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Da guerra

A guerra constitui o auge da estupidez humana. Aliás, logo após o término da 2ª Guerra Mundial, o espírito dominante, ainda tomado pela brutalidade nazi­fascista e com a devastação das bombas de Hiroshima e Nagasaki alimentou-se a ingênua certeza de que aquela guerra fora a última delas. Não haveria mais guer­ras. E a divulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos (10/12/1948), votada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, festejava essa nova era.

Antes, em 1934, em Evian, na França, os Estados Unidos e mais de trinta países ocidentais, se negaram a receber a imigração dos judeus já perseguidos da Alemanha, o que teria evitado a morte de milhões sob o horror e morte em massa dos campos de concentração. Essa negativa serviu de chacota nos jornais da Alemanha nazista. O fato, porém, é que com esse peso coletivo de consciência esses países aderiram forte­mente à ideia da criação do estado de Israel e do estado Palestino, o que aconteceu na Assembleia Geral da ONU de 1946, sob a presidência do ilustre brasileiro, Oswaldo Aranha (Osvaldo Euclides de Sousa Aranha-Alegrete/1894, Rio de Janeiro/1960), que anualmente é homenageado em Israel; e em 1948 foi indicado ao Nobel da Paz.

Essa criação de dois estados, ideia que a comunidade internacional tem reiterado, já trazia em sua origem a fonte de um mar de sangue, que jorrou com o trabalho guerrilhei­ro da expulsão de proprietários rurais palestinos, sendo verdade que muito antes, no tempo, o método da compra de terras palestinas constituiu um modo de ocupação.

Se as nações árabes eram contra a divisão daquele território, a consequência dessa postura é que não houve a instalação do estado palestino, enquanto flo­resceu o estado de Israel. Essa discrepância colocou o povo palestino sob brutais repressões, sendo que em Gaza é como um gueto a céu aberto.

Enquanto isso após a guerra, o mundo estava dividido em dois blocos: o liderado pela União Soviética e o outro pelos Estados Unidos, ambos se armando com tantas bombas que destruiriam o mundo várias vezes, apesar de que para isso basta uma só destruição.

E tantas guerras aconteceram e acontecem depois disso que agora até os filhotes desavergonhados de Hitler e Mussolini surgiram ocupando cargos públi­cos, circulando com motocicletas, redivivos, ajuntando-se em partidos políticos e particularmente em milícias armadas ou digitais, gargalhando das instituições democráticas, e lutando pela sua destruição.

Entretanto, na marcha da história, o bloco da União das Repúblicas So­cialistas Soviéticas (URSS), acumulando contradições, se desfez (1991). Antes disso, porém, aquele agrupamento de países tinha instituído o chamado Pacto de Varsóvia (1955), como organismo militar para sua defesa; em contrapartida ao organismo do ocidente, a OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte, que já fora criado em 1946, fruto da chamada Guerra Fria, e suas pronunciadas tensões ideológicas. A propósito, está lá um militar brasileiro representando o espírito vira-lata do país, que geograficamente se situa no Atlântico Sul.

Desfeita a URSS e com ela o Pacto de Varsóvia seria natural que a OTAN perdes­se o sentido, e fosse extinta, como força de defesa. Mas, ela passou a existir como força de ataque, fazendo guerras, instalando bases com foguetes de ogivas nucleares em alguns países, que integravam a antiga URSS, e voltados para o território russo.

Assim, a OTAN passou a ser ponta de lança da descomunal força militar então hegemônica, cultural, econômica dos Estados Unidos. Tão grande e tão forte que se divulgou, prematuramente: o fim da história.

No entanto, a Rússia se recompõe como potência militar, e finalmente acerta uma parceira “sem limites” com a China, em documento lançado na abertura dos últimos “jogos de Pequim”.

Nesse ínterim, o Presidente da Ucrânia discursa dizendo que o país entraria mes­mo na OTAN e que seria ela nuclearizada, o que equivale dizer que mísseis com ogiva nucleares estariam próximos e voltados para a Rússia. O bom senso perdeu o senso, e as potências ocidentais não souberam tratar, antes, a ameaça real para evitar o pior.

Sim, há muita dificuldade de paz negociada, pois, a Ucrânia é peça impor­tante no jogo geopolítico das grandes potências. E a União Europeia dominada pela OTAN, não tem um espírito igual ao de um De Gaule para cuidar de si mesma, sem estar curvada aos interesses dos outros, como se fossem seus.

Por isso o território da Ucrânia é um campo de batalha, oferecendo ao mun­do solidário o retrato de milhões de homens, mulheres e crianças, procurando um novo lar, em terra estranha, para morar e viverem em paz.

Só que o mundo agora é multipolar. Não é uma só potência que dirá para onde o vento deve soprar.

E a história não tem fim, só se o mundo, e nele nós, for totalmente destruído, mesmo sendo uma única vez.

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