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COVID-19: Quando e como reabrir as escolas (12)

Como temos apontado alhures, a decisão de “quando” e “como” reabrir as escolas, particularmente ao longo de uma 2ª onda da pandemia da Covid-19, a qual não para de elevar o número de casos e de óbitos diariamente, não é, obviamente, uma decisão fácil e, tampouco, confortável. Essa decisão envolve seguramente o desenvolvimento de um plano de como as escolas irão operar, uma vez que estejam abertas, e como irão equilibrar o mínimo de riscos para os estudantes, professores e funcionários, plano, este, realístico sobre o custo e a eficácia de seu propósito fundamental de reduzir a transmissão da doença na reabertura das escolas. Segundo o consenso “Reopening K-12 Schools during the Covid-19 pandemic”, veiculado pela The National Academies of Sciences, Engineering and Medicine, voltado à orientação de dirigentes escolares, “é importante ter em mente que, com o objetivo de proteger a saúde dos funcionários, dos estudantes, dos professores e de seus familiares, além da comunidade em geral, as escolas nunca serão hábeis em operar normalmente”. O refe­rido consenso também identifica numerosas estratégias que podem ser implementa­das nas escolas para reduzir o risco de transmissão. Todavia, alerta que, implementar um conjunto completo de estratégias pode ser difícil, em muitas escolas, devido aos custos, restrições práticas e condições estruturais dos edifícios em que as escolas se inserem. Outro aspecto fundamental, que não pode deixar de ser considerado, é que, apesar de quase doze meses desde o início emergencial da pandemia, o conhecimento mundial sobre esta ainda se encontra em processamento, a despeito de a conhecermos muito melhor hoje do que em seu início.

A The National Academies of Sciences, Engineering and Medicine, que publicou tal consenso, com o propósito de organizar a discussão das estratégias que podem ser usadas para mitigar as infecções quando as escolas vierem a ser reabertas, sugeriu que fosse utilizada uma hierarquia de controles fundamentada na abordagem da segurança ambiental, quadro teórico utilizado, de modo geral, em diversos ambientes de trabalho para priorizar estratégias que minimizem a exposição das pessoas a perigos ambientais. Essa estrutura, envolvendo medidas protetivas escaladas em cinco níveis, assim se apresenta: 1º) Eliminação; 2º) Substituição; 3º) Engenharia; 4º) Administração; e 5º) Equipamento Protetivo Pessoal (EPP). Aplican­do este controle hierárquico para conter a Covid-19 nas escolas, eliminação e substituição não se aplicam diretamente às mesmas quando estas reabrirem. Eliminação poderia ser um controle completo do vírus ou na ocasião de uma campanha de vacinação de ampla cobertura. Até agora, como se sabe, ambas ações não têm ocorrido em todos os Estados brasileiros. Substituição, por sua vez, significa substituir um perigo, no caso o Coronaví­rus, ou, em se tratando de uma escola, uma maneira de operar muito perigosa, com um substituto menos letal ou não letal do vírus. Considerando que a Covid-19 não pode ser “substituída”, as opções aqui consistem na adoção de processos novos e mais seguros, como, por exemplo, alterar a distância de aprendizagem. Obviamente, esta opção pode ter, também, consequências negativas para as crianças, profissionais, famílias e comunidades por longos períodos de tempo.

De fato, como as escolas brasileiras são muito desiguais em diversas dimensões, temos obser­vado que a implementação contínua do sistema online de ensino tem ampliado as desigualdades, provocando subnutrição em escolares, bem como, diminuindo a renda familiar, entre outros, de natureza econômico-social. Entretanto, importa destacar, especialmente, que o desempenho acadêmico de milhares de estudantes será certamente prejudicado após longos meses distantes das carteiras escolares, reduzindo, por conseguinte, os escores de variadas habilidades cognitivas e, no meu entender, a própria inteligência de muitas delas. O controle, baseado na engenharia, elimina o perigo antes de o indivíduo entrar em contato com ele. No caso da Covid-19, tais estratégias incluiriam melhorar a ventila­ção, construir barreiras ao redor da área escolar, mudar a configuração das classes, visando alcançar distanciamento físico, e permitir limpeza regular das salas de aula e dos edifícios como um todo. No Brasil, devido às desigualdades financeiras das escolas dos quatro quadrantes do país, faltam recursos que possam ser direcionados para reformas dos edifícios escolares visando modificações estruturais para otimizar o funcionamento dos mesmos, mitigando a transmissão do vírus. Por sua vez, do ponto de vista administrativo, os controles requerem mudança na maneira como as pessoas trabalham. No contexto escolar, isto significa eliminar grandes aglomerações, criar grupos de estudantes e padrões de movimento que limitem o contato entre as pessoas, instituir rotina de limpeza das mãos, enfatizar as etiquetas referentes a controle de tosse e espirros e fornecer treinos para estas novas rotinas. Importante, no caso, é ensinar a todos que tenham uma elevada consciência de suas mãos. Portanto, a comunidade escolar tem que adotar enfaticamente as medidas comportamentais que devem ser usadas ao longo de toda a pandemia, entendendo que as mesmas são as únicas ferra­mentas preventivas para lidar com a disseminação do vírus ate que vacinas alcancem a eficácia coletiva esperada.

Finalmente, e de forma ideal, todos os estudantes e funcionários, incluindo crianças nas escolas elementares, deveriam usar máscaras cuja eficácia tenha sido cientificamente atestada ou máscaras cirúrgicas. Toda­via, sabemos das dificuldades econômicas e comportamentais de aderência a esses equipamentos protetivos. Ao lado disso, crianças, especialmente na educação básica e anteriores, podem encontrar dificuldades em aderir ao uso de máscaras, mas esforços devem ser feitos para que estas sejam encorajadas a aderir às mesmas. Considerando tal conjunto de estratégias, entendemos que, a melhor maneira para manejar o risco da disseminação viral nas escolas é desenvolver estratégias em três níveis particulares: em engenharia, administração e em equipamentos protetivos pessoais (EPP). Estabelecendo todas essas estratégias de mitigação da Covid-19, total e esperançosamente, entendemos ser possível maximizar a proteção dos estudan­tes, professores, funcionários, familiares e comunidade em geral. Mas, é certo que, muitos bairros em que as escolas se situam têm várias limitações de pessoal, tempo e recursos, motivo pelo qual recomendamos, fortemente, que secretarias de saúde, e agentes de saúde em geral, se envolvam num processo de educação coletiva para a pandemia da Covid-19. Diferente de outras condições traumáticas, como incêndios, terremotos, tempestades, acidentes aéreos ou rodoviários de grande porte, que atingem uma parte significativa da população, a pandemia da Covid-19 é uma catástrofe que alcança o mundo. Um problema nosso e do mundo todo, e não um problema exclusivo de um ou de outrem.

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