O professor Lages visitou mais um dos pontos de Cultura de Ribeirão Preto pouco conhecido pelo público em geral, mas que desenvolve um trabalho diferenciado de produção e formação cultural. É o espaço ‘Forte Amador’, localizado na Rua Camilo de Matos, 170, no Jardim Mosteiro. Confira abaixo, o bate-papo com o gestor cultural do espaço, Márcio Bá.
Professor Lages: Como você definiria hoje o Forte Voador? É um espaço de lazer ou de cultura? Ou os dois?
Márcio Bá: Por mais que ofereça ao público apresentações regulares de espetáculos variados, o Forte Voador se coloca prioritariamente como espaço multicultural desde a sua inauguração em março deste ano. Um lugar de criação, de manutenção da cultura defendida pelos artistas gestores do espaço e de formação de público. Pode ser visto também como um espaço de lazer, já que nosso trabalho tem alguma relação com o entretenimento, porém, não é o lazer que direciona nossas escolhas artísticas.
Professor Lages: Quais são as principais expressões artísticas que aqui tem lugar?
Márcio Bá: No Forte Voador, trabalhamos principalmente com teatro, circo/palhaçaria e música. Mas temos também artistas puxando frentes na literatura, na cultura popular/ cultura da oralidade e na cultura da infância. E mesmo que esteja saindo um pouco do foco da questão, penso que é importante ressaltar aqui que o Forte Voador é um espaço de manifestação cultural num sentido mais amplo e engajado socialmente. Acolhendo por exemplo a inauguração da Cooperativa de Arte e cultura, palestra/vivência sobre história e técnicas meditativas, programando em médio prazo cursos de libras e encontros regulares para tratar do protagonismo das mulheres na arte, etc.
Professor Lages: Posso dizer que é uma confraria de artistas? Quais são eles?
Márcio Bá: Pode sim. Somos doze artistas que fazem a gestão do espaço e se subdividem nas funções da manutenção do mesmo. Os grupos envolvidos são: Grupo Engasga Gato, Cia. Pé de Chinelo, Cia. Curva de Riso, Cia. Pé na Lua, Cia. Zero. E os artistas: Álvaro Cherubini, André Doriana (D.O.), Chico Curi, Douglas Pires, Fernanda Soto, Gabriel Galhardo, Luciana Donegá, Marcelo Mamute, Márcio Bá, Monalisa Machado, Neto Donegá e Poliana Savegnago. Importante ressaltar que alguns familiares próximos desses artistas são bastante presentes na manutenção do mesmo.
Professor Lages: Parece que o Forte Voador tem uma pegada forte na formação. É uma escola de arte-educação? Como acontece isso?
Márcio Bá: Sim. Consideramos de extrema importância a formação de artistas e de público. Entretanto, nos colocar como escola de arte-educação pode ser irreal e gerar alguma polêmica, já que uma escola dessa natureza forma arte-educadores e não simplesmente artistas amadores ou profissionais, como é o nosso caso. No momento, ensinamos pura e unicamente a nossa arte, ou fazemos parcerias com profissionais que queiram ensinar sua técnica e visão artística, ou ainda trabalhamos na capacitação artística de professores do ensino formal (o que é diferente de formar um arte -educador). Isso não impede que nos organizemos para ser uma escola de arte-educação futuramente, já que atuamos como arte-educadores e continuamos nos capacitando, procurando parcerias com instituições da cidade como a USP, por exemplo. Atualmente no Forte Voador oferecemos aulas regulares de Teatro às terças – 19h, aulas de Circo às segundas e quintas – 18h30 e 20h e aulas particulares de música (teoria, musicalização, violão, canto, ritmo e saxofone) em dias e horários a combinar. Oferecemos também cursos pontuais de expressões artísticas e culturais diversas, sejam ministrados pelos profissionais da casa ou através da parceria com artistas da cidade e de outras localidades.
Professor Lages: Agora, por que o nome “Forte Voador”?
Márcio Bá: O nome Forte Voador chegou aos poucos. Primeiro chegou o Forte devido à arquitetura do espaço, cuja fachada lembra um forte militar. À medida que procurávamos uma outra palavra para associar a esta, que resumisse o nosso universo artístico e nossas aspirações para o espaço, além do surgimento de propostas visuais para a logo, fomos encontrando várias combinações que nos levavam à vontade de fazer um contraponto imagético e simbólico com a palavra Forte. Gostamos muito da ideia de força que essa palavra traz, mas sentimos uma grande necessidade de suavizar e transversalizar os possíveis sentidos dela. Isso tudo pelo nosso grupo de WhatsApp. Nas propostas da logo chegaram pássaros e balões e em algum momento alguém lançou como quem solta mesmo um passarinho: Forte Voador… a adesão foi unânime e imediata!
Professor Lages: Posso dizer que o Forte Voador já tem um público específico? Qual é esse público?
Márcio Bá: Temos sim um público que talvez seja a soma do público menor de cada expressão, de cada grupo ou artista integrante do Forte Voador. Quem vem até o Forte para assistir aos espetáculos é um público formado principalmente por artistas amigos ou ainda desconhecidos que aparecem para prestigiar ou por curiosidade, amigos não artistas que apreciam arte, educadores que enxergam a importância do alimento artístico para o seu trabalho e familiares que nos apóiam. Não geramos ainda um fluxo de público espontâneo, em partes por sermos um espaço recente, em partes pelo desafio que é disputar atenção com a televisão, com a internet e com o formato de entretenimento instituído pela indústria cultural nas grandes mídias. Apesar disso, sempre temos casa cheia. É raro não termos acima de 60% dos assentos preenchidos, embora isso represente uma média de 50/60 pessoas. Estamos trabalhando para formar um público mais diversificado e procurando estabelecer uma conexão com o público potencial residente no bairro onde estamos (Jardim Mosteiro/Campos Elíseos).