Como é possível ir da Terra à Lua?
Para uma a menina prodígio nascida nos Estados Unidos, em 1918, que cresceu contando os números, uma pergunta que teve respostas além da matemática e da física, e reflexos no empoderamento feminino e na superação das discriminações. As respostas foram dadas por ela mesma: a americana Katherine Johnson.
A cientista fez ”diferença”, segundo a Nasa, nos programas espaciais da agência ao calcular trajetórias para que Jon Glen fosse o primeiro americano a entrar na órbita do planeta Terra, em 1962.
Mais adiante os cálculos de Katherine foram imprescindíveis para uma missão tripulada até a Lua, em 1969, quando a Apollo 11 fez entrar para a história os astronautas Neil Armstrong e Buzz Aldrin.
Katherine Johnson teve que enfrentar um mundo que abria portas para uma corrida espacial, mas com trincas fechadas para pôr fim à segregação racial. E foi com a fórmula matemática que ela conseguiu ser aceita em um ambiente preponderantemente de homens brancos.
Ela era chamada de computador humano, junto a outras cientistas negras que calculavam e auxiliavam engenheiros, na década de 1950, da então, Naca, agência governamental que mais tarde viria a ser conhecida como NASA.
E com os seus ”por quês?” e ”porquês” entrou para a equipe, se destacando em diversas missões e se consagrando como uma das cientistas espaciais mais influentes dos Estados Unidos e do mundo. Katherine se aposentou em 1986 e faleceu em fevereiro de 2020, aos 101 anos.
O universo das mulheres que amam as estrelas vai do gosto pelos números da matemática Katherine, ao encanto pelo espaço ”fantasticamente imenso”, da médica Thaís Russomano.
A brasileira, que remonta o sonho de desbravar o espaço na infância, aos 4 anos, com proporções maiores ao ganhar a primeira luneta aos sete anos, diz que chegou à realização com a medicina aeroespacial.
”Queria ser astronauta e viajar pelo Universo”, diz ela, que chegou a avaliar a candidatura, em 1998, para uma vaga como representante civil do Brasil em missões espaciais.
Mas, foi na fisiologia e nas respostas que o corpo dos astronautas dá à microgravidade que Thaís Russomano uniu a medicina ao sonho de criança.
“Eu tive a oportunidade de participar de duas campanhas de voos parabólicos (quando é possível experimentar a gravidade zero sem viajar ao espaço) da Agência Espacial Europeia em 2000 e 2006 e me lembro da primeira vez que eu flutuei. Eu pensei: ‘então é isso que é estar em microgravidade, é isso que é trabalhar no espaço’. Naquela fração de segundo me senti uma astronauta.”, diz.
A médica brasileira, que hoje mora em Londres, onde atua em universidades europeias e no ramo empresarial, explica que esta trajetória começou em Porto Alegre, seguiu com especializações nos Estados Unidos e Inglaterra e com experiências em outros países.
”Tive a oportunidade de participar da Agência Espacial Alemã, em Colônia. Depois, de volta ao Brasil, na PUC-RS estabelecemos um centro de pesquisa na área espacial, um centro interdisciplinar de microgravidade, com pesquisas em diversas áreas.”. Ela destaca que o Centro MicroG, do qual ficou à frente por 18 anos, se expandiu com parcerias internacionais.
Na expectativa pelos próximos passos da corrida espacial, Thaís destaca as missões tripuladas para Marte e para a Lua, em especial, a Artemis, que deve levar a primeira mulher ao satélite.
“Isso é fundamental para pensarmos em colonização de outros mundos. Nós precisamos mesmo da condição do homem e da mulher, da reprodução, de seres nascidos e criados em outros corpos celestes. Além de mostrar que as mulheres estão à frente também da exploração espacial.”, diz a Russomano.
A cientista lamenta a demora para o retorno à Lua, com a última missão em 1972, já que, segundo ela, as experiências no satélite poderiam contribuir para ultrapassarmos hoje o que considera fronteira maior: Marte.
Thaís Russomano destaca ainda o turismo espacial, ”que vai ser uma forma muito interessante de popularizar a exploração do espaço. O cidadão comum poder viajar na órbita terrestre. Isso ainda está restrito, por ter um custo muito alto. Hoje se fala em US$ 250 mil uma viagem de poucos minutos, é muito caro, mas já está mais barato do que já foi”, destaca.
Hoje desenvolve também um projeto que aproxima as crianças das missões espaciais e retoma a importância que teve o incentivo da mãe ao levá-la a um planetário.
“Com quatro, cinco anos ela me levou a um planetário no Rio de Janeiro por que eu já estava muito fixada nessa coisa de espaço. Depois, com minha luneta, observava a Lua, os anéis de Saturno. Criei um grupo para crianças sobre astronomia e cheguei a escrever um livro na infância. Uma paixão que foi indo, indo.”, relembra.
Edição: Aline Leal