direito que é diaria­mente suprimido dos que vivem nas periferias desse país. Tratar desse assunto gera o desconforto para muitas pessoas e a revolta para outras que tentam negar o que é inegável: o enorme abismo que nos separa.

Antes que alguém fale em vitimismo ou em problema de viés pu­ramente econômico, lembramos da jovem aluna de escola particular que recebeu mensagens com humilhações e xingamentos encami­nhados por rede social com ofensas quanto à raça negra e o gênero feminino. Trazer o tema para a discussão pode não ser simpático, mas é necessário.

Ao comentar o assunto a garota protestou: “Qualquer pessoa ne­gra num ambiente cheio de brancos enfrenta o racismo diariamente. A gente olha as mensagens enviadas e pensa que é algo que se dizia 300, 400 anos atrás. Não devíamos estar vendo isso em 2020”.

Realmente não deveríamos ver racismo, preconceito, discrimi­nação e não deveríamos ouvir discursos de ódio e intolerância. Em tempos de tanta pobreza espiritual e escassez de lideranças, vamos recorrer ao grande Nelson Mandela que, talvez inspirado por Fran­cisco de Assis, certa feita afirmou: “Devemos promover a coragem onde há medo, promover o acordo onde existe conflito, e inspirar esperança onde há desespero.”

A arte, a cultura e a educação auxiliam na transformação de rea­lidades e na promoção do ser humano como protagonista de sua his­tória. A caminhada é longa e a batalha parece árdua, mas necessária. Não é sobre viver do passado, é sobre garantir que exista um futuro. Terminando com Mandela, outro importante alerta: “Perdoem. Mas não esqueçam!”.

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