Ao longo da minha trajetória profissional já recebi vários prêmios e honrarias, inclusive internacionais. Mas em maio, no lançamento da 30ª Fenasucro e Agrocana, na Câmara Municipal de Sertãozinho, o CEISE-BR, representado por sua presidente Rosana Amadeu, fez uma homenagem a mim que tocou de um jeito diferente. Primeiro por ser na cidade em que eu vivi minha infância, adolescência e boa parte da minha vida adulta. Segundo, porque a apresentação foi tão carinhosa e genuína que me emocionou.
Do ponto de vista sentimental posso dizer que foi a mais importante que recebi até hoje. A presidente, que começou sua carreira aos 14 anos como jovem aprendiz na Zanini disse: “Sou uma aluna do senhor e espero que tenha sido uma boa aluna. Muitos que estão aqui, assim como eu, já trabalharam em alguma empresa que esteve à frente. O senhor é um visionário e um exemplo para todos nós, é uma homenagem do fundo do coração”.
Eu ouvi isso, vendo na plateia, além de meus filhos Rodrigo e Marcelo, vários amigos e pessoas que começaram comigo a vida profissional, o que me fez relembrar de momentos marcantes da minha trajetória em Sertãozinho. A vida na Santa Elisa, convivendo com os funcionários que lá moravam, estudando em escola mista e iniciando o meu trabalho no armazém da fazenda, foi o ponto forte da minha formação e a base de todos os meus princípios, uma escola da vida.
Hoje vejo como, no dia a dia, as pessoas não convivem mais, não olham no olho umas das outras e têm dificuldade de aceitar as diferenças. As relações são mais superficiais e, às vezes, se resumem a contatos virtuais. Os fatos que nos chocam e nos sensibilizam, vêm e vão embora numa fração de segundos. Não têm essa raiz profunda como a que tive o privilégio de vivenciar em Sertãozinho.
Por exemplo, foi bonito ver a solidariedade dos brasileiros referente à tragédia do Rio Grande Sul, que resgatou esses valores humanos tão importantes. Mas com o passar do tempo, será que vamos continuar a nos mobilizar para evitar que outras catástrofes aconteçam? Vamos ficar brigando para apontar os culpados ou nos unir para buscar soluções mais definitivas para a situação?
Nesse evento do Ceise também foi abordado o tema da importância do etanol no desenvolvimento sustentável do Brasil. Somos exemplo para o mundo há décadas no quesito de preservação do meio ambiente e utilização de energia limpa na nossa matriz energética. O Proálcool é o maior programa mundial de energia renovável. Mas nos tratam como se fôssemos vilões. Todos os anos temos que prestar contas ao mundo – que utiliza carvão e derivados do petróleo a rodo, que já desmatou tudo que tinha para desmatar e nem têm mais o que preservar-, como se tivéssemos que provar o tempo todo que estamos fazendo o certo, como se fôssemos nós os devedores. A COP 30 será no Brasil e espero que até lá consigamos reverter esse jogo, apesar de achar difícil porque falhamos muito na comunicação.
Enquanto isso, Governo Federal e Congresso travam batalhas, jogando a culpa de tudo que acontece de errado uns nos outros. E esquecem que o mesmo povo que elegeu um, elegeu o outro. Ambos são representantes legítimos dos brasileiros e deveriam sobrepor os interesses coletivos às ideologias partidárias ou ao direcionamento para esquerda ou direita. Temos que seguir é para a frente, respeitando a representatividade de cada um.
Me perdoem pelo pout pourri de assuntos. Ao receber esse prêmio tudo isso foi passando pela minha cabeça. Mas a linha mestra de todos eles é: quando as raízes são profundas e bem plantadas dificilmente se consegue inverter os valores ou derrubá-las. Enquanto o imediatismo e a superficialidade continuarem tomando conta dos relacionamentos e da política, não vamos conseguir progredir. É bíblico: “quando vierem as chuvas e as inundações, e os ventos castigarem a casa, ela não cairá, pois foi construída sobre rocha firme”. Cuidem bem dos alicerces e raízes.