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COVID-19 e a Saúde Mental (3): Comparação entre Países Asiáticos

Como temos afirmado alhures, a pandemia da Covid-19 tem impactado severamente a economia, a expectativa de vida, o ambiente escolástico e o bem-estar físico e mental das pessoas ao redor do mundo. A literatura científica que rapidamente emergiu ao longo da mesma, nos últimos quinze meses, tem sustentado dados que revelam serem as condições psiquiátricas que ora surgiram, bem como sua respec­tiva saúde mental, como um dos dez tópicos de pesquisa mais estudados nesse período. Sintomas como ansiedade, depressão, desordens de estresse pós-traumático e estresse psicológico foram registrados tanto na população em geral quanto nos profissionais de saúde. Neste contexto, considerando que a Ásia engloba vários países de renda média a enfrentarem grandes desafios econômicos e limitados recursos médicos para manter a saúde mental e física de sua população ao longo da pandemia, serviços médicos locais têm recomendado que se estabeleça uma agenda de saúde mental apropriada para toda a Ásia, de forma que seja possível avaliar as condições psicológicas e psiquiátricas dos asiáticos, de forma que estes possam responder de forma psicologicamente saudável às consequ­ências da Covid-19.
Para alcançar este propósito, Wang e colaboradores, em artigo publicado em 2021 na revista PLOS ONE (11 fev), empreenderam um estudo comparativo dos indicadores de saúde mental durante a pandemia na população geral de sete países asiáticos (China, Irã, Malásia, Paquistão, Filipinas, Tailândia e Vietnã). Nele, um total de 4.479 participantes responderam dois questionários cujas proprie­dades psicométricas foram validadas para tais países. O primeiro questionário usou a Escala do Impacto de Eventos Estressantes; o segundo, a Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse, usualmente aplicada para avaliar as condições de saúde mental dos asiáticos. Em adição, um questionário com características demográficas, sintomas físicos, utilização do sistema de saúde, história de contatos, conhecimento e preocupação, e medidas preventivas com relação à Covid-19 também foi utilizado.

Dentre os inúmeros resultados apresentados pelos autores, alguns merecem ser destacados breve­mente. Os três países no topo dos escores na Escala do Impacto de Eventos foram Tailândia, China e Irã, com médias respectivas de 42,35; 32,98; 30,42. Os três países com indicadores de estresse psicológico mais elevado foram Tailândia (21,94), Paquistão (14,2) e Filipinas (10,60). Os três países com escores de ansiedade mais elevados foram Tailândia (18,66), Paquistão (8,23) e Malásia (7,80). Já os três países com escores mais elevados de depressão foram Tailândia (19,74), Paquistão (11,33) e Filipinas (9, 72). Importante destacar que as diferenças nos escores de impacto do evento Covid-19 e os escores de Es­tresse, Ansiedade e Depressão entre os sete países asiáticos investigados foram todos estatisticamente significativos. Neste caso, o Vietnã teve os escores mais baixos de impacto do vírus (média de 17,39), de estresse (média de 3,80), de ansiedade (média de 2,10) e de depressão (média de 2,28). Análises estatísticas comparativas revelaram que os escores do Vietnã foram significativamente menores que aqueles dos outros países.

Cumpre destacar que as características demográficas associadas com menor impacto psicológico foram do sexo masculino, enquanto que participantes com menos de 30 anos e estudantes foram associa­dos com escores de impacto psicológico mais elevados. Participantes que tinham crianças foram associa­dos com menor estresse, ansiedade e depressão. Por sua vez, participantes com educação mais elevada, solteiros e separados foram associados com mais elevados estresse, ansiedade e depressão. Conviver com seis ou mais pessoas e com aqueles que estavam empregados foi associado com menor ansiedade e de­pressão. Também, os três sintomas físicos mais associados com as reações adversas à saúde mental foram dor de cabeça, tosse e rouquidão.
Tomados juntos, os resultados desse estudo multinacional apresentou várias implicações para as políticas públicas de saúde mental. A primeira delas é que as autoridades sanitárias de qualquer país, e isto vale para o Brasil, devem oferecer intervenções psico­lógicas para a população em geral que está em risco mais elevado de desenvolver indicadores de saúde mental adversos, incluindo as mulheres, pessoas mais jovens que 30 anos e solteiros e separados. A segunda delas é que os governos devem oferecer políticas públi­cas que visem salvaguardar o emprego e a economia para proteger a saúde mental de seus cidadãos. A terceira delas é que governos devem fornecer uma agenda regular fixa e sem ambiguidades sobre a eficácia dos métodos de tratamento e das vacinas contra a Covid-19.

Enquanto houver incertezas sobre as intervenções médicas, as medidas preventivas comportamen­tais, como eficiente e confiável comunicação de risco, práticas higiênicas internacionalmente recomenda­das, uso apropriado de máscara facial e distanciamento físico e social devem ser cultivados por todos.

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