Serviço de reabilitação covid de RP atende 20 mil pacientes
Desde o início da pandemia as sequelas do coronavírus evoluíram com o aparecimento de variantes e vacinação; algumas levam tempo para serem curadas, necessitando de tratamento
Adriana Dorazi – especial para o Tribuna Ribeirão
A Secretaria Municipal da Saúde divulgou nesta semana, na última quinta-feira (5), o primeiro Boletim Epidemiológico do Departamento de Divisão em Saúde. Nele estão os últimos números sobre a covid-19 na cidade e os primeiros de 2023. Ribeirão Preto registrou ano passado 422 mortes pela doença.
Comparado ao número de mortes em 2021, quando 1996 pessoas perderam a vida em consequência do coronavírus, o número é cerca de 80% inferior. Desde o início da pandemia, 3.465 pessoas morrem por causa da covid-19 na cidade.
Só em dezembro de 2022 foram 24 mortes, sendo sete na última semana do ano. O mês com mais fatalidade ano passado foi janeiro, com 182 mortes. Outubro foi o que menos registrou: um óbito.
Com relação aos casos registrados, a cidade fechou 2022 com 64.253 confirmações, sendo 5.097 em dezembro. O número é cerca de 13% inferior a 2021, quando foram constatados 73.271 casos da doença. No total, desde o seu início, a doença atingiu 179.551 pessoas.
Já em relação aos primeiros dias do ano-, o Boletim foi fechado no dia 3 de janeiro, são 161 casos confirmados e nenhum óbito.
Os números são preocupantes. Mas a covid-19 apresenta ainda outros problemas: as sequelas apresentadas por alguns pacientes e a necessidade de acompanhamento contínuo. Para atender essa demanda, a prefeitura criou o Sererp, Serviço de Reabilitação da Secretaria Municipal de Saúde, que fica localizada no bairro Quintino Facci II, zona Norte da cidade.
De janeiro até meados de dezembro foram realizados 19.342 atendimentos. Depois da alta hospitalar o paciente do Sistema Único de Saúde (SUS) que apresente indicação médica passa por sessões como fisioterapia, psicologia, enfermagem, nutrição, terapia ocupacional e fonoaudiologia para tratar ou minimizar as sequelas.
Os atendimentos são realizados em parceria com as instituições de ensino Universidade de Ribeirão Preto – Unaerp, Universidade Paulista – Unip, Centro Universitário Barão de Mauá, Universidade de São Paulo – USP e Centro Universitário Estácio, de segunda a sexta-feira, exceto feriados, no período das 7h às 19h.
A Supervisora Sererp, Roberta Zucoloto de Abreu, destaca que no balanço do primeiro ano de funcionamento do serviço é possível observar as evidências de que a pandemia da covid-19 gerou cenário complexo para a saúde mundial, com diferentes tipos de complicações e graus de comprometimento funcional em milhares de indivíduos que se recuperaram da doença.
As sequelas são especialmente perigosas para quem já tinha problemas de saúde. “Os atendimentos se dão de maneira interdisciplinar, desta forma, não geramos neste processo de trabalho uma sistemática única de prescrição de reabilitação e sim norteamos condutas individualizadas, levando em consideração a reabilitação multiprofissional em pacientes criticamente enfermos, acometidos pela covid-19 após a alta, a fim de tratar e minimizar as sequelas provocadas pela doença, a partir da avaliação da sua capacidade funcional”, detalha.
O Sererp recebe, via encaminhamento do médico do posto de saúde, pacientes com sequelas sensório-motoras, musculoesqueléticas, perceptuais e cognitivas, visando orientação e intervenção comportamental para melhorar a forma como as pessoas com doença pulmonar crônica e sequelas neurológicas realizam as atividades de vida diária, propiciando melhor qualidade de vida.
Perigo de falta de memória, ansiedade e depressão
Quando os efeitos da covid-19 demoram para sumir mais do que alguns dias, os especialistas chamam o quadro de “Covid Longa”. Estudo desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indica que metade das pessoas positivadas ficou com sequelas da doença.
Do ponto de vista neurológico e psiquiátrico, os médicos relatam frequência alta de situações caracterizadas como ansiedade, depressão, alterações do sono — tanto sonolência, quanto insônia — e alterações da cognição.
Muitos pacientes não conseguem, por exemplo, ler um livro sem perder a atenção ou não acompanha e não fixa o que já leu anteriormente. Do ponto de vista geral, as queixas mais frequentes podem ser resumidas em fraqueza do corpo, fadiga, cansaço e falta de ar.
Alguns sintomas são passíveis de intervenção e a reabilitação deve ser feita de forma multidisciplinar. Segundo o médico infectologista Vitor Valenti as sequelas pós-covid no Brasil são as mesmas de outros países. “Um estudo publicado em 2021 identificou mais de 50 sintomas Pós-Covid, incluindo problemas no sistema cardiovascular, respiratório, metabólico e na saúde mental. As sequelas mais comuns são ansiedade, depressão, insônia, diabetes, hipertensão e comprometimento de memória”, confirma.
Segundo o especialista, até o momento nenhum medicamento específico para tratar sintomas pós-covid foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa. Medicamentos aprovados podem ser indicados, mas cada caso deve ser acompanhado de forma personalizada pelo médico.