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Covid-19 x 0 Sensibilidade

O Messias original era especialista em parábolas e utilizava alegorias, comparações e analogias para explicar verdades complexas de uma for­ma simples. Assim sua mensagem foi propagada pelos tempos, chegando a todos e especialmente aos mais humildes. Muitas pessoas recorrem a esses recursos que, quando bem empregados, facilitam a compreensão. Ocorre que o uso inadequado pode ser desastroso e coisas banais passam a parecer complicadas.

Na estranha entrevista coletiva desta semana, foram observados vários deslizes. Além da inabilidade na utilização de uma simples máscara facial, o presidente da República novamente irritou-se com jornalistas e com dificul­dades em assumir que errou ao subestimar o vírus que já atacou 22 pessoas de sua comitiva aos EUA, tentou se comparar a um técnico de futebol. Em imodesta apologia ao seu trabalho, afirmou ter escalado um time ministerial tão competente com jamais existiu ou provavelmente existirá.

Já que os campeonatos estão parados, vamos seguir sua linha de racio­cínio e olhar seu ministério como um time. Ali encontraremos alguns joga­dores famosos, feito o ex-juiz, elevado ao status de super-herói, o primeiro astronauta e o economista consagrado. Também tem “pernas de pau” no Meio Ambiente e na Educação e outros que sequer são notados. Decorridos mais de um quarto de campeonato, os indicadores econômicos e sociais continuam desfavoráveis, apontando que o time apresenta um desempenho tímido diante de tanta expectativa.

Então, no meio da crise o país conheceu o ministro que joga em uma das posições mais exigidas: o Ministério da Saúde. Seu desempenho profissional foi tão positivo que recebeu elogios de vários setores, mas despertou o ciúme interno, pois estaria ofuscando o treinador. Foi orientado a politizar as ações, até então eminentemente técnicas, sendo aconselhado a fazer discursos de propaganda do governo, passando a jogar fora de posição.

No papel o time é bom, lembra o querido Cruzeiro Esporte Clube que começou o ano passado com tantas expectativas de conquistas e acabou re­baixado para a segunda divisão. Culpa do time ou do treinador? Ao criticar a imprensa e conclamar seus apoiadores a baterem panelas, para contrapor aos paneleiros que protestavam, lembrou aqueles técnicos de equipes limitadas, que reclamam do gramado, da bola, da arbitragem e esperam que a torcida ganhe o jogo para eles. Na Taça das Panelas já perdeu o jogo de ida.

Para complicar, o filho que gosta de dar pitacos na escalação e no esquema tático, entrou em campo para agredir o governo chinês gerando um inoportuno desconforto diplomático. A entrevista, o ataque indevido a grupos e nações e a convocação de manifestações que ignoraram protoco­los de saúde, apontam que o time está totalmente desentrosado e com um comando sofrível.

Enquanto outros governantes, profissionais de saúde e cientistas buscam soluções epidemiológicas e as populações tentam se ajustar à nova realidade, o técnico brasileiro parece necessitar da criação de novos inimigos e a gera­ção de fatos polêmicos para desviar a atenção dos problemas reais. A visão é distorcida e a capacidade de análise simplória e equivocada. A ameaça do novo coronavírus continua real, basta observar a Itália.

O Brasil e o mundo precisam de união de esforços e de solidariedade. A epidemia de covid-19 está impactando as economias globais, aumentando o desemprego, desestruturando famílias e ceifando milhares de vidas. Para um vírus não importa a nacionalidade, a opção ideológica ou religiosa, mas para alguns políticos parece que sim.

Governar não é uma brincadeira, não é uma simples partida. Comandar um país não é dirigir uma equipe de futebol. É mais complexo, exige preparo, equilíbrio, responsabilidade, especialmente em momentos de crise como a experimentada nos últimos dias. Precisamos de um líder efetivo e inspirador. Sem competência, equilíbrio e sensibilidade, corremos o risco de também perder de goleada.

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