Em 1915, Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Almada Negreiros e outros reuniam-se em torno de um objetivo comum: fundar a revista “Orpheu”, a qual lhes permitiria lançar as bases do Orfismo, primeiro momento Modernista em Portugal. Sete anos depois, em 1922, o interesse em focar a originalidade e a sensibilidade dos autores lusos como os elementos mais relevantes numa obra literária, permitiu que o Modernismo atingisse sua segunda fase, o Presencismo, momento no qual o escritor José Régio lançou, a exemplo, dos primeiros, a revista “Presença”. Sua intenção? Gerar nos leitores interesse pela emoção estética da arte pela arte. Como exemplo, podemos citar Branquinho da Fonseca, autor luso, a escrever o conto “O Barão”.
Na narrativa, um inspetor escolar, em viagem a trabalho na Serra do Barroso, para fazer sindicância numa escola primária, ali se encontra com um personagem do passado, nos seus quarenta anos que, apesar de certos gestos brutos ao longo da conversa com o inspetor, vem a se mostrar detentor de uma cultura inigualável. Tornam-se amigos e o Barão, título que cabia ao mesmo, leva-o a conhecer seu castelo. Neste local, com paisagens ora belas, ora sombrias, extraídas totalmente do passado, mais precisamente dos contos de fada, o leitor toma conhecimento da traumática relação amorosa do Barão com ninguém menos que a Bela Adormecida, ou seja, “a que, adormecida, espera pelo ser amado alienada dos acontecimentos e do mundo que a cerca”. A ela o Barão leva rosas constantemente, a despeito destas, raramente, lhe chegarem às mãos. O amor de ambos era proibido por uma rixa familiar, semelhante à narrativa “Romeu e Julieta”.
Mesclando personagens míticos e simbólicos à realidade solitária do homem moderno, na narrativa representado pelo inspetor escolar, o conto permite ao leitor da época experenciar, ainda que tardiamente, as mudanças pretendidas pelas vanguardas literárias européias. Estas, conferindo mistério e absurdo à obra, criam uma atmosfera onírica, mesclando e distorcendo o real e o fantástico ao mesmo tempo. Também, a retomada do medievalismo, na presença do castelo sombrio, num momento em que todos os demais personagens são modernos, faz do Barão o que se chama de um personagem de exceção.
A confissão deste, permitindo que o inspetor se reencontre com o homem que um dia ele havia sido, revela a inquietude existencial que permeava a época. Se em Fernando Pessoa esta mesma inquietude o leva a multiplicar-se, em Branquinho da Fonseca sugere aprendizado da condição humana.